'Genocídio cultural': a foto que revela como Talebã queima instrumentos para que jovens 'não se desvirtuem'
Depois dos salões de beleza, o novo alvo do Talebã é a música — que o grupo radical vê como causadora de 'corrupção moral'.
O grupo extremista Talebã está queimando instrumentos musicais no Afeganistão, alegando que a música "causa corrupção moral".
Itens musicais que custam milhares de dólares foram queimados em uma fogueira no sábado (29/7) na província de Herat.
Desde que assumiu o poder no Afeganistão em 2021, o Talebã impôs inúmeras restrições, incluindo tocar música em público.
Ahmad Sarmast, fundador do Instituto Nacional de Música do Afeganistão, afirmou que a destruição dos equipamentos é um "genocídio cultural e vandalismo musical".
"Ao povo do Afeganistão foi negada a liberdade artística", disse Sarmast, que agora mora em Portugal. "A queima de instrumentos musicais em Herat é apenas um pequeno exemplo do genocídio cultural que está ocorrendo no Afeganistão sob a liderança do Talebã."
Entre os itens queimados em Herat estava uma guitarra, um harmônio e uma espécie de tambor, além de amplificadores e alto-falantes, conforme é possível ver em imagens que circularam na internet.
Vários dos equipamentos foram apreendidos em espaços onde são realizados casamentos.
Um funcionário do Ministério de Vícios e Virtudes do Afeganistão disse que tocar música é algo que "desvirtua os jovens".
O Talebã havia feito outra fogueira de instrumentos em 19 de julho. O governo postou fotos do incêndio no Twitter, mas não disse em qual lugar do país aquilo tinha ocorrido.
De meados da década de 1990 até 2001, o primeiro governo do Talebã baniu todas as formas de música de encontros sociais, da televisão e do rádio no Afeganistão.
A cena musical floresceu nas duas décadas seguintes, mas o retorno do Talebã ao poder em agosto de 2021 fez muitos músicos fugirem do país.
Há relatos de que músicos que permaneceram no país foram espancados e discriminados.
Nos últimos dois anos, o Talebã impôs severas restrições à população sob sua rígida interpretação da lei islâmica.
As mulheres são as mais afetadas por essas medidas. O Talebã decretou que elas devem cobrir todo o corpo e apenas os olhos podem ser vistos.
Além disso, elas devem estar acompanhadas por um parente do sexo masculino se viajarem mais de 72 km.
Adolescentes e mulheres foram proibidas de frequentar escolas, universidades, academias de ginástica e parques.
Em meados de julho, salões de beleza foram obrigados a fechar em todo o país, por serem considerados locais não islâmicos.