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'Fura-filas' da vacina: o escândalo que forçou demissão do ministro da Saúde da Argentina durante pandemia de covid-19

Polêmica estourou depois que um jornalista ligado ao partido no poder revelou que havia sido vacinado após solicitar imunização diretamente ao titular da pasta.

20 fev 2021 - 09h10
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Ministro da Saúde da Argentina, Ginés González García, foi demitido do cargo
Ministro da Saúde da Argentina, Ginés González García, foi demitido do cargo
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Primeiro foi no Peru. Agora na Argentina.

A administração discricionária de vacinas contra covid-19 voltou a causar polêmica na América Latina.

Na sexta-feira, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, pediu ao Ministro da Saúde, Ginés González García, sua renúncia após a eclosão de um escândalo quando se soube que autoridades e personalidades próximas ao governo puderam ser vacinadas sem seguir os protocolos exigidos da população em geral, segundo a imprensa local.

Na tarde do mesmo dia, González apresentou seu pedido de demissão, o que foi aceito por Fernández, que nomeou Carla Vizzotti como titular da pasta.

A polêmica começou depois que o jornalista Horacio Verbitsky, considerado apoiador do partido no poder, revelou que foi vacinado contra o coronavírus após fazer um pedido direto a González.

"Liguei para o meu velho amigo Gines González García, que conhecia muito antes de ele ser ministro, e ele me disse que eu deveria ir ao Hospital Posadas. Quando estava a caminho, recebi uma mensagem de sua secretária, que me disse que uma equipe do hospital estava indo ao Ministério e que deveria ir ao Ministério para receber a vacina", disse Verbitsky, 79, à rádio El Uncover nesta sexta-feira (19).

Após essa revelação, a imprensa argentina passou a divulgar informações segundo as quais outras personalidades próximas ao partido no poder furaram a fila e também receberam a vacina, em caráter preferencial.

O jornal La Nación informou que foi realizada uma operação nas dependências do Ministério da Saúde para vacinar funcionários, parlamentares, funcionários públicos e outras personalidades.

Esse, porém, não seria o único motivo de polêmica porque, segundo o mesmo jornal, o Ministério da Saúde reservou pelo menos 3 mil vacinas para imunizar seus funcionários, embora não fossem considerados uma população de risco.

Na semana passada, um escândalo semelhante estourou no Peru, que causou a renúncia de várias autoridades depois que se soube que cerca de 500 pessoas, incluindo o ex-presidente Martín Vizcarra, ministros e outras personalidades, haviam recebido o imunizante em condições preferenciais.

No Brasil, denúncias de casos de fura-fila também foram relatadas.

A Ouvidoria Nacional do Ministério Público disse que recebeu mais de mil denúncias sobre casos de fura-fila na vacinação contra covid-19 em todo o país. São pessoas que foram imunizadas e não estavam na categoria de prioritários do programa de vacinação.

Após receber as denúncias, as reclamações são encaminhadas para uma unidade do Ministério Público para que as providências legais sejam tomadas.

Na província de Buenos Aires esta semana começou a vacinação dos maiores de 80 anos
Na província de Buenos Aires esta semana começou a vacinação dos maiores de 80 anos
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Quem pode se vacinar

A vacinação na Argentina começou há um mês e meio, mas até esta semana estava formalmente reservada para os profissionais de saúde do país.

Só na quinta-feira (18), a província de Buenos Aires iniciou a operação de vacinação de maiores de 70 anos.

A Argentina tem cerca de 45 milhões de habitantes, dos quais cerca de 7,2 milhões têm mais de 60 anos.

Até o momento, o país recebeu 1,22 milhão de doses da vacina russa Sputnik V e 580 mil doses da vacina produzida pelo Instituto Serum, da Índia, graças à transferência de tecnologia da AstraZeneca e da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Para se vacinar na província de Buenos Aires, os cidadãos devem primeiro se cadastrar em um site e, por enquanto, o processo está aberto apenas para maiores de 80 anos .

O país sul-americano registrou mais de 2 milhões de infecções confirmadas e 51 mil mortes, segundo dados da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.

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