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Guaidó aceita negociar com chavismo com mediação da Noruega

Líder da oposição quer um acordo que dê fim à "usurpação da presidência"; Maduro afirma querer um diálogo que solucione a crise no país

26 mai 2019 - 09h07
(atualizado às 09h08)
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O autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, aceitou, neste sábado, uma negociação direta de seus enviados com representantes chavistas, sob mediação do governo norueguês. Até agora, as duas partes não haviam aceitado se encontrar. Os dois lados usavam a chancelaria da Noruega como interlocutor.

Guaidó discursa a manifestantes em Caracas 30/4/2019 REUTERS/Manaure Quintero
Guaidó discursa a manifestantes em Caracas 30/4/2019 REUTERS/Manaure Quintero
Foto: Reuters

O movimento ocorre menos de um mês depois de uma tentativa de Guaidó de depor o presidente Nicolás Maduro com adesão de parte dos militares. O intento fracassou em razão da baixa adesão da cúpula militar às ofertas de deserção.

Em comunicado, Guaidó disse que atende o convite da Noruega para "explorar uma saída possível, negociada". Já Maduro agradeceu à Noruega em seu Twitter. "Agradeço ao governo da Noruega por seus esforços para avançar nos diálogos pela paz e pela estabilidade da Venezuela. Vai a Oslo nossa delegação com boa disposição para trabalhar em uma agenda integral acordada e avançar na construção de bons acordos".

O governo escandinavo havia anunciado que as delegações retornariam ao país europeu na semana que vem. A Noruega trabalhou como facilitadora de 20 processos de diálogo nas últimas décadas, como o que levou à assinatura dos acordos de Oslo entre israelenses e palestinos ou as conversas entre o governo colombiano e as Farc.

Os representantes da oposição serão chefiados pelo vice-presidente do Parlamento, Stalin González, e pelo ex-deputado Gerardo Blyde, enquanto os da situação serão presididos pelo ministro de Comunicação Jorge Rodríguez.

Vistos

O governo Donald Trump está prestes a enfrentar a primeira divisão com o grupo de Juan Guaidó, reconhecido pelos Estados Unidos e por cerca de 50 países como presidente interino da Venezuela. Em meio à crise venezuelana, a cúpula do governo Trump tem liderado o apoio ao time de Guaidó e endurecimento contra o regime de Nicolás Maduro, para forçar a transição de poder. Mas um dos pedidos dos diplomatas de Guaidó nos EUA esbarra em ponto-chave da política da Casa Branca: os imigrantes.

A oposição a Maduro quer que os EUA ofereçam a concessão especial de permanência temporária aos venezuelanos que estão no país. A reivindicação teve apoio do senador republicano Marco Rubio, elo entre a Casa Branca e o time de Guaidó, mas começou a criar ruído no governo americano, que tem restringido o visto e o regime de imigração.

O Status de Proteção Temporária (TPS, na sigla em inglês) é um mecanismo criado pelo Congresso para amparar imigrantes que, em razão de desastres naturais ou de conflitos armados, já estão nos EUA de forma ilegal e não podem retornar em segurança a seus países.

Líder da oposição venezuelana Juan Guaidó discursa para simpatizantes em Caracas
30/04/2019 REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
Líder da oposição venezuelana Juan Guaidó discursa para simpatizantes em Caracas 30/04/2019 REUTERS/Carlos Garcia Rawlins
Foto: Reuters

Desde 2017, a Casa Branca passou a anunciar a que não renovaria o visto especial de permanência de cidadãos de cinco países da América Central. A ideia é restringir a quantidade de imigrantes - mesmo os legais - que vivem no país. Pelo menos 300 mil imigrantes hondurenhos, salvadorenhos e de outras três nacionalidades devem cair na clandestinidade com a recente decisão do governo americano.

Contradição

"O TPS para os venezuelanos é uma questão complicada para o governo Trump, porque coloca a forte condenação do presidente ao regime de Maduro contra a hostilidade do governo em relação aos imigrantes - o que incluiu a retirada do TPS para cidadãos de Honduras, El Salvador e Haiti", afirma Michael Camilleri, ex-diplomata do governo de Barack Obama e atual diretor do centro de estudos Rule of Law, do instituto Diálogo Interamericano.

"Trump, provavelmente, espera que o projeto de lei que concede a proteção aos venezuelanos não passe pelo Senado, controlado pelos republicanos, para que ele não seja forçado a tomar uma decisão sobre aceitar ou vetar a legislação", disse.

Em março, Rubio se juntou a outros 23 senadores - todos, exceto ele, democratas - para pedir ao governo a concessão da proteção aos venezuelanos. No entanto, na semana passada, Rubio deu um passo atrás.

Na quarta-feira, quando o Senado aprovou o "Verdad Act" - ou "lei da verdade", em uma mistura de palavras em inglês e espanhol - Rubio se posicionou contra a inclusão do TPS no projeto.

"Eu apoio o TPS para venezuelanos, mas se isso for incluído no 'Verdad Act' será enviado para a Comissão de Justiça e a aprovação vai atrasar", justificou. O projeto prevê US$ 400 milhões em ajuda humanitária a venezuelanos e mecanismos de cooperação multilateral para reconstrução do país, mas sem tratar de permanência dos venezuelanos.

Rubio é tido como o embaixador dos EUA para América Latina. O predomínio das posições do republicano sobre as políticas para a região foi crucial para que os EUA passassem a reconhecer Guaidó.

É Rubio quem tem articulado com o secretário de Estado, Mike Pompeo, e com o conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, o endurecimento das sanções contra o time de Maduro e estimulado o discurso belicoso. O recuo do senador foi visto como um sinal dado por Trump.

Bastidores

Os representantes de Guaidó nos EUA estão cientes da reticência do governo Trump em ampliar as concessões de permissão temporária. Embaixador de Guaidó em Washington, Carlos Vecchio acompanhou a votação do "Verdad Act" no Capitólio e, na saída, comemorou o que chamou de um "passo importante que mostra o governo de Trump unido". Segundo Camilleri, a posição de Rubio foi "estratégica". "Todas as indicações são de que ele continua a apoiar o TPS para os venezuelanos, mas ele entendeu que incluir no Verdad Act poderia tornar mais difícil para alguns de seus colegas republicanos (e aliados do presidente) apoiarem", afirma./COLABOROU BEATRIZ BULLA

Estadão
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