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'Guerra fria' entre Estados Unidos e China é 'ameaça global maior que coronavírus', diz Jeffrey Sachs

Em entrevista à BBC, economista americano diz também que o mundo está caminhando para um período de "grande ruptura sem nenhuma liderança" após a pandemia.

21 jun 2020 - 09h42
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O aprofundamento da guerra fria entre os EUA e a China será uma preocupação maior para o mundo do que o coronavírus, segundo o influente economista Jeffrey Sachs.

Foto: BBC News Brasil

O mundo está caminhando para um período de "grande ruptura sem nenhuma liderança" após a pandemia, disse ele à BBC.

A divisão entre as duas superpotências vai exacerbar isso, alertou.

O professor da Universidade de Columbia culpou o governo dos EUA pelas hostilidades entre os dois países.

"Os EUA são uma força de divisão, não de cooperação", afirmou à BBC.

"É uma potência que tenta criar uma nova guerra fria com a China. Se isso prosperar - se esse tipo de abordagem for usado, não voltaremos ao normal; na verdade, entraremos em uma controvérsia maior e em um maior perigo de fato."

As tensões crescem

Os comentários de Sachs ocorrem quando as tensões entre os EUA e a China continuam a crescer em várias frentes - não apenas no comércio.

Nesta semana, o presidente Trump assinou legislação autorizando sanções dos EUA contra autoridades chinesas responsáveis pela repressão aos muçulmanos na província de Xinjiang.

E, em entrevista ao Wall Street Journal, Trump disse acreditar que a China pode ter incentivado a propagação internacional do vírus como uma maneira de desestabilizar as economias concorrentes.

O governo Trump também tem como alvo empresas chinesas, em particular a gigante chinesa de telecomunicações Huawei, que Washington diz estar sendo usada para ajudar Pequim a espionar seus clientes. A China nega isso, assim como a Huawei.

Mas a posição dura do presidente Trump sobre a China e a Huawei pode ter sido parte de uma manobra política para ser reeleito - pelo menos de acordo com um novo livro do ex-conselheiro de Segurança Nacional John Bolton.

Sachs concorda que atingir a Huawei nunca foi simplesmente uma preocupação de segurança.

"Os EUA ficaram para trás em relação ao 5G, que é uma parte crítica da nova economia digital. E a Huawei estava ganhando uma participação cada vez maior dos mercados globais. Os EUA inventaram, na minha opinião, a visão de que a Huawei é uma ameaça global. E se apoiaram muito nos aliados dos EUA ... para tentar romper as relações com a Huawei", disse ele.

A tensão aumenta

Os EUA não são o único país com o qual a China está em conflito.

Nesta semana, as tensões aumentaram na fronteira Índia-China, com pelo menos 20 soldados indianos mortos em alguns dos piores casos de violência que os dois lados viram em quase cinquenta anos.

E a China tem ativamente financiado projetos econômicos no Paquistão, Mianmar, Sri Lanka e Nepal - vizinhos mais próximos da Índia. Por isso, a Índia teme que Pequim esteja tentando interromper sua influência na região.

Sachs diz que a ascensão da China é preocupante para seus vizinhos na Ásia - especialmente se ela não fizer mais para mostrar que está tentando crescer de maneira pacífica e cooperativa.

"Se eu acredito que a China poderia fazer mais para aliviar medos que são muito reais? Acredito que sim", afirmou.

"A grande escolha, francamente, está nas mãos da China. Se a China for cooperativa, se envolver em diplomacia, cooperação regional e multilateralismo, em outras palavras, "soft power", porque é um país muito poderoso... Daí acho que a Ásia tem uma incrível futuro brilhante."

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