Geleira palco de tragédia na Itália pode sumir antes de 2040
Desabamento no glaciar da Marmolada deixou ao menos 10 mortos
Especialistas em geleiras na Itália afirmam que o glaciar da Marmolada, palco de uma tragédia com 10 mortos no último domingo (3), pode desaparecer antes de 2040 se mantiver o ritmo atual de redução.
Apelida de "rainha das Dolomitas", a Marmolada é a montanha de maior altitude nessa cordilheira do extremo-norte italiano, com 3.343 metros, e vem sendo severamente afetada pela crise climática.
No último domingo, o desprendimento de uma enorme porção de sua geleira pegou alpinistas desprevenidos e deixou pelo menos 10 mortos e uma pessoa desaparecida.
A tragédia reacendeu o alerta sobre os efeitos da crise climática nos glaciares italianos, que há décadas apresentam drásticas reduções em seus volumes. Desabamentos assim não são incomuns durante o verão no hemisfério norte, mas estão acontecendo em altitudes cada vez mais elevadas e cada vez mais cedo.
De acordo com previsões de um grupo de trabalho formado por especialistas das universidades de Pádua e Parma e do Instituto Nacional de Oceanografia e Geofísica Experimental, que há 20 anos monitoram a geleira da Marmolada, é "muito provável" que o glaciar desapareça antes de 2040 caso o cenário atual se mantenha.
Ainda que o processo de redução da massa da geleira se desacelere, é "improvável" que ela consiga se conservar além de 2060. "Apenas poucos anos atrás, os modelos previam uma vida do glaciar por mais 100 ou 200 anos, então é evidente como os modelos precisam ser constantemente atualizados e melhorados", diz o grupo.
Ainda de acordo com os pesquisadores, a geleira teve uma redução de mais de 70% na superfície e de mais de 90% no volume ao longo dos últimos 100 anos. "A retração mostrou uma progressiva aceleração", acrescenta a força-tarefa.
Entre 1902 e 1906, a velocidade média de recuo foi de 0,5 metro por ano, número que passou para cinco metros por ano entre 1925 e 1948, 8,4 metros por ano entre 1951 e 1966 e 10,3 metros por ano a partir de 1971.
Uma das principais causas desse fenômeno é o aquecimento global: a temperatura mínima média durante o inverno na Marmolada aumentou cerca de 1,5ºC nos últimos 35 anos, fazendo crescer a pressão sobre a geleira.
De acordo com o grupo de trabalho, a única maneira de reverter esse cenário é chegar a um acordo global que permita a redução das emissões de gases do efeito estufa para mitigar a crise climática.