'Gaza se tornou maior cemitério de crianças no mundo', diz Lula
Presidente discursou em cúpula do Brics por videoconferência
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta-feira (23), em seu discurso na cúpula de líderes do Brics, que a Faixa de Gaza se tornou o "o maior cemitério de crianças e mulheres do mundo". O petista viajaria para Rússia, mas cancelou de última hora após ter sofrido um traumatismo craniano em função de uma queda no banheiro. Ele participou do evento por videoconferência.
Em seu pronunciamento, o mandatário brasileiro disse que a "insensatez" da guerra no Oriente Médio "agora se alastra para a Cisjordânia e para o Líbano".
"Como disse o presidente [da Turquia] Erdogan na Assembleia-Geral da ONU, Gaza se tornou 'o maior cemitério de crianças e mulheres do mundo'", afirmou Lula em videoconferência.
"Evitar uma escalada e iniciar negociações de paz também é crucial no conflito entre Ucrânia e Rússia. No momento em que enfrentamos duas guerras com potencial de se tornarem globais, é fundamental resgatar nossa capacidade de trabalhar juntos em prol de objetivos comuns", acrescentou.
Críticas e moeda alternativa
No discurso, Lula ainda culpou os países ricos pela crise climática no planeta, além de defender o uso de moedas alternativas ao dólar para transações entre membros do grupo.
"O Brics é ator incontornável no enfrentamento da mudança do clima. Não há dúvidas de que a maior responsabilidade recai sobre os países ricos, cujo histórico de emissões culminou na crise climática que nos aflige hoje", disse o petista.
"É preciso ir além dos US$ 100 bilhões anuais prometidos [pelos países ricos] e não cumpridos e fortalecer medidas de monitoramento dos compromissos assumidos. Os dados da ciência exprimem um sentido de urgência sem precedentes", acrescentou.
No entanto, segundo o presidente, também "cabe aos países emergentes fazer sua parte para limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC" em relação aos níveis pré-industriais. "Na COP30, em Belém, vamos mostrar que é possível conciliar maior ambição em nossas contribuições com o princípio de responsabilidades comuns, mas diferenciadas", destacou.
Durante o discurso, Lula também apontou que o Brics congrega mais de 3,6 bilhões de pessoas, "que integram um mercado dinâmico e com elevada mobilidade social", e representa 36% do produto interno bruto (PIB) global por paridade do poder de compra.
"Entretanto, os fluxos financeiros continuam seguindo para nações ricas. É um Plano Marshall às avessas, em que as economias emergentes financiam o mundo desenvolvido. As iniciativas e instituições do Brics rompem com essa lógica", acrescentou.
Nesse sentido, o presidente disse ter chegado a hora de "avançar na criação de meios de pagamento alternativos para transações" entre os membros do grupo, que também inclui África do Sul, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Índia, Irã e Rússia "Não se trata de substituir nossas moedas. Essa discussão precisa ser enfrentada com seriedade, cautela e solidez técnica, mas não pode ser mais adiada", salientou o petista.