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Incêndios florestais atingem Portugal, Espanha e França em meio a onda de calor

Temperaturas chegaram a 47°C em Portugal e acima de 40°C na Espanha. Mais de 300 pessoas morreram por causa do calor nos dois países.

16 jul 2022 - 17h13
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Baião, Portugal: Incêndios no norte são os piores do país desde 2017
Baião, Portugal: Incêndios no norte são os piores do país desde 2017
Foto: EPA / BBC News Brasil

Milhares de bombeiros estão lutando contra incêndios florestais em Portugal, Espanha e no sudoeste da França, em meio a uma onda de calor que não dá sinais de perder força.

No norte de Portugal, um piloto morreu após a queda de avião que ajudava no combate aos incêndios na região de Foz Côa, perto da fronteira espanhola.

Os incêndios também estão devastando áreas da região de Gironde, na França, onde mais de 12 mil pessoas foram evacuadas.

No sul da Espanha, perto da Costa del Sol, cerca de 2,3 mil pessoas tiveram que fugir de um incêndio que se alastrou nas colinas de Mijas.

Turistas na praia de Torremolinos viram grandes nuvens de fumaça subindo nas colinas, onde várias aeronaves combatem o incêndio.

Ashley Baker, um britânico que vive em Mijas, no sul da Espanha, disse à BBC que o fogo parecia mais ameaçador na sexta-feira (15/7), mas desde então o vento afastou as chamas de sua região.

Aviões têm sido usados para espalhar uma substância retardadora de fogo, enquanto helicópteros se deslocam pela costa, coletando água do mar para apagar os focos de incêndio.

"Há cerca de 40 casas em nossa área, todos estavam muito nervosos, do lado de fora ou nas varandas assistindo", disse Baker.

"Mesmo agora há incêndios no topo das montanhas. O fogo se afastou daqui, estou muito aliviado. Quando você mora nas colinas, é muito assustador."

Sul da Espanha: Incêndio nas colinas de Mijas está próximo a casas de veraneio
Sul da Espanha: Incêndio nas colinas de Mijas está próximo a casas de veraneio
Foto: Ashley Baker / BBC News Brasil

Enquanto isso, perto da costa atlântica no sudoeste da França, um morador local descreveu os incêndios florestais como "pós-apocalípticos".

"Nunca vi isso antes", disse Karyn, que mora perto de Teste-de-Buch, à agência de notícias AFP.

O incêndio ali e outro ao sul de Bordeaux devastaram quase 10 mil hectares (100 quilômetros quadrados ou cerca de 10 mil campos de futebol). Aproximadamente 3 mil bombeiros estão combatendo as chamas.

Christophe Nader e seu genro estão agora em um abrigo perto de La Teste-de-Buch, após serem forçados a abandonar sua casa na aldeia de Cazaux levando apenas as roupas do corpo.

Nader disse à BBC que esperava voltar para resgatar seu gato. Centenas de outras pessoas da zona de perigo também estão no abrigo temporário, que oferece leitos aos desabrigados.

Resgates de animais estão sendo organizados, mas é um processo lento, segundo informações de Jessica Parker, da BBC.

"Tudo foi tão rápido — o fogo também foi enorme, enorme", disse Manon Jacquart, 27, à BBC. Ela foi evacuada da área de acampamento em que trabalha na manhã de quarta-feira (13/7) e está dormindo em um abrigo perto de La Teste-de-Buch, na costa oeste da França.

Manon Jacquart foi evacuada na quarta-feira e está dormindo em um abrigo
Manon Jacquart foi evacuada na quarta-feira e está dormindo em um abrigo
Foto: BBC News Brasil

Desde terça-feira, as temperaturas chegaram a 47°C em Portugal e acima de 40°C na Espanha, deixando o campo seco e alimentando os incêndios. Mais de 300 pessoas morreram por causa do calor nos dois países, segundo a agência de notícias espanhola Efe.

O piloto português que morreu voava sozinho num avião anfíbio Fire Boss.

Os focos de incêndio de Portugal estão no nordeste da cidade do Porto. Os incêndios já destruíram 30 mil hectares este ano no país — a maior área desde o verão de 2017, quando Portugal sofreu incêndios devastadores nos quais cerca de 100 pessoas morreram.

Gemma Suarez, uma agricultora espanhola evacuada de Casas de Miravete, chorou ao dizer à agência de notícias Reuters: "Que noite. Não dormimos a noite toda. Uma assistente social veio me ver para buscar meu tio idoso. Passamos a noite em Navalmoral, mas não dormimos nada. Nunca vi um incêndio tão grande."

"Estou preocupada, estou com medo... estou tentando ser o mais forte que posso, mas não estou bem... quero esquecer esta semana", disse ela.

Helicóptero de combate a incêndios enfrenta parede de chamas nas colinas de Mijas, Espanha, 15 de julho de 22
Helicóptero de combate a incêndios enfrenta parede de chamas nas colinas de Mijas, Espanha, 15 de julho de 22
Foto: EPA / BBC News Brasil

Outras partes do Mediterrâneo também estão sendo afetadas pelos incêndios. Na Itália, o governo declarou estado de emergência no Vale do Pó — o rio mais longo do país não passa de um fio d'água em alguns pontos.

Na Grécia, os bombeiros estão combatendo as chamas na área de Feriza, cerca de 50 km a sudeste de Atenas, e perto de Rethymno, na costa norte de Creta. Sete aldeias foram evacuadas perto de Rethymno.

No norte de Marrocos, várias aldeias tiveram de ser evacuadas devido aos incêndios nas províncias de Larache, Ouezzane, Taza e Tetouan. Uma aldeia foi totalmente destruída na área de Ksar El Kebir e pelo menos uma pessoa morreu em um incêndio.

A França também enfrenta um calor sufocante de cerca de 40°C e espera que as altas temperaturas continuem na próxima semana, com 16 departamentos em alerta laranja, devido ao calor intenso.

O chefe da federação de bombeiros da França alertou para o impacto do aquecimento global nos incêndios. "São os bombeiros, a segurança civil que lida com os efeitos [do aquecimento global] diariamente — e esses efeitos não são em 2030, são agora", disse Grégory Allione.

As ondas de calor têm se tornado mais frequentes, mais intensas e duram mais por causa das mudanças climáticas induzidas pelo homem.

O mundo já aqueceu cerca de 1,1°C desde o início da era industrial e as temperaturas continuarão subindo, a menos que os governos de todo o mundo reduzam fortemente as emissões de carbono.

- Texto originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62194569

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