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Heinrich Himmler: como um carimbo falso levou à captura do líder da SS, a polícia nazista

Um documento fundamental para a captura do líder nazista Heinrich Himmler veio à público 75 anos depois de sua morte.

24 mai 2020 - 17h53
(atualizado em 25/5/2020 às 09h47)
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Heinrich Himmler era chefe da SS e foi peça-chave no Holocausto
Heinrich Himmler era chefe da SS e foi peça-chave no Holocausto
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Um documento fundamental para a captura do líder nazista Heinrich Himmler veio à público 75 anos depois de sua morte.

Em 22 de maio de 1945, um trio de homens foi avisado por uma patrulha em um ponto de controle na região de Bremervörde, na Alemanha.

A Segunda Guerra Mundial (1939-45) havia terminado na Europa semanas antes, mas muitos nazistas estavam foragidos e temia-se que eles se reestruturassem ou fugissem.

Dois dos homens vestiam sobretudos verdes e caminhavam à frente do terceiro integrante. Este, por sua vez, estava com um tapa-olho e parecia devastado.

O trio foi levado a uma unidade militar onde soldados britânicos pediram seus documentos. Eles apresentaram papéis no tamanho de um A4 que foram entregues a soldados alemães no fim da guerra como se fossem carteiras de identidade, com seus nomes, patentes, datas de nascimento e outras informações.

O homem que seguia atrás no trio se apresentou como o sargento Heinrich Hizinger. Ele achava que o documento de baixa patente facilitaria sua passagem, mas estava errado.

Isso porque um dos carimbos oficiais usados no documento dele e dados da unidade militar a que supostamente pertencia chamou a atenção porque essas informações eram iguais às encontradas por membros do serviço de inteligência britânico em documentos falsos usados por membros da SS (polícia nazista) para tentar fugir.

Documento falso que Himmler tentou usar para fugir
Documento falso que Himmler tentou usar para fugir
Foto: Museu de Inteligência Militar / BBC News Brasil

A ordem era deter todos que estivessem com esses documentos, e o trio foi enviado para um centro de detenção.

Uma vez ali, o homem que se apresentava como Hizinger pediu para conversar com alguma autoridade responsável pelos prisioneiros. Mesmo sem ter sido desmascarado, ele temia que isso não duraria muito e pensou que poderia barganhar sua saída dali. Então ele tirou seu tapa-olho e calmamente revelou que era.

Hizinger era, na verdade, Heinrich Himmler, líder que chefiava a SS (Schutzstaffel) e foi peça-chave no Holocausto, campanha nazista para exterminar os judeus na Europa. Mais de 6 milhões de pessoas foram mortas.

Himmler estava no círculo mais próximo de Adolf Hitler e tinha o título de "Reichsfuehrer SS". Ele comandou os esquadrões que assassinaram judeus, poloneses, soviéticos, ciganos e outros grupos classificados como "racialmente inferiores".

Depois da morte de Adolf Hitler em seu bunker, Himmler se tornou um dos líderes nazistas mais procurados pelos Aliados por causa de seu papel à frente de muitos dos piores crimes do Terceiro Reich.

Himmler ao lado do líder nazista, Adolf Hitler
Himmler ao lado do líder nazista, Adolf Hitler
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Enquanto os britânicos investigavam se aquele homem detido era de fato quem dizia ser, um médico, o capitão Wells, foi designado para examinar Himmler. Mas os dois começaram uma luta depois que o médico encontrou um objeto azul escondido na bochecha do militar alemão.

Wells tentou arrancá-la, mas Himmler decidiu mastigá-la. Era uma cápsula de cianeto, e ele morreu minutos depois.

Carimbo falso

O documento falso que levou Himmler a ser desmascarado permaneceu 75 anos engavetado, mas agora poderá ser visto pela primeira vez depois de terem sido doados ao Museu de Inteligência Militar em Shefford, em Bedfordshire.

Além do carimbo histórico, há outro item bizarro: os suspensórios que o ex-chefe da SS usava quando foi capturado.

A caça de souvenirs era comum durante a guerra e muitos itens pessoais de Himmler foram levados (um dos militares britânicos ficou com os chinelos que o líder nazista usava quando foi preso, e outro pegou os objetos dele de barbear).

Já o documento falsificado foi doado recentemente pela neta do tenente-coronel britânico Sidney Noakes, um advogado que se juntou aos serviços de inteligência em 1943 e depois foi emprestado ao MI5 (serviço doméstico de segurança). Depois da guerra, ele retomou sua carreira no direito, se tornou juiz e morreu em 1993.

Acredita-se que o britânico Sidney Noakes, que estava com os documentos, tenha interrogado Himmler antes da morte do alemão
Acredita-se que o britânico Sidney Noakes, que estava com os documentos, tenha interrogado Himmler antes da morte do alemão
Foto: Museu de Inteligência Militar / BBC News Brasil

Mas como os itens de Himmler acabaram com ele?

Documentos que tratam da prisão do líder nazista apontam que houve um interrogatório conduzido pelo MI5. Obviamente o nome dos agentes não foi registrado.

"Faz sentido assumir que Noakes era um desses investigadores, não vejo outra explicação", afirma Bill Steadman, curador do Museu de Inteligência Militar.

Ele acredita que Noakes recebeu a permissão de ficar com os documentos porque os serviços de inteligência já haviam extraído as informações que precisavam dali.

Os objetos ficaram com Noakes e familiares até a doação recente, e serão exibidos ao público quando o museu voltar a abrir pós-pandemia.

Para além da curiosidade que despertam, os itens explicam também por que o líder nazista foi capturado. "Sem esse maldito carimbo, é possível que Himmler tivesse escapado como muitos outros nazistas. O que mais me chama atenção nisso tudo é que os líderes alemães consideravam perfeitos seus disfarces", afirma Steadman.

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