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Imigrantes ficam famosos dando dicas sobre vida no exterior

Na esteira da crise, canais no Youtube registram salto de popularidade e se tornam guias para brasileiros que querem deixar o País

19 fev 2016 - 07h11
(atualizado às 11h46)
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O paulistano Thiago Deotti mora em Brisbane, na Austrália, desde 2013, e é uma celebridade no YouTube. Recentemente, seu canal de vídeos ─ em que compartilha dicas sobre a vida no país ─ ultrapassou 500 mil visualizações. E a marca foi atingida, em grande parte, graças ao mau momento político e econômico do Brasil.

Thiago Deotti
Thiago Deotti
Foto: BBC Brasil/reprodução

Na esteira da crise, canais de vídeo como o de Deotti - assim como perfis no Facebook de pessoas que moram no exterior - registraram um salto de popularidade.

Eles se tornaram fonte de informação para levas de brasileiros que voltaram a acalentar o sonho de morar fora, atrás da suposta estabilidade das nações desenvolvidas.

Segundo cálculo feito pela Receita Federal, o número de declarações de saída definitiva do Brasil saltou 40% em 2015 na comparação com o ano anterior.

Thiago Deotti mora em Brisbane, na Austrália, desde 2013
Thiago Deotti mora em Brisbane, na Austrália, desde 2013
Foto: BBC Brasil/reprodução

"Somente no último ano a audiência aumentou em 50%", calcula Deotti, que hoje é reconhecido nas ruas de Brisbane por outros brasileiros.

Ele lembra que, no começo, as postagens eram destinadas a amigos e familiares próximos. "É surpreendente ver a dimensão que alcançou", acrescenta ele.

O material produzido pelos expatriados engloba tudo o que diz respeito à vida fora do Brasil. Desde uma pesquisa de preços no supermercado até dicas para encontrar o primeiro emprego.

A fórmula é seguida por Mario Bortoletto. Morador de Dublin, na Irlanda, e criador do canal Marião na Europa , tornou-se referência para quem deseja imigrar para o país.

Mario Bortoletto criou canal 'Marião na Europa', em que dá dicas sobre como morar na Irlanda
Mario Bortoletto criou canal 'Marião na Europa', em que dá dicas sobre como morar na Irlanda
Foto: BBC Brasil/reprodução

Bortoletto recebe todo tipo de pergunta - chegou a receber até uma oferta de casamento em troca de 10 mil euros (cerca de R$ 45 mil). O matrimônio permitiria ao proponente conseguir o tão sonhado visto de permanência no país, já que Bortoletto possui cidadania europeia.

"Falar a verdade é primordial, não adianta pintar uma realidade perfeita. Depois a pessoa chega aqui e vai ver que eu menti", diz ele à BBC Brasil.

Canadá

Nos anos 1980 e 1990, cerca de dois milhões de brasileiros deixaram o País para fugir da hiperinflação, dos planos econômicos fracassados e da crescente violência. Tinham como destino majoritário os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, nações em que a legislação mais restritiva dificulta o acesso ao visto de permanência.

Como resultado, acabavam por juntar-se à força de trabalho em setores menos regulados, como a construção civil e serviços domésticos.

Hoje, imigrantes com alto nível educacional e poder aquisitivo têm optado por países que possuem programas voltados para a atração de trabalhadores qualificados. Neste quesito, destacam-se Austrália e Canadá, onde é possível inscrever-se em processos seletivos para a obtenção de visto.

O Canadá tornou-se uma espécie de meca entre quem deseja morar no exterior. Desde 2014, o país permite que estudantes matriculados em cursos superiores trabalhem durante o período de estudo para pagar as despesas. Após se formar, os graduados recebem um visto de permanência de três anos, que pode ser estendido.

A distância menor do Brasil em relação à Austrália também conta pontos a favor, e reduz o custo de quem vai se mudar. Com isso, canais dedicados a explicar os meandros da legislação canadense ganharam visibilidade inédita durante a atual crise econômica.

Criadora do canal Mandy e Mais, a psicóloga Amanda Laranjeira mantém uma espécie de pequeno "Big Brother" sobre como é ser morador de Toronto, a maior cidade canadense. Além do YouTube, possui perfis no Instagram, no Facebook e no Snapchat.

Amanda tem 40 mil seguidores e, empolgada com explosão de audiência, organizou campanha de arrecadação para comprar equipamentos novos de filmagem
Amanda tem 40 mil seguidores e, empolgada com explosão de audiência, organizou campanha de arrecadação para comprar equipamentos novos de filmagem
Foto: BBC Brasil/reprodução

Este último, feito para vídeos curtos gravados pelo celular, é atualizado diariamente enquanto caminha para o trabalho.

Amanda tem hoje 40 mil seguidores e, empolgada com a explosão de audiência, organizou em 2015 uma campanha de arrecadação para comprar equipamentos novos de filmagem.

Ela conta ter investido cerca de 1 mil dólares canadenses (R$ 3 mil) na aquisição de uma câmera, microfone e acessórios. "Não tive nenhuma ajuda quando imigrei. Por isso decidi fazer algo que pudesse esclarecer as pessoas", conta ela à BBC Brasil.

Mandy e Mais
Mandy e Mais
Foto: BBC Brasil/reprodução

A profusão de canais para imigrantes também tem como ingrediente a avidez com que o brasileiro consome conteúdo na internet.

O país é hoje o segundo do mundo em exibição de vídeos assistidos no YouTube, perdendo apenas para os Estados Unidos. A plataforma tem 60 milhões de visitantes brasileiros por mês, e um incremento anual de audiência da ordem de 50%.

"Ao falar diretamente com o público e abordar assuntos cotidianos e pessoais, cria-se um relacionamento muito forte com os seguidores", diz Eduardo Baldrini, diretor de parcerias de conteúdo do YouTube no Brasil. "Mais intenso, inclusive, do que entre cantores e seus fãs", compara.

Oportunidades de negócio

A grande demanda por informação acabou criando oportunidades de negócio. Com 5 milhões de visualizações, o canal Canadá Diário tem programação renovada todos os dias. Há até uma versão especial, que vai ao ar às sextas-feiras, com entrevistas e convidados.

Canadá diário
Canadá diário
Foto: BBC Brasil/reprodução

"Fomos nos profissionalizando e já temos, inclusive, anunciantes", comemora Dimitri Kozma, residente de Vancouver, na costa oeste canadense.

Ele divulga informações sobre a cidade ao lado da mulher, Fabiana. "São oito horas por dia gastos na filmagem e edição dos vídeos, incluindo também a produção de novos roteiros", explica.

Canal tem programação renovada todos os dias
Canal tem programação renovada todos os dias
Foto: BBC Brasil/reprodução

Entre as opções disponibilizadas aos internautas estão entrevistas com especialistas em imigração e brasileiros que já moram por lá, assim como atrações turísticas de Vancouver e respostas às dúvidas enviadas pelos seguidores.

De Port Coquitlam, também no Canadá, os irmãos Caio e Guilherme Prézia se dedicam em tempo integral aos futuros imigrantes. Os dois têm uma produtora de conteúdo sobre o tema, que conta com mais três funcionários.

Canadá para Brasileiros
Canadá para Brasileiros
Foto: BBC Brasil/reprodução

O grupo desdobra-se para responder ao menos 300 mensagens enviadas diariamente, além produzir informativos e vídeos assistidos por 270 mil seguidores.

Com ajuda de irmão, Caio Prézia montou produtora de conteúdo voltada para temas relacionados à imigração, exibido em site (abaixo) com blog e podcast e canal no YouTube
Com ajuda de irmão, Caio Prézia montou produtora de conteúdo voltada para temas relacionados à imigração, exibido em site (abaixo) com blog e podcast e canal no YouTube
Foto: BBC Brasil/reprodução

Quem quiser, pode ainda comprar pacotes de vídeos e textos informativos que ensinam, entre outros temas, a conseguir um emprego. "Em 2015 deixei meu emprego para conseguir dar conta", diz Caio à BBC Brasil.

Conheça a 'cidade 'brasileira' do Japão:
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