Índia reage com indignação a novo caso de estupro coletivo
Declaração de político atribuindo parte da responsabilidade à própria turista violentada gera revolta no país. Apesar da prisão de suspeitos, população e imprensa indianas pressionam por medidas mais firmes.
A imprensa indiana reagiu nesta segunda-feira com indignação às declarações do secretário do Interior do estado de Madhya Pradesh, Umashankar Gupta, sobre o novo caso de estupro coletivo na Índia.
"Os turistas deveriam informar ao respectivo delegado de polícia sobre seu plano de viagem quando chegam aqui. Nesse caso, o casal estava viajando de bicicleta, e foi decisão deles acampar fora da cidade. Então, lamentavelmente, aconteceu o incidente, que nunca deveria ter acontecido", declarou o político.
Um canal de televisão classificou as palavras do secretário como sal na ferida das mulheres estupradas na Índia. Outro afirmou que a declaração foi "absolutamente vergonhosa". O comentário do político foi interpretado por parte da imprensa também como uma tentativa de retirar de si a pressão sobre o caso e jogá-la para as vítimas.
O casal de suíços estava de bicicleta a caminho do Taj-Mahal, ponto turístico mais visitado do país, quando foi abordado por vários homens numa área de floresta. O turista foi espancado e amarrado, enquanto sua mulher era estuprada pelo grupo. Eles tiveram ainda seus objetos roubados.
A polícia prendeu seis suspeitos, supostamente moradores de cidades próximas. "Nós apreendemos um laptop, uma bateria, 10 mil rúpias em espécie, um telefone celular e guardamos os objetos em local seguro", disse o inspetor de polícia Dilip Arya.
Nova lei em debate
A suíça teria seguido para a capital Nova Délhi, onde também seria examinada por médicos. Há semanas a mídia indiana noticia diariamente novos casos de violência sexual. A declaração do ministro, quase três meses após o estupro brutal de uma jovem estudante dentro de um ônibus em Nova Délhi e, agora, o incidente com uma estrangeira, reforçam o sentimento de indignação no país.
"O assunto é muito sério. Eu acho que não somente estrangeiros, mas, na verdade, todas as mulheres neste país deveriam se sentir seguras e deveriam poder se locomover com liberdade", disse a ativista social Kavita Krishnan, sobre a necessidade de segurança e liberdade para as mulheres.
Em meio à polêmica, a Índia debate uma lei, proposta pelo governo, para casos como o dos turistas suíços. A norma contemplaria, em situações excepcionais, pena de morte para estupradores. Críticos, no entanto, questionam o projeto por ele não prever punição em casos de violência sexual dentro do casamento.