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Guerra na Ucrânia: qual o papel que Belarus tem no conflito

Belarus apoiou os militares russos ao ceder seu território para a invasão; o líder Aleksander Kukashenko mediou uma tentativa de negociação entre Ucrânia e Rússia.

3 mar 2022 - 08h01
(atualizado às 08h50)
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Alexander Lukashenko, este domingo 27 de febrero.
Alexander Lukashenko, este domingo 27 de febrero.
Foto: Peter Kovalev / GETTY / BBC News Brasil

Um líder que trabalhou para organizar negociações entre Ucrânia e Rússia ou um apoiador convicto dos planos de Vladimir Putin?

Belarus é um ator-chave no conflito entre a Rússia e a Ucrânia, embora suas intenções nem sempre pareçam totalmente claras.

Por um lado, o seu líder Aleksander Kukashenko organizou as negociações entre os delegados russos e ucranianos, mas, por outro, ofereceu seu país como base para tropas russas invadirem a Ucrânia.

E no domingo (27/02), Belarus votou por uma mudança em sua Constituição que abre o caminho para que o país volte a abrigar armas nucleares.

"Se vocês [da Otan] transferirem armas nucleares para a Polônia ou Lituânia, para nossas fronteiras, então eu vou recorrer a Putin para recuperar as armas nucleares que entreguei incondicionalmente em 1994", disse Lukashenko.

Lukashenko votando em um referendo no domingo sobre armas nucleares em Belarus
Lukashenko votando em um referendo no domingo sobre armas nucleares em Belarus
Foto: NIKOLAY PETROV / GETTY / BBC News Brasil

Belarus, sob a liderança de Lukashenko, é um fiel aliado do Kremlin. Isso pode permitir que o país obtenha armas nucleares pela primeira vez desde que conquistou a independência da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) em 1990.

O referendo também fortaleceu o próprio Lukashenko, que aos 67 anos garantiu efetivamente a presidência do país até 2035. Ele está no poder desde 1994.

Lukashenko é amplamente rotulado como um líder autoritário e acusado de censurar a oposição, a imprensa independente e ser subserviente aos interesses do Kremlin.

O Reino Unido decretou sanções contra comandantes do Exército de Belarus. Quatro oficiais de defesa e duas empresas militares estão incluídos no pacote de sanções .

A secretária de Relações Exteriores, Liz Truss, disse que o líder de Belarus, Alexander Lukashenko, ajudou e encorajou a invasão da sanções. Truss disse que Belarus "vai sentir as consequências econômicas de seu apoio a Putin".

Qual o papel de Belarus no conflito com a Ucrânia?

O encontro organizado por Lukashenko entre delegados russos e ucranianos foi um esforço para se conseguir uma solução pacífica para o conflito.

"Assim como fez em 2014, Lukashenko agora quer mostrar sua utilidade e mediar essas conversas entre a Rússia e a Ucrânia", diz Dina Fainberg, professora de Política Internacional da University College London, à BBC News Mundo (serviço de notícias em espanhol da BBC).

Em 2014, a Bielorrússia também sediou as negociações que tentaram neutralizar o confronto entre ucranianos e separatistas pró-russos na região de Donbas — em acordos que ficaram conhecidos como protocolo de Minsk.

Mas apesar dessa atitude mediadora, desde o início da atual invasão tem sido relatado que as tropas russas entraram na Ucrânia a partir de Belarus, com permissão de Lukashenko — uma atitude amplamente criticada pelo Ocidente.

No mesmo dia em que se anunciou o início de conversas entre a Ucrânia e a Rússia, um assessor do Ministério do Interior ucraniano disse que mísseis iskander haviam sido disparados de Belarus.

O ataque aconteceu mesmo depois que Lukashenko "assumiu a responsabilidade de garantir que todos os aviões, helicópteros e mísseis estacionados em território bielorrusso fossem aterrados durante a viagem, conversa e retorno da delegação ucraniana", segundo a Ucrânia.

Tanques em Belarus
Tanques em Belarus
Foto: Peter Kovalev / Getty / BBC News Brasil

Também houve especulações de que as tropas bielorrussas poderiam se juntar à invasão do lado russo. Relatos que apareceram no The Washington Post e no jornal ucraniano The Kyiv Independent sugerem que esse destacamento militar pode acontecer ainda esta semana.

Além disso, houve o referendo bielorrusso de domingo, que cria um marco legal para Belarus possuir armas nucleares.

O movimento coincide com a ordem de Putin de colocar suas forças de dissuasão, incluindo o arsenal nuclear, em estado de "alerta especial". O anúncio não significa que a Rússia pretenda usar as armas, mas o gesto foi amplamente percebido como uma ameaça.

Vladimir Putin
Vladimir Putin
Foto: Anadolu Agency via Getty Images / BBC News Brasil

O que significa que Belarus pode voltar a ter armas nucleares?

"A nova doutrina militar incluirá uma maior integração entre os dois exércitos (bielorrusso e russo) e permitirá a potencial implantação nuclear da Rússia em território bielorrusso", analisou William Alberque, diretor de Estratégia, Tecnologia e Controle de Armas do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos.

Entre 1994 e 1996, Belarus, Ucrânia e Cazaquistão concordaram em entregar suas armas nucleares em troca de promessas de segurança que Belarus agora diz terem sido ignoradas.

Para Fainberg, isso é algo que "precisamos levar muito a sério".

"Isso pode ter um impacto significativo na dissuasão futura e na forma como a região ficará após o conflito. É muito preocupante porque, além da possibilidade de abrigar armas nucleares, Lukashenko também garantiu mais tempo no poder e isso é mais tempo sendo fiel a Putin e ao Kremlin", disse Fainberg à BBC News Mundo.

O movimento de Belarus permitiria à Rússia colocar suas armas nucleares na "porta" da Polônia, entrada territorial na União Europeia.

O governo bielorrusso de Lukashenko é um fiel aliado do Kremlin, e especialistas e críticos analisam que ele é, na prática, como uma extensão da própria Rússia
O governo bielorrusso de Lukashenko é um fiel aliado do Kremlin, e especialistas e críticos analisam que ele é, na prática, como uma extensão da própria Rússia
Foto: INA FASSBENDER / GETTY / BBC News Brasil

Segundo Pablo de Orellana, professor de Relações Internacionais do King's College de Londres, isso é uma reminiscência de outros tempos.

"A possível nuclearização de Belarus, na minha opinião, é um jogo da Guerra Fria. Putin poderia, dessa forma, subir o tom de sua ameaça à Europa", disse o acadêmico à BBC News Mundo.

Orellana traça um paralelo com a crise dos mísseis cubanos em 1962, quando os principais blocos opostos da Guerra Fria —Estados Unidos e URSS — chegaram perto de um confronto nuclear.

"Naquela época a ameaça serviu para se retirar os mísseis. Se o próximo passo de Putin for levar armas nucleares para Belarus, pelo menos isso seria menos agressivo do que disparar. É uma forma de usar as armas sem realmente usá-las", diz o especialista. .

Por que Belarus é tão importante para Putin?

Durante muito tempo, Belarus tentou manter uma posição equilibrada entre a Europa e o Kremlin.

Os líderes da Rússia, França, Alemanha e Ucrânia durante a assinatura do Protocolo de Minsk de 2015
Os líderes da Rússia, França, Alemanha e Ucrânia durante a assinatura do Protocolo de Minsk de 2015
Foto: AFP / BBC News Brasil

Mas essa posição relativamente neutra tomou um rumo radical com os protestos antigovernamentais sem precedentes que acusaram Lukashenko de ser um ditador e tentaram removê-lo do poder em 2020, após uma disputada eleição presidencial em que a oposição política foi perseguida.

Esse foi o ponto de inflexão depois do qual, segundo os especialistas, Lukashenko perdeu sua independência, aproximou-se ainda mais de Putin e transformou Belarus em "praticamente o mesmo Estado que a Rússia", diz Orellana.

"O que aconteceu com Lukashenko em Belarus é o principal medo de Putin: revoluções liberais ocidentais. Putin quase perdeu Lukashenko e, com ele, o controle de um território chave para dominar todo o acesso ao espaço eurasiano", acrescenta.

Para Fainberg, o terremoto político que afetou Lukashenko em 2020 foi algo a qual EUA e Europa não deram a devida atenção. Trata-se de uma "oportunidade perdida", diz ele, em que a Europa poderia ter feito mais para evitar o rumo seguido por Belarus.

"Precisamos ver o que está acontecendo como um conflito europeu e não como algum tipo de bárbaros loucos da Europa Oriental lutando entre si. Isso afeta toda a Europa e marcará os próximos anos", diz Fainberg.

Vários especialistas concordam que o plano de Putin é obter na Ucrânia o mesmo que em Belarus — um governo submisso que atende a seus interesses e o protege geopoliticamente da ameaça que ele vê na Europa e nos EUA.

No entanto, o presidente russo continua insistindo que o único objetivo de sua "operação militar especial" é defender a população de língua russa da Ucrânia, que ele considera ameaçada pelo atual governo.

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