Irã ajudou Hamas a planejar ataques contra Israel?
Os ataques do Hamas a Israel levantaram dúvidas sobre a participação do Irã no episódio.
Os ataques do Hamas a comunidades israelenses em torno da Faixa de Gaza no sábado (07/10) levantaram questionamentos sobre um possível envolvimento do Irã no planejamento.
Uma reportagem do jornal The Wall Street Journal cita fontes anônimas do Hamas e do movimento guerrilheiro libanês Hezbollah que dizem que o Irã deu sinal verde para o ataque há uma semana.
Muita coisa está em jogo. Se for confirmado que o Irã está por trás dos ataques, isso poderia transformar o conflito em uma guerra regional.
Embora os líderes do Irã tenham celebrado e elogiado os ataques, eles foram rápidos a negar o envolvimento do país.
"As acusações ligadas ao papel do Irã se baseiam em razões políticas", afirmou Hossein Amir-Abdollahian, ministro das Relações Exteriores do Irã.
O Irã não interveio "na tomada de decisões de outros países", acrescentou um porta-voz.
Já Ghazi Hamad, porta-voz do Hamas, disse à BBC que o grupo teve apoio direto do Irã para o ataque.
Segundo ele, o país se comprometeu a "apoiar os combatentes palestinos até a libertação da Palestina e de Jerusalém".
Por outro lado, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, disse não ter evidências da participação direta do Irã, mas registrou que o país é um aliado histórico do grupo islâmico palestino.
"O Hamas não seria o Hamas sem o apoio que recebeu ao longo de muitos anos do Irã. Ainda não temos provas de que o Irã está por trás deste ataque específico ou de que esteja envolvido. Mas o apoio ao longo de muitos anos é evidente", disse Blinken, em entrevista à televisão americana.
Teerã tem sido um dos principais patrocinadores do Hamas durante muitos anos, fornecendo ao grupo assistência financeira e grandes quantidades de armamento, incluindo foguetes.
Ideia 'complicada'
Israel passou anos tentando interromper as rotas de abastecimento do Irã para Gaza, que envolvem o Sudão, o Iêmen, navios no Mar Vermelho e contrabandistas beduínos na Península do Sinai.
Sendo um dos maiores inimigos de Israel, o Irã tem claramente interesse em ver o Estado em apuros.
"Eu diria que não é exagero presumir que o Irã esteja envolvido", disse Haim Tomer, antigo oficial superior do serviço de inteligência externa de Israel, o Mossad.
"Esta é a resposta do Irã aos relatos de que um tratado de paz vai acontecer entre Israel e a Arábia Saudita", disse ele, em entrevista à BBC.
Mas Tomer disse achar que a ideia de que o ataque tenha ocorrido com uma ordem direta do Irã é "um pouco complicada".
"Sim, é verdade que o Irã é o principal fornecedor de equipamentos ao Hamas. E que eles estavam treinando combatentes na Síria e até, supostamente, no próprio Irã."
Segundo ele, Israel tem observado o movimento dos líderes do Hamas nos últimos meses.
"Temos visto pessoas como Saleh al-Arouri (chefe da ala militar da organização) e outros líderes do Hamas viajando de um lado para outro entre o Líbano e o Irã, realizando reuniões, inclusive com o próprio [aiatolá] Khamenei."
Mas esta "relação íntima" não foi suficiente para explicar o momento do ataque, diz Tomer.
"O Hamas estava muito atento ao conflito interno em Israel", afirma.
"O Irã sustenta e apoia todos os aspectos logísticos e militares, mas penso que a decisão foi pelo menos 75% uma decisão independente da liderança do Hamas."
Essa é a mesma opinião de Raz Zimmt, especialista em Irã da Universidade de Tel Aviv.
"Esta é uma história palestina", ele postou hoje nas redes sociais.
Segundo o Wall Street Journal, o Irã deu sinal verde ao ataque em uma reunião em Beirute na última segunda-feira (02/10).
Fontes anônimas do Hamas e do Hezbollah disseram ao jornal que oficiais do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã trabalharam ao lado do Hamas a partir de agosto para montar a complexa operação aérea, terrestre e marítima realizada no sábado.
Os vídeos do ataque do Hamas apontaram para um nível de sofisticação muito além das tentativas anteriores da organização, em sua maioria grosseiras, de romper a cerca de segurança de Israel que rodeia a Faixa de Gaza.
A utilização simultânea de foguetes, drones, veículos e asa-delta motorizada sugeriu que os líderes da operação tinham estudado outros exemplos recentes de guerra, talvez incluindo a da Ucrânia.
Mas a decisão de atacar, disse Raz, foi tomada "pelo Hamas, com base nos seus próprios interesses, decorrentes da realidade palestina".
"O Hamas usou a ajuda do Irã? Definitivamente, sim. O Irã tinha interesse nesta ação? Sim. O Hamas precisa da permissão do Irã para operar? Não."
O Hamas tem desenvolvido unidades de elite há vários anos, diz Haim Tomer, antigo funcionário da Mossad.
"Mas ainda assim eles tiveram um desempenho acima do nível anterior", afirma ele.
As autoridades israelense estão olhando para o norte e para o sul enquanto tentam descobrir o que pode acontecer e se o envolvimento do Irã pode ficar mais evidente.
O aliado libanês do Irã, o grupo Hezbollah, já realizou dois ataques em pequena escala nas Colinas de Golã ocupadas por Israel. Os militares israelenses afirmam ter usado helicópteros para atingir alvos dentro do Líbano.
"A operação do Hamas é um acontecimento que muda a realidade no Oriente Médio e que pode obrigar o Irã a passar da fase de apoio e coordenação contínuos para um envolvimento mais direto, especialmente se a resposta israelense representar um desafio significativo ao Hamas", afirmou Raz.