Incêndio em Londres: Como bombeiros combatem fogo em edifícios altos
Prédio tinha 24 andares, e fogo se espalhou por quase todos eles; segundo consultor de segurança, "subir 20 andares para resgatar as pessoas naquela situação é simplesmente inacreditável".
Subiu para 17 o número de mortos no incêndio nos 24 andares do edifício londrino Grenfell, e há temores de que a cifra aumente, já que até a noite desta quinta-feira ainda havia diversos moradores desaparecidos.
A premiê britânica, Theresa May, pediu uma investigação sobre o caso e disse que a população britânica "merece respostas" quanto a por que o fogo se espalhou tão rapidamente no prédio do oeste de Londres.
Em meio à comoção causada pelo caso no Reino Unido, que lições podem ser tiradas a respeito do combate a fogos em edifícios altos?
Em casos assim, bombeiros normalmente estabelecem uma base a uns dois andares abaixo do foco do incêndio, explica Bob Parkin, ex-bombeiro que se tornou consultor de segurança.
Isso permite estabelecer pontos de controle de entrada para que os bombeiros na linha de frente possam ser monitorados, em especial no que diz respeito a sua respiração - assim, é possível controlar o tempo que eles podem permanecer em uma área perigosa e cheia de fumaça.
O limite de tempo que um bombeiro pode passar apagando um incêndio depende da quantidade de ar disponível. Sendo assim, minutos gastos subindo um prédio são preciosos, já que poderiam ser usados para conter o fogo.
"Você vai gastar uma quantidade considerável de ar subindo dez andares. Esse é um dos motivos pelos quais sempre estabelecemos um ponto de controle dois andares abaixo do incêndio", afirmou Parkin.
Uma vez que eles entrem no local do incêndio, o foco imediato - caso ainda existam pessoas presas ali - é resgatá-las, antes de apagar o incêndio. Por isso, os bombeiros levam consigo a menor quantidade de equipamento possível.
No londrino Grenfell, diz Parkin, a situação era extremamente difícil para os bombeiros, porque o fogo se espalhou de maneira tão rápida que pareceu ter tomado conta de praticamente todo o prédio.
Ter que subir 20 andares para resgatar pessoas naquela situação "é simplesmente inacreditável", diz ele. Sem qualquer suprimento extra de ar para as pessoas resgatadas, o caminho de volta para fora do prédio seria extremamente perigoso.
Os bombeiros teriam também que operar a partir de um andar bem baixo do prédio, porque as chamas se espalharam demais e havia um receio de que toda a construção viesse abaixo.
Ainda assim, os bombeiros não hesitaram. "Eles subiam e desciam diversas vezes vasculhando os andares em busca de pessoas", disse o chefe da Brigada de Londres, Dany Cotton.
Especialistas na área apontaram para o revestimento do prédio como uma das possíveis razões para o fogo ter se espalhado tão rápido - o que fez com que ficasse impossível de conter o fogo andar por andar.
Os bombeiros até chegaram ao último piso, mas levou horas para que conseguissem fazer isso.
Em Dubai, recentes incêndios envolvendo altos prédios - incluindo um de 79 andares em 2015 - se espalharam por causa do revestimento, de acordo com uma consultoria de engenharia local, a Tenable Dubai.
Mas nesses casos não houve mortes porque o design dos prédios favorecia o combate às chamas, ao mesmo tempo em que moradores puderam escapar em segurança por saídas seguras, que ficaram livres de fogo e fumaça.
"Todos os incêndios duraram seis ou sete horas, mas os moradores conseguiram sair ilesos e foi possível apagar o fogo sem perder nenhuma vida", afirmou Sam Alcock, diretor da consultoria. "Na minha opinião, um projeto de construção bom é o que pode salvar vidas."
Ficar em casa?
Plataformas aéreas podem ser usadas para permitir aos bombeiros trabalhar do lado de fora de edifícios altos. Mas no caso da brigada de Londres, por exemplo, os veículos com plataformas aéreas disponíveis só conseguem alcançar 32 metros, equivalente a cerca de 10 andares - limitando a altura em que as chamas podem ser combatidas.
Em Dubai, onde existem arranha-céus de mais de 160 andares, há plataformas aéreas maiores, que podem chegar a até 80 metros de altura, segundo Alcock. Mas também é crucial construir o acesso para os bombeiros subirem com segurança em edifícios altos, até mesmo com elevadores especiais.
Em muitos edifícios londrinos, orienta-se aos moradores que permaneçam em casa caso o incêndio não afete o seu andar. Isso porque, em geral, a escada de emergência é compartilhada entre os moradores e os bombeiros.
Tais normas de segurança serviriam para conter um incêndio em um apartamento individual e manter as escadas e corredores livres de fumaça por algum tempo, explica o especialista em segurança Graham Fieldhouse. Isso permitiria que as evacuações fossem feitas com cuidado após o fogo ser contido.
"Bombeiros não precisam de centenas de pessoas descendo as escadas quando eles estão tentando apagar um incêndio", explicou o especialista à BBC.
A orientação de permanecer no apartamento constava das normas do Grenfell, mas, nesse caso, a situação claramente saiu do controle.
Segundo o engenheiro especializado em incêndios Ikhwan Razali, essa orientação só é correta caso o prédio tenha um bom sistema de extinção de fogo entre um andar e outro.
"No caso (do Grenfell), o conselho me parecer ter sido errado", diz ele.
No Brasil, as orientações do corpo de bombeiros da Polícia Militar de São Paulo em incêndios em prédios são: "Se um incêndio ocorrer em seu apartamento, saia imediatamente. Muitas pessoas morrem por não acreditarem que um incêndio pode se alastrar com rapidez", diz a cartilha da corporação.
A corporação também afirma que todo edifício deve possuir um plano de emergência para abandono em caso de chamas e lembra que nunca se deve usar o elevador - sempre as escadas.
"Um incêndio razoável pode determinar o corte de energia para os elevadores. Feche todas as portas que ficarem atrás de você, assim retardará a propagação do fogo", prossegue a cartilha.