Inseminação artificial ajudou a aproximar EUA e Cuba
A inseminação artificial de um casal cubano teria ajudado os Estados Unidos e Cuba a avançar em direção à retomada das relações diplomáticas
Herói nacional em Cuba, Gerardo Hernández, de 49 anos, voltou para a ilha na semana passada após 16 anos preso nos Estados Unidos - e encontrou a mulher, Adriana Pérez, grávida de oito meses de uma menina.
Questionado por conterrâneos, Hernández disse que a filha era dele - mas não explicou como Adriana ficou grávida se o departamento que administra as prisões americanas, o Federal Bureau of Prisons (BOP, na sigla em inglês), não permite visitas conjugais.
O que seria a história por trás da gravidez foi publicada na última segunda-feira pelo jornal americano The New York Times (NYT) - e parcialmente confirmada por uma nota do Departamento de Justiça americano.
Na definição do NYT, trata-se de um "dos mais estranhos sub-enredos" das negociações secretas que resultaram, na semana passada, na retomada de relações entre Washington e Havana.
E talvez o mais curioso é que a história estaria longe de ser um "enredo" secundário. De acordo com jornal, os trâmites para realizar uma inseminação artificial em Adriana Pérez teriam ajudado os Estados Unidos e Cuba a avançar em direção à retomada das relações diplomáticas.
Hernández estava preso nos Estados Unidos acusado de espionar para a ilha e era parte do grupo conhecido em Cuba como os "cinco heróis".
O desejo da esposa, de 44 anos, era ter um filho com ele antes de ficar muito velha - e o NYT diz que desde 2010 autoridades cubanas pressionavam os Estados Unidos para permitir isso.
Segundo o jornal, porém, além da proibição do BOP a visitas conjugais, autoridades americanas também desconfiavam que a mulher tivesse sido treinada como espiã.
A solução inusitada, negociada entre autoridades dos dois países, teria sido congelar o esperma de Hernández e levar até o Panamá para fazer a inseminação artificial em sua esposa.
A primeira tentativa não teria dado certo, mas Adriana teria conseguido ficar grávida ao realizar pela segunda vez o procedimento.
Em troca desse trâmite, diplomatas americanos teriam pressionado por uma melhora nas condições de prisão do americano Alan Gross, preso na ilha há cinco anos acusado de "atividades subversivas" - e também solto na semana passada.
"(Permitir a gravidez) Se tornou uma prioridade no último ano para o pequeno grupo de autoridades cubanas e americanas que estavam secretamente trabalhando para a retomada histórica de relações", escreveu o jornal.
Entre os que teriam participado das negociações estariam o senador democrata Patrick Leahy e seu assessor Tim Rieser. Quando Leahy visitou Havana, em 2013, o governo cubano teria lhe pedido para se reunir com Adriana Pérez.
"Foi uma reunião muito emocional", contou Leahy ao NYT, após explicar que tomou o pedido da cubana como uma questão humanitária mas também como uma oportunidade de engajar Cuba no diálogo com Washington. "Ela queria ter um bebê antes de ficar velha demais para isso e disse que estava profundamente apaixonada pelo marido."
Hernández não comentou a história do jornal, mas o Departamento de Justiça dos Estados Unidos confirmou que autoridades americanas teriam atuado para permitir a gravidez de Adriana.
"Confirmamos que os EUA facilitaram o processo para a sra. Hernández ter um filho com seu marido", diz o comunicado. "O pedido foi processado por meio do senador Patrick Leahy, encarregado das negociações para melhorar as condições de prisão de Alan Gross."