Fome na Coreia do Norte: a rara admissão do líder Kim Jong-un sobre 'situação tensa' no país
Ele disse ao partido que pandemia do coronavírus e uma série de tempestades resultaram em colheitas ruins.
O líder norte-coreano Kim Jong-un reconheceu formalmente que seu país enfrenta escassez de alimentos. Em uma reunião de líderes do seu partido, Kim disse: "A situação alimentar das pessoas está ficando tensa".
Ele disse que o setor agrícola não conseguiu cumprir suas metas de grãos devido aos tufões no ano passado, que causaram inundações. Há relatos de que os preços dos alimentos dispararam, com a rede de notícias NK News afirmando que um quilo de banana chega a custar US$ 45 (R$ 225).
A Coreia do Norte fechou suas fronteiras para conter a disseminação da covid-19.
Como resultado, o comércio com a China despencou. A Coreia do Norte depende da China para alimentos, fertilizantes e combustível.
A Coreia do Norte também enfrenta sanções internacionais impostas por causa de seus programas nucleares.
O líder autoritário falou sobre a situação alimentar no comitê central do Partido dos Trabalhadores, o único partido governante do país, que começou esta semana na capital Pyongyang.
Durante a reunião, Kim disse que a produção industrial nacional cresceu cerca de 25% em relação ao mesmo período do ano passado.
Acredita-se que as autoridades discutiriam as relações com os EUA e a Coreia do Sul durante o evento, mas nenhum detalhe foi divulgado ainda.
Em abril, Kim fez uma rara admissão de privações iminentes, conclamando os membros do partido a "travar outra 'Marcha Árdua', mais difícil, a fim de aliviar o nosso povo da dificuldade, mesmo que um pouco".
"Marcha Árdua" é um termo usado pelas autoridades da Coreia do Norte para se referir à luta do país durante a fome dos anos 1990, quando a queda da União Soviética deixou a Coreia do Norte sem importante ajuda externa.
O número total de norte-coreanos que morreram de fome na época não é conhecido, mas as estimativas chegam a 3 milhões.
Análise de Laura Bicker
Correspondente da BBC News
É muito incomum para Kim Jong-un reconhecer publicamente a escassez de alimentos. Mas este é um líder norte-coreano que já admitiu que seu plano econômico falhou.
O problema para é que, ao assumir o cargo de seu pai, ele havia prometido ao povo um futuro mais próspero. Ele havia dito que os norte-coreanos teriam carne em suas mesas e acesso à eletricidade. Isso não aconteceu. Agora ele está tendo que preparar a população para um trabalho mais árduo.
Ele está tentando vincular isso à pandemia global, e a imprensa estatal informou que ele disse às autoridades do partido que a situação em todo o mundo está ficando "cada vez pior". Com tão pouco acesso a informações externas, ele pode pintar um quadro de como as coisas estão ruins em todos os lugares — não apenas na isolada Coreia do Norte. Ele também disse que os esforços para derrotar a covid-19 serão uma "guerra prolongada". Isso sinaliza que o fechamento de fronteiras não acabará tão cedo.
Essa é a preocupação de muitas organizações de ajuda. A fronteira fechada impede a passagem de alimentos e remédios. A maioria das ONGs teve que deixar o país sem conseguir fazer com que os suprimentos entrassem.
Pyongyang sempre pediu "autossuficiência". O país se isolou e é improvável que peça ajuda. Se o governo continuar rejeitando todas as ofertas de assistência internacional, como sempre fez, serão as pessoas que pagarão por isso.