Governo estuda plano para reestatizar Alitalia
Estatal ferroviária pode entrar no capital da companhia aérea
O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, revelou nesta sexta-feira (12) que o governo estuda um projeto para reestatizar a Alitalia, por meio da empresa pública Ferrovie dello Stato, que administra o transporte ferroviário no país.
Durante uma visita a Adis Abeba, na Etiópia, Conte disse que o dossiê está nas mãos do ministro do Trabalho e do Desenvolvimento Econômico Luigi Di Maio (M5S), também vice-premier italiano.
"Devemos fornecer soluções e criar sinergias com a Ferrovie dello Stato, porque o transporte aéreo e o ferroviário não podem estar separados. Estamos analisando uma newco [uma nova companhia resultante da fusão] e esperamos realizá-la em breve", explicou.
Se confirmado, o projeto representaria uma reviravolta na situação da Alitalia, que está sob intervenção do governo italiano desde maio passado, quando ficou à beira da falência devido a uma grave crise de liquidez.
O plano da gestão anterior, do então primeiro-ministro Paolo Gentiloni, era recuperar a companhia aérea e vendê-la - Lufthansa e EasyJet chegaram a fazer propostas -, mas o processo foi paralisado após a troca de governo.
Os comissários extraordinários que administram a empresa atualmente têm até 31 de outubro para concluir uma eventual venda e até 15 de dezembro para restituir um empréstimo-ponte de 900 milhões de euros feito pelo governo italiano.
Estatização
Ex-companhia aérea de bandeira, ou seja, controlada pelo Estado, a Alitalia foi privatizada e hoje tem 51% de suas ações nas mãos da holding Compagnia Aerea Italiana (CAI) e 49% com o grupo árabe Etihad Airways.
A segunda maior acionista da CAI é a estatal de correios Poste Italiane (com 19,48% de participação), que entrou no capital da Alitalia por causa de outra crise de liquidez, em 2014. Já a Ferrovie dello Stato é controlada totalmente pelo Ministério de Economia e Finanças.
"A entrada da Ferrovie permitiria, por exemplo, criar um bilhete único trem-avião. Um turista, quando chegasse na Itália, poderia se deslocar por todo o país", disse Conte. Ainda não se sabe, no entanto, qual seria a participação da estatal ferroviária em uma futura "newco" - fala-se em 15% a 20%.
Di Maio cogitou nesta sexta-feira a participação de "parceiros industriais internacionais", mas sem citar nomes. Outra empresa do governo, a instituição financeira Cassa Depositi e Prestiti (CDP), poderia ajudar a Alitalia na renovação da frota.
O ministro do Interior e também vice-premier Matteo Salvini (Liga), por sua vez, falou claramente em transformar a empresa em uma "companhia de bandeira". "Para a Itália, o turismo cultural, comercial e de negócios é essencial, por isso é preciso ter uma companhia de bandeira a serviço do país", declarou.
"Nada de liquidação a companhias estrangeiras, nada de desperdícios como no passado", acrescentou. O único que destoou foi o ministro de Finanças Giovanni Tria, em última instância o responsável pela Ferrovie dello Stato. "Acho que os assuntos do Tesouro devem ser comentados pelo ministro de Finanças. Eu não falei sobre o assunto", disse.