G20: os 4 focos de tensão global que serão assunto na cúpula em Buenos Aires
A guerra comercial entre China e EUA, a crise entre Ucrânia e Rússia e a posição de Jair Bolsonaro frente ao Acordo de Paris estão entre as situações que poderão marcar um dos encontros globais mais importantes dos últimos tempos.
A cúpula do G-20 que começa nesta sexta-feira em Buenos Aires se parece com o encontro de uma família que se reúne depois de um tempo para celebrar o Natal: há vontade e expectativa, mas não faltam tensões.
E aparentemente haverá muitas tensões na reunião de líderes dos 19 países mais industrializados do planeta, além da União Europeia.
Poucas horas antes de pousar na capital argentina, o presidente dos EUA, Donald Trump, cancelou o encontro que teria com o presidente russo, Vladimir Putin, devido à escalada do conflito russo-ucraniano no mar Negro.
Mas Trump não só terá de lidar com isso, como também terá de dividir o espaço com o líder da China, Xi Jinping, com quem trava uma guerra comercial declarada há alguns meses.
Quanto ao Brasil, talvez ouça cobranças sobre a postura do presidente eleito, Jair Bolsonaro, que anunciou a possibilidade de que o país deixe o Acordo de Paris - o que pode criar entraves à negociação do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul.
Líderes da Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Coreia do Sul, Turquia, Reino Unido e EUA estão na Argentina.
Tudo isso numa Buenos Aires blindada pelo céu e pela terra, com as forças de segurança em alerta máximo enquanto milhares de pessoas protestam contra a cúpula em áreas distantes das reservadas para o encontro.
A BBC lista a seguir quais os pontos de maior tensão na reunião global.
1. Trump-Putin
"Decidi que será melhor para todas as partes cancelar minha reunião prevista com Putin", disse o presidente dos EUA pouco antes de viajar para o encontro de líderes em Buenos Aires.
O americano indicou que o cancelamento se devia ao fato de que as embarcações ucranianas tomadas pela Rússia no mar Negro não haviam sido devolvidas.
A suspensão da minicúpula também foi influenciada pela decisão do ex-advogado de Trump Michael Cohen declarar-se culpado de ter mentido ao Congresso dos EUA sobre uma propriedade do líder americano na Rússia, erguida durante a campanha presidencial de 2016.
O portavoz do governo russo, Dmitry Peskov, indicou que Moscou lamentou a decisão.
Mas a primeira reação ao cancelamento foi: "Se é assim, o presidente (russo) terá um par de horas adicionais no programa para reuniões úteis à margem da cúpula".
A chanceler alemã, Angela Merkel, culpou inteiramente a Rússia pela crise e disse que trataria do tema com Putin em Buenos Aires.
2. China e Estados Unidos
O presidente americano não abandonou sua retórica incendiária sobre a guerra comercial que trava especialmente com a China.
E os dois países são protagonistas nesta reunião em Buenos Aires.
Trump disse recentemente que os impostos vigentes sobre cerca de US$ 200 bilhões de importações chinesas serão aumentados, conforme o planejado.
Ele também ameaçou aplicar tarifas sobre outros US$ 267 bilhões de produtos procedentes da China.
Antes da viagem, o presidente disse a repórteres que, embora a Chia busque um acordo, "eu não sei se quero fazê-lo. Gosto do que estamos fazendo agora".
Enquanto isso, o ministro de Relações Exteriores da China, Geng Zhuang, disse ter esperanças em negociar com os EUA na cúpula.
"Esperamos que os EUA possam mostrar uma cara sincera e se reunir conosco, para promover um acordo que ambos os países possam aceitar", disse o chanceler à agência Reuters.
A guerra comercial entre os dois países está no seguinte pé: os EUA aplicaram tarifas a um total de US$ 200 bilhões de produtos chineses desde julho, e a China adotou represálias impondo taxas sobre US$ 110 bilhões de produtos americanos.
"Acho que o cenário mais plausível é que o presidente chinês, Xi Jiping, não ofereça muitas concessões a Trump, portanto não haverá muitos avanços na reunião do G-20", disse à BBC Julian Evans-Pritchard, analista econômico da Capital Economics.
4. O que pode esperar o príncipe Mohammed bin Salman?
O príncipe herdeiro do trono saudita está em um turbilhão desde que se soube da morte do jornalista saudita Jamal Khashoggi dentro do consulado do país árabe em Istambul, Turquia.
Por isso, a presença dele na Argentina gerou incômodo. Vários organismos internacionais, entre os quais a CIA (agência de inteligência dos EUA), anunciaram que foi ele quem ordenou o crime.
Organizações de direitos humanos na Argentina pediram à Justiça local que conduza um processo contra o príncipe por "crimes de lesa humanidade" no Iêmen e na Turquia.
O Canadá deciciu nesta semana sancionar 17 funcionários sauditas em reação à morte de Khashoggi.
A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, anunciou que se reuniria com Bin Salmad em Buenos Aires e lhe daria uma mensagem "muito clara".
"Queremos uma investigação transparente sobre o que ocorreu e que os responsávels paguem por esse ato", afirmou.
O governo da Turquia, por sua vez, não confirmou se se reunirá com o príncipe.
4. Mudanças climáticas e Brasil
As discussões sobre o aquecimento global não poderiam ficar de fora desta reunião.
O presidente da França, Emmanuel Macron, disse que seu país rechaçaria um possível acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela) caso o presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, retire a nação do Acordo de Paris.
Bolsonaro já disse que o acordo não era favorável ao Brasil e impôs condições para permanecer nele.
Em setembro, Bolsonaro disse que o acordo põe em risco a soberania nacional. Ele afirmou que, pelo acordo, o Brasil perderia ingerência sobre 136 milhões de hectares - o tratado, porém, não apresenta qualquer detalhamento sobre o ponto citado pelo presidente eleito.
"Eu saio do Acordo de Paris se isso continuar sendo objeto. Se nossa parte for para entregar 136 milhões de hectares da Amazônia, estou fora sim".
O Acordo de Paris foi aprovado em 2015 e tem como meta reduzir a emissão de gases do efeito estufa para combater as mudanças climáticas. Em junho, os EUA deixaram o acordo por decisão de Donald Trump.