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Guerras entre grupos humanos podem ter começado há 10 mil anos, indica estudo

20 jan 2016 - 18h06
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As guerras se transformaram em algo constante na história da humanidade, mas podem ter começado a ocorrer há 10 mil anos, pelo menos 4 mil anos antes do que o inicialmente imaginado pelos cientistas, de acordo com um estudo divulgado pela revista britânica "Nature".

Um grupo de pesquisadores liderados por Marta Mirazón Lahr e Robert Foley, ambos da Universidade de Cambrigde (Reino Unido), encontrou evidências de violência entre dois clãs que teriam se enfrentado há 10 mil anos, às margens do lago Turkana, no Quênia.

Para isso, os cientistas participantes do projeto "In-Africa" analisaram 27 fósseis humanos achados em 2012 na jazida de Nataruk, ao sudoeste do lago Turkana, explicou à Agência Efe José Manuel Maíllo Fernández, um dos autores do trabalho, membro do Departamento de Pré-História e Arqueologia da Universidade Nacional de Educação à Distância (UNED).

Os fósseis pertenciam a 21 adultos (oito homens, oito mulheres e outros cinco que os cientistas não conseguiram determinar o sexo), seis crianças, menores de 6 anos, e um adolescente, com idade entre 12 e 15 anos. Foi encontrado, além disso, um feto com até oito meses na cavidade abdominal de uma das mulheres, o que representa uma das provas da crueldade e violência, afirma Maíllo.

Os pesquisadores encontraram evidências de violência em dez indivíduos, como marcas de impacto - presumivelmente de flechas - ou fraturas por golpes. Outros dois foram achados com as mãos unidas, o que pode indicar que estavam amarrados quando morreram.

"A posição dos corpos não seguia uma disposição clara, uma clara evidência do abandono após a morte", explica Maíllo.

A razão do massacre continua incerta. Os autores especulam que pode ter sido o resultado de uma disputa por recursos - territoriais ou alimentícios - ou simplesmente uma "resposta antagônica padrão" entre dois grupos que se encontram, não se gostam e brigam entre si.

Os dados são significativos porque até agora a guerra tinha sido vinculada com grupos que já tinham dominado a agricultura ou com sociedades hierarquizadas e sedentárias, acrescenta o cientista.

Além disso, a violência era relacionada com a falta de alimentos, o que não ocorria na região onde os corpos foram encontrados. Apesar de a jazida de Nataruk ser atualmente uma região desértica, há 10 mil anos era uma típica savana africana, com uma abundante fauna que vivia às margens do lago Turkana.

As descobertas representam, portanto, o caso mais antigo demonstrado cientificamente de violência entre dois grupos de caçadores-coletores. E, na opinião de Marta, "desafiam as teorias sobre a origem e a antiguidade da guerra" já que, até agora, a comunidade científica acreditava que os primeiros enfrentamentos intergrupais tinham ocorrido há 6 mil anos.

"O mais importante da descoberta de Nataruk não é a data, pois acredito que a violência intergrupal pode ser até mais antiga. Mas sim o fato de o conflito ter ocorrido entre dois grupos de caçadores coletores", afirmou a líder da pesquisa.

Não existem ainda provas de que a guerra - entendida em uma escala inferior à atual - seja anterior a data descoberta, apesar de os autores do estudo acreditarem na possibilidade.

"Temos pequenos indícios pontuais, mas, pela primeira vez, isso ocorreu em grupos de caçadores-coletores, uma evidência de conflito intergrupal, uma guerra", disse Marta, acrescentando que há evidências que o incidente poderia ser comum em outras regiões.

Para chegar a essas conclusões, os cientistas também analisaram os objetos encontrados junto com os restos mortais. Flechas feitas de obsidiana não identificada na região indica que o grupo que a lançou poderia ser de outro lugar.

EFE   
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