Há 30 anos, Partido Verde chegava ao Parlamento da Alemanha
Os verdes causaram uma reviravolta na política alemã como um partido de viés pacifista e ambientalista. Hoje, menos radicais e mais burgueses, são parte integrante do cenário partidário da Alemanha.
Nas eleições do dia 6 de março de 1983, os primeiros parlamentares do Partido Verde foram eleitos para o Bundestag. Marieluise Beck estava entre os 28 novos representantes na câmara baixa do Parlamento alemão. Já na aparência eles se diferenciavam dos outros deputados. "Foi sensacional. E quase inacreditável. Para o sistema político em Bonn, aquilo era, de fato, um choque", lembra-se Beck.
Poucos dias depois, em 29 de março de 1983, constava da pauta do dia no Parlamento a eleição do próximo chanceler federal. Ao lado da deputada, que vestia uma blusa tricotada a mão, sentava-se o líder da bancada democrata-cristã, o futuro chanceler federal Helmut Kohl, de terno e gravata.
Depois da eleição – já esperada – de Kohl para o cargo, Beck foi cumprimentá-lo – não com um buquê de flores, como de praxe, mas com um ramalhete ralo de pinheiro. "Fiz isso incumbida por uma iniciativa civil, que combatia o desmatamento e me pediu para dar esse sinal ao chanceler federal recém-eleito. E cumpri com o que me pediram", relembra Beck com um sorriso.
O Partido Verde havia sido fundado três anos antes, num tempo em que centenas de milhares de pessoas iam às ruas na Alemanha Ocidental protestar contra sistemas nucleares norte-americanos estacionados no país, vistos como um escalada da corrida armamentista nuclear internacional.
Neste contexto, ambientalistas, pacifistas e ativistas dos direitos humanos se uniram em janeiro de 1980. Eles se viam como um "antipartido" ambientalista, social, pacifista e fiel às bases democráticas. O conceito de "partido contra os partidos" foi marcado pelo pensamento de sua precursora, a carismática Petra Kelly, para quem os verdes eram um movimento antes de serem um partido.
Nos anos 1990, o poder
Em meados dos anos 1990, o Partido Verde já tinha chegado à idade adulta. Em 1998, os verdes compunham, junto com o Partido Social Democrata (SPD), uma coalizão de governo. Joschka Fischer assumia os cargos de ministro do Exterior e vice-chanceler federal. Um momento no qual o partido foi obrigado a provar sua capacidade de governar e sua disposição para negociar e ceder para poder alcançar algo na política.
Uma prova de fogo para o partido pacifista e ambientalista aconteceu em 1999, com a aprovação, pelo Bundestag e com o voto dos verdes, da participação alemã na missão militar no Kosovo. E em 2000, o acordo sobre o abandono gradual da energia nuclear, a ser conduzido até 2021, foi considerado demasiadamente lento pelos críticos da energia atômica.
Quando o então ministro verde do Meio Ambiente, Jürgen Trittin, teve que ordenar o transporte de lixo atômico em contêineres, depois de uma pausa de vários anos, milhares de verdes ligados às bases do partido foram às ruas – daquela vez contra o próprio partido. "Tanto Joschka Fischer, tido como ligado à ala realista do partido, quanto Jürgen Trittin, visto como de tendência mais à esquerda, foram obrigados a exigir do partido o aprendizado de que governo e parlamentarismo significam também selar acordos, que não é possível se manter isolado do lado de fora", relata Beck.
"A decisão sobre o Kosovo foi difícil porque a ética da intervenção e a da não intervenção se opunham. Mas as pessoas já estavam em fuga e havia vítimas civis. Depois de Srebrenica, precisávamos contar com o pior", relembra a política verde. Em 1995, os sérvios bósnios e paramilitares haviam conduzido um massacre contra milhares de muçulmanos bósnios, sob o comando do general Ratko Mladić.
Em 2005 chegava ao fim a coalizão entre verdes e social-democratas e o partido voltava para a oposição. Quando, seis meses mais tarde, Fischer, que muitos viam como o principal líder do partido, anunciou que iria se retirar da vida política, muita gente acreditou que os verdes iniciariam um período de decadência.
"Claro que havia a preocupação: o que vai ser dos verdes sem Joschka? Será que eles são alguma coisa sem ele? Mas a evolução do partido desde então mostrou que ele se sustenta pelos temas que defende", diz Beck com convicção.
Novo peso político
A história dos verdes é uma história de sucesso, aponta o professor de ciência política Lothar Probst, da Universidade de Bremen. "Eles são um partido médio, para o qual resultados nas urnas em torno de 10 a 20% são bons." Com isso, eles estão bem à frente de partidos menores, como A Esquerda, o Partido Liberal Democrático (FDP) e também do Partido Pirata.
Uma das razões para a força dos verdes hoje está na maior diversidade do eleitorado, se comparada àquela dos primórdios do partido. Eles se distanciaram de um perfil alternativo, angariando também votos de eleitores de camadas mais altas e conservadoras da sociedade.
Uma das razões para isso, diz Probst, é o fato de que o partido, além dos temas ambientais, passou a abordar também outros assuntos, como educação, justiça social, defesa dos consumidor e política climática. "Acho que isso é, em parte, responsável pela força deles", conclui o cientista político.
Armadilha do sucesso?
Um impasse, porém, existe: o que fazer quando a marca registrada dos verdes, a política ambiental, é incorporada ao programa de todos os demais partidos? Como por exemplo pela conservadora União Democrata Cristã (CDU), que adotou uma política contrária à energia atômica depois do acidente nuclear em Fukushima, no ano de 2011. E debate agora também questões ligadas à união homossexual.
Mas isso significa que esses temas estão esgotados para os verdes? Probst afirma que não: "Tome como exemplo a mudança na política energética: ainda estamos no começo. Vemos como isso está atrelado a problemas e contradições. Ou os escândalos no setor da indústria alimentícia. Esse é também um assunto com o qual os verdes obtiveram sucesso nos últimos anos".
Beck, por sua vez, não causa a impressão de que os temas defendidos pelos verdes estejam se esgotando. "Não se pode correr do tema meio ambiente, nem do aumento crescente da população mundial, que anseia pelo bem-estar e tem direito a ele, mas que terá que reconhecer que o crescimento às custas da natureza não é ilimitado", diz a política.
Confrontada com a questão a respeito do futuro dos verdes daqui a cinco anos, Beck responde: "Estaremos em campanha eleitoral. Espero que terminando um governo e a caminho de um próximo." Nos últimos 30 anos, os verdes ganharam em maturidade política, autoconsciência e força.