Guaidó diz ter apoio militar para derrubar Maduro: o que se sabe sobre novo capítulo da crise na Venezuela
Em um vídeo publicado no Twitter, o líder da oposição, Juan Guaidó, aparece falando diante de homens uniformizados, afirmando que tem o apoio de militares e convocando o povo para acabar com o que chama de "usurpação" de poder promovida por Maduro.
O líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó, anunciou a "fase final" de sua tentativa de pôr fim ao governo do presidente Nicolás Maduro - e diz que tem apoio militar para tanto.
Em um vídeo aparentemente gravado em uma base da força aérea e publicado nas redes sociais, ele aparece junto a homens de uniforme e de outro líder da oposição, Leopoldo López, que cumpria prisão domiciliar após ter sido considerado culpado por incitar a violência durante protestos contra o governo em 2014.
Guaidó pede que os militares o ajudem a acabar com a "usurpação" do poder por Maduro.
O governo chamou o episódio de "pequena tentativa de golpe".
De que lado os militares tem estado até agora?
Os militares até agora vinham apoiando Maduro e rechaçando o pleito de Guaidó - ele se declarou presidente interino em janeiro e tem o apoio de vários países, incluindo os Estados Unidos e o Brasil.
No vídeo publicado em seu Twitter, Guaidó diz que tem o apoio de "bravos soldados" em Caracas.
"Povo da Venezuela, vamos às ruas (...) para apoiar o fim da usurpação, que é irreversível. (...) As Forças Armadas Nacionais tomaram a decisão certa, elas têm o apoio do povo de Venezuela, e o apoio da nossa constituição. Elas vão estar do lado certo da história ", diz ele.
En el marco de nuestra constitución. Y por el cese definitivo de la usurpación. https://t.co/3RD2bnQhxt
— Juan Guaidó (@jguaido) 30 de abril de 2019
López disse que foi libertado por militares que declararam lealdade a Guaidó.
Venezuela: ha iniciado la fase definitiva para el cese de la usurpación, la Operación Libertad. He sido liberado por militares a la orden de la Constitución y del Presidente Guaidó. Estoy en la Base La Carlota. Todos a movilizarnos. Es hora de conquistar la Libertad. Fuerza y Fe pic.twitter.com/Awm6P09ZM0
— Leopoldo López (@leopoldolopez) 30 de abril de 2019
Em resposta ao caso, o ministro da Informação venezuelano, Jorge Rodríguez, postou no Twitter que o governo estava enfrentando um pequeno grupo de "traidores militares" que, segundo ele, estavam tentando promover um golpe.
Informamos al pueblo de Venezuela que en estos momentos estamos enfrentando y desactivando a un reducido grupo de efectivos militares traidores que se posicionaron en el Distribuidor Altamira para promover un Golpe de Estado contra la Constitución y la paz de la República... 1/2
— Jorge Rodríguez (@jorgerpsuv) 30 de abril de 2019
Guaidó, que é não só líder da oposição, mas também presidente da Assembleia Nacional, tem pedido aos militares que o apoiem desde que se declarou presidente interino.
Ele argumenta que o presidente Maduro é um "usurpador" porque foi reeleito em votações que foram amplamente questionadas.
O vídeo parece ter sido gravado ao amanhecer na base aérea de La Carlota, na capital Caracas.
Imagens feitas posteriormente pela agência de notícias Reuters mostram Guaidó e López com dezenas de homens uniformizados em uma rodovia em Caracas.
Muitos estavam usando braçadeiras azuis sinalizando seu apoio a Guaidó. A filmagem mostra gás lacrimogêneo sendo disparado contra eles.
López, que lidera o partido Popular do qual Guaidó faz parte, pediu aos venezuelanos que se juntem a eles: "Todos os venezuelanos que querem a liberdade devem vir para cá, interromper a ordem, se juntar a nós e encorajar nossos soldados a se unirem ao nosso povo. Bom dia, Venezuela, vamos fazer isso juntos ".
Reações
O senador americano Marco Rubio, defensor ferrenho de Guaidó, recorreu ao Twitter para pedir aos militares que apoiem o presidente da Assembleia Nacional.
This is the moment for those military officers in #Venezuela to fulfill their constitutional oath & defend the legitimate interim President @jguaido in this effort to restore democracy. You can write history in the hours & days ahead.
— Marco Rubio (@marcorubio) 30 de abril de 2019
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, demonstrou suporte a Guaidó. No Twitter, ele escreveu que "saúda a adesão dos militares a Constituição e ao presidente encarregado da Venezuela".
"É necessário o mais pleno apoio ao processo de transição democrática de forma pacífica", postou Almagro.
Saludamos adhesión de militares a la Constitución y al Presidente encargado de #Venezuela @jguaido. Es necesario el más pleno respaldo al proceso de transición democrática de forma pacífica. #OEAconVzla https://t.co/2fnCtClFIe
— Luis Almagro (@Almagro_OEA2015) 30 de abril de 2019
Também no Twitter, Vladimir Padrino, atual ministro da Defesa da Venezuela, disse que as Forças Armadas estão permanecendo leais a Maduro. Ele também critica os "covardes" e "traidores" que estariam por trás do que chama de "golpe".
"As Forças Armadas permanecem firmes na defesa da Constituição nacional e das autoridades legítimas. Todas as unidades militares empregadas nas oito regiões de defesa reportaram que as coisas estão normais nos quarteis e nas bases militares, que estão sob o comando de seus comandantes locais."
La FANB se mantiene firme en defensa de la Constitución Nacional y sus autoridades legítimas. Todas las unidades militares desplegadas en las ocho Regiones de Defensa Integral reportan normalidad en sus cuarteles y bases militares, bajo el mando de sus comandantes naturales.
— Vladimir Padrino L. (@vladimirpadrino) 30 de abril de 2019
Padrino diz que rejeita o "movimento de golpe" e chama os envolvidos na ação de "pseudolíderes".
Nas redes sociais, os líderes da região se dividiram quanto ao movimento de Guaidó e López.
O presidente da Bolívia, Evo Morales, condenou "energeticamente" o que considera como "tentativa de golpe de Estado" por parte de uma "direita que é submissa a interesses estrangeiros".
Morales também disse ter certeza que a Revolução Bolivariana se imporá a "esse novo ataque do império".
O líder boliviano culpou os Estados Unidos por "promover golpes de Estado", na busca de "provocar violência e morte" no país.
Na mesma linha, o ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez, disse que condena "o golpe de Estado em andamento" e afirmou que Cuba oferece apoio e lealdade a Nicolás Maduro, "o presidente constitucional de nossa nação irmã e ao seu governo chavista e bolivariano".
Já o presidente da Colômbia, Iván Duque, convocou o povo e os militares venezuelanos a ficar "do lado certo da história", rechaçando "a ditadura e a usurpação de Maduro".
Seguindo uma terceira via, o governo espanhol defendeu em sua conta no Twitter a realização imediata de eleições para que um novo presidente seja escolhido.
"O governo da Espanha deseja que não se produza um derramamento de sangue na Venezuela e reitera seu apoio a um processo democrático pacífico no país", diz a mensagem.