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Governo Lula decide expulsar embaixadora da Nicarágua no Brasil

Itamaraty aplicou princípio da reciprocidade após expulsão do brasileiro Breno Souza da Costa, que deve deixar Manágua ainda hoje

8 ago 2024 - 15h46
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Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, durante reunião de cúpula da Alba, em Caracas
24/04/2024 REUTERS/Leonardo Fernandez Viloria
Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, durante reunião de cúpula da Alba, em Caracas 24/04/2024 REUTERS/Leonardo Fernandez Viloria
Foto: Reuters

O governo Luiz Inácio Lula da Silva decidiu expulsar nesta quinta-feira, 8, a embaixadora da Nicarágua no Brasil Fulvia Patricia Castro Matu. O Itamaraty se valeu do princípio da reciprocidade depois de a ditadura de Daniel Ortega ordenar que o embaixador brasileiro Breno Souza da Costa deixasse o país.

Fontes do Itamaraty disseram que ele deve sair da Nicarágua ainda hoje. A ordem da ditadura Daniel Ortega para expulsar o embaixador brasileiro foi uma retaliação à sua ausência na elebração dos 45 anos da Revolução Sandinista.

Ao ser notificado sobre a queixa, o governo brasileiro chegou à pedir à Nicarágua que ponderasse, mas ficou sem resposta. Após reunião entre o ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira e Lula, o País decidiu expulsar a embaixadora Fulvia Patricia Castro Matu. Ela apresentou suas credenciais ao Itamaraty no fim de maio e não chegou a ser recebida pelo presidente. Ainda estava na fila quando a decisão foi anunciada.

O gesto de expulsar embaixadores, algo grave em linguagem diplomática, marca o distanciamento entre Lula e Ortega.

O presidente brasileiro tem relação de longa data com o ditador, que ficou tensionada pela perseguição a líderes religiosos na Nicarágua. Lula disse há pouco mais de duas semanas que Ortega não atende às suas ligações, desde que ele se propôs a interceder pela liberação do bispo Rolando Álvarez — condenado a 16 anos de prisão pelo regime — à pedido do papa Francisco, como antecipou o Estadão.

O acirramento da tensão com a Nicarágua ocorre no momento em que o Brasil tenta se posicionar como mediador diante de outro regime autoritário de esquerda, o de Nicolás Maduro, na Venezuela. E as crises têm relação entre si.

"É preciso analisar essa situação muito em paralelo com o que está acontecendo na Venezuela", afirma Daniel Buarque, jornalista, doutor em Relações Internacionais e editor-executivo do portal Interesse Nacional.

Isso porque o rompimento das relações da Nicarágua com o Brasil e a tensão que se segue após a reeleição de Nicolás Maduro sob suspeita de fraude evidenciam a radicalização desses regimes — o que representa um desafio, mas também uma oportunidade para o governo.

"É uma oportunidade para o governo Lula adotar uma postura menos leniente do que estava tendo com esses governos autoritários de esquerda. Uma oportunidade para o governo demonstrar que vai defender a democracia e não vai ficar aceitando governos autoritários apenas por questões ideológicas", sugere Buarque.

Ao mesmo tempo, ele pondera que as relações com esses países são importantes para o Brasil se posicionar como líder na América Latina, como almeja o presidente Lula. "Fica mais difícil propor saídas para o autoritarismo agora que esses países estão mais hostis à presença do Brasil, mas esse é um desafio que o País tem que enfrentar sem ser leniente", afirma.

"Não adianta querer ser um líder global que respeita a soberania dos países e abraçar ditador como se estivesse tudo bem nesses países", continua. "É a oportunidade de ter uma relação mais formal, que consiga pressionar esses países sem partir da simpatia ideológica."

Estadão
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