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Forças russas deixam Chernobyl e levantam temor sobre usina

Segundo comunicado da estatal de energia, as tropas estariam em retirada para Belarus por medo dos níveis de radiação da usina nuclear

31 mar 2022 - 18h20
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As forças da Rússia declararam que estavam deixando a usina nuclear de Chernobyl e a cidade vizinha de Slavutich, de acordo com um comunicado da empresa estatal de energia da Ucrânia divulgado nesta quinta-feira, 31. A empresa sugeriu que o motivo da partida seria o temor entre os soldados com a radiação do local.

A empresa estatal Energoatom disse que seus trabalhadores que ainda permanecem na usina haviam sinalizado mais cedo que as forças russas estavam planejando deixar o território. "As informações confirmam que os ocupantes, que tomaram a usina nuclear de Chernobyl e outras instalações na zona de exclusão, partiram em direção à fronteira ucraniana com a República de Belarus", afirmou em comunicado.

Chernobyl foi tomada por tropas russas em 25 de fevereiro
Chernobyl foi tomada por tropas russas em 25 de fevereiro
Foto: EPA / Ansa - Brasil

Segundo a companhia, um pequeno número de soldados russos permaneceu em Chernobyl, mas não especificou quantos. As forças russas também se retiraram da cidade vizinha de Slavutich, onde vivem os trabalhadores da usina.

Em um post online separado, a Energoatom disse que o lado russo concordou formalmente em devolver à Ucrânia a responsabilidade de proteger Chernobyl. A empresa compartilhou um documento digitalizado que estabelece tal acordo e assinado por indivíduos identificados como um membro sênior da equipe de Chernobyl, o oficial militar russo encarregado de guardar a usina e outros.

A imprensa não pôde verificar imediatamente a autenticidade do documento. Não houve comentários imediatos das autoridades russas, que negaram que suas forças tenham colocado em risco instalações nucleares na Ucrânia.

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) também disse que não pôde confirmar a informação da retirada, mas afirmou, em nota, que "está em estreita consulta com as autoridades ucranianas sobre o envio da primeira missão de assistência e apoio da Agência à central nuclear de Chernobyl nos próximos dias".

Estrutura que cobre o reator 4 da usina nuclear de Chernobyl, palco do maior desastre nuclear da história Foto: Gleb Garanich/Reuters

Comprometimento da usina

A Energoatom disse que também confirmou informações de que tropas russas construíram fortificações, incluindo trincheiras na chamada Floresta Vermelha - a parte mais contaminada radioativamente da zona ao redor de Chernobyl.

Como resultado das preocupações com a radiação, "quase um tumulto começou a se formar entre os soldados", disse o comunicado, sugerindo que esse foi o motivo de sua partida inesperada.

Na mesma nota desta quarta, a AIEA disse que "não conseguiu confirmar relatos de forças russas recebendo altas doses de radiação enquanto estavam na Zona de Exclusão de Chernobyl. A AIEA está buscando mais informações para fornecer uma avaliação independente da situação."

A Ucrânia expressou repetidamente preocupações de segurança sobre Chernobyl e exigiu a retirada das tropas russas, cuja presença impediu a rotatividade de turnos dos trabalhadores da usina por um tempo.

No início desta semana, trabalhadores do local disseram à agência Reuters que soldados russos dirigiram, sem proteção contra radiação, pela Floresta Vermelha, levantando nuvens de poeira radioativa. Solicitado a comentar, o Ministério da Defesa da Rússia não respondeu.

Mais cedo nesta quinta-feira, o chefe da Energoatom pediu ao órgão de vigilância nuclear da ONU que ajude a garantir que as autoridades nucleares russas não interfiram na operação de Chernobyl e da usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa, que também é ocupada por soldados russos.

Retirada de tropas

A declaração corrobora um relatório do Pentágono publicado na noite de quarta-feira, 30, de que tropas russas estavam se retirando da área ao redor da extinta usina no norte da Ucrânia, local do pior desastre nuclear da história e uma área que as forças russas ocupavam há semanas.

As tropas tomaram a usina perto da fronteira com Belarus - onde os trabalhadores protegem o local da radiação desde 1986 - no início da invasão. Por um tempo, os soldados impediram que a equipe responsável por manter a usina segura de deixar seus postos. Isso criou temores mais amplos de que a usina, que precisa de monitoramento constante, pudesse ser comprometida.

A AIEA havia alertado na semana passada que os recentes bombardeios na área poderiam comprometer a capacidade dos trabalhadores de manter o local seguro, já que os funcionários foram forçados a trabalhar em turnos de 24 horas por dias a fio.

O chefe da AIEA chegou à Ucrânia na terça-feira para conversar com funcionários do governo sobre a segurança das instalações nucleares do país, que têm sido alvos das forças russas.

Em comunicado na quarta-feira, a Agência Internacional de Energia Atômica, um braço das Nações Unidas que estabelece padrões de segurança para os reatores nucleares do mundo, disse que não há rotatividade de funcionários na usina desde 21 de março.

Monitores internacionais também expressaram preocupação com a segurança de uma usina nuclear no sul da Ucrânia, onde combates próximos causaram um incêndio no início de março.

Estadão
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