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França confirma morte de belga suspeito de comandar ataques de Paris

19 nov 2015 - 12h48
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Abaaoud é um dos principais suspeitos de ter orquestrado ataques em Paris
Abaaoud é um dos principais suspeitos de ter orquestrado ataques em Paris
Foto: Divulgação/BBC Brasil / BBC News Brasil

O suposto responsável pelo planejamento dos ataques da última sexta-feira em Paris, Adbdelhamid Abaaoud, foi identificado como um dos mortos na operação de quarta-feira da polícia francesa na cidade Saint-Dennis, ao norte da capital francesa, segundo autoridades.

O corpo dele foi encontrado perfurado por balas e fragmentos no apartamento onde ocorreu o cerco da polícia. O belga de 28 anos foi identificado pelas impressões digitais.

Oito pessoas foram presas e pelo menos duas morreram na operação.

Policiais fortemente armados invadiram o prédio em Saint-Dennis depois de receber a informação que Abaaoud estaria em Paris - inicialmente, pensava-se que ele estivesse no exterior.

Uma mulher que estava no apartamento (e que a imprensa francesa afirma ser a prima de Abaaoud) explodiu o cinto com explosivos que usava durante o cerco e morreu.

O gabinete da Promotoria francesa, que divulgou a informação da morte do suspeito, afirmou que ainda não se sabe se Abaaoud também explodiu um artefato semelhante ou não.

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As autoridades francesas ainda estão procurando por Salah Abdeslam, que teria viajado para a Bélgica depois de perpetrar os ataques da sexta-feira.

O correspondente da BBC em Paris Hugh Schofield afirmou que a identificação de Abaaoud levantou questões graves sobre os serviços de segurança da França.

Abaaoud era um dos mais procurados na França e Bélgica e, mesmo assim, conseguiu viajar da Síria para Paris sem ser detectado.

Pelo menos 129 pessoas morreram e outras 350 ficaram feridas nos ataques realizados em vários locais de Paris na sexta-feira passada.

O ministro do Interior francês, Bernard Cazeneuve, disse em entrevista coletiva nesta quarta que Abaaoud havia viajado à Síria em 2014 e, desde então, não havia informações de que ele houvesse regressado à França.

Agora, as autoridades francesas acreditam que ele esteja por trás de "quatro ou seis" atentados frustrados nos últimos meses.

Confissão

Em agosto passado, um jihadista detido na França ao voltar da Síria confessava ao juiz Marc Trévidic que havia sido preparado para cometer um atentado durante um show de rock e identificou o idealizador do projeto: o belga Abdelhamid Abaaoud, agora apontado suspeito de ser o mentor dos atentados.

Havia indícios que ligavam Abaaoud aos autores do múltiplo ataque.

Agora, 24 horas depois da operação da polícia em Saint-Dennis, as autoridades confirmaram sua morte.

Segundo as autoridades, a célula terrorista desmanchada na operação ao norte de Paris estava "pronta para agir".

Inicialmente, o próprio promotor francês, François Molins, desmentiu a possibilidade de o belga ter sido morto. Abaaoud só foi identificado por suas digitais, já que seu corpo ficara irreconhecível após ser crivado de balas.

Originário do notório bairro de Molenbeek, em Bruxelas, que serviços de inteligência em toda a Europa afirma ser um terreno fértil para o extremismo, Abaaoud seria amigo de infância de Salah Abdeslam, procurado internacionalmente por suspeita de participar dos ataques em Paris e irmão de Brahim, um dos homens-bomba.

Segundo a imprensa belga, Brahim e Abaaoud foram julgados juntos em 2010 e 2011 por roubo e tráfico de drogas em Bruxelas.

O nome de Abaaoud aparece em todas as investigações de atentados planejados contra a França ou a Bélgica nos últimos dois anos e é o ponto comum entre os vários terroristas que viveram ou passaram por Molenbeek.

Investigadores belgas desconfiam que o jihadista teve contatos com Ayoub El-Khazzani, suspeito de tentar cometer um atentado em um trem que ligava Amsterdã a Paris, em agosto, e com Mehdi Nemmouche, autor do atentado contra o Museu Judaico de Bruxelas, em maio de 2014.

Ambos estavam hospedados em Molenbeek na época.

Além disso, a polícia francesa suspeita que Abaaoud estivesse por trás do projeto de atentado contra uma igreja de Villejuif (França), encarregado ao argelino Sid Ahmed Ghlam, em abril passado, detido pelo assassinato uma mulher antes de concretizar o plano terrorista.

Carreira jihadista

Abdelhamid Abaaoud era filho de imigrantes muçulmanos de Molenbeek, descrito pelos amigos da escola como brincalhão, pacífico, religioso, mas não radical.

Seu pai, Omar, um marroquino instalado em Bruxelas há 40 anos, se orgulha de ter chegado ao país como mineiro e conseguido comprar uma loja de roupas, onde Abaaoud trabalhava a seu lado.

Como a maioria dos pais de combatentes estrangeiros, Omar diz não saber explicar como o filho pôde se radicalizar tão rapidamente.

Abaaoud adotou nome religioso de "Abou Omar Soussi" e se juntou ao EI em 2013
Abaaoud adotou nome religioso de "Abou Omar Soussi" e se juntou ao EI em 2013
Foto: Divulgação/BBC Brasil / BBC News Brasil

Não há registros de que o jovem tivesse pertencido ao grupo extremista Sharia4Belgium, considerado principal recrutador de militantes de grupos extremistas na Bélgica.

Ainda assim, Abaaoud adotou o nome religioso de Abou Omar Soussi e se juntou aos combatentes radicais na Síria no começo de 2013.

Seu nome ficou conhecido na Bélgica um ano mais tarde, quando o pai revelou à imprensa que Abaaoud teria doutrinado e levado à Síria o irmão de 13 anos, Younes.

Pouco depois, o jihadista foi identificado em uma série de vídeos macabros publicados em redes sociais, nos quais aparece sorridente ao volante de uma caminhonete que reboca cadáveres mutilados de civis assassinados pelo grupo autodenominado "Estado Islâmico" (EI).

Abaaoud era, na época, um dos combatentes francófonos mais ativos nas redes sociais.

Em sua conta no Facebook, hoje fechada, ele publicava ameaças de atentados contra a França e a Bélgica, incitava seus conterrâneos a unir-se a seu grupo na Síria ou a "passar à ação" em seus próprios países, caso não conseguissem emigrar.

Ascensão

Em um ano, o jihadista de Molenbeek teria subido na hierarquia do "Estado Islâmico"; acredita-se que atualmente ele fosse um dos membros estrangeiros mais importantes do EI.

Seu nome voltaria a aparecer nos noticiários em janeiro passado, citado como cérebro de uma célula terrorista desmembrada na cidade belga de Verviers que estava ponta para cometer um atentado de grandes proporções contra as forças de segurança do país.

O episódio ocorreu uma semana depois dos atentados contra o jornal satírico Charlie Hebdo e um supermercado judeu em Paris.

Operação policial tomou conta de Molenbeek nesta segunda-feira para tentar encontrar suspeitos de orquestrar atentados
Operação policial tomou conta de Molenbeek nesta segunda-feira para tentar encontrar suspeitos de orquestrar atentados
Foto: Divulgação/BBC Brasil / BBC News Brasil

Na ocasião, dois suspeitos foram mortos pela polícia belga. Abaaoud apareceria meses mais tarde provocando as autoridades belgas em uma entrevista publicada pela revista-propaganda do EI, Dabiq.

No texto, cuja autenticidade não pode ser comprovada, o terrorista afirmava ter entrado clandestinamente na Bélgica para preparar o atentado frustrado e conseguido sair sem ser detectado antes da operação policial.

"Tenho vergonha por Abdelhamid. Ele arruinou nossas vidas. Nós que devemos tudo à Bélgica", disse o pai do extremista em uma entrevista concedida ao jornal belga Het Laatste Nieuws na época.

As autoridades belgas acreditam que Abaaoud tivesse se escondido na Grécia ou na Turquia.

Em julho passado ele foi condenado à revelia a 20 anos de prisão em um dos megaprocessos realizados na Bélgica por recrutamento de jihadistas.

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