Israel bombardeia Gaza com ataques aéreos mais ferozes e diz que fronteira está segura
Em meio a ofensiva israelense, hospitais em Gaza estão sobrecarregados e sem suprimentos, relatou autoridade da Saúde palestina
Israel afirmou nesta terça-feira, 10, que recuperou o controle da fronteira de Gaza, atacando o enclave com os ataques aéreos mais ferozes nos 75 anos de história de seu conflito com os palestinos, apesar da ameaça do Hamas de executar um prisioneiro para cada casa atingida. É o quarto dia do conflito em curso no Oriente Médio, que já resultou em mais de 1.800 mortes e deixou milhares de feridos tanto em Israel quanto em Gaza. Dois brasileiros estão entre as vítimas.
Israel prometeu realizar sua "poderosa vingança" desde que homens armados invadiram suas cidades, deixando as ruas repletas de corpos no ataque mais letal de sua história. O país convocou centenas de milhares de reservistas e colocou a Faixa de Gaza, onde vivem 2,3 milhões de pessoas, sob um cerco total.
Aviões de guerra israelenses lançaram ataques em uma ampla gama de locais em Gaza, incluindo mesquitas e um mercado, enquanto as tropas israelenses lutavam para retomar o controle das cidades invadidas pelo Hamas no sábado.
Mais de 1.000 pessoas foram mortas do lado israelense, conforme as Forças de Defesa de Israel, e mais de 2.600 ficaram feridas desde o início da incursão no sábado, superando a escala de qualquer outro ataque islâmico no passado, com exceção do 11 de Setembro.
O governo israelense relatou que o Hamas mantém cerca de 150 reféns. Em resposta a ofensiva israelense, o porta-voz do braço militar do Hamas, Abu Obeida, anunciou que o grupo executaria um civil refém a cada vez que um ataque aéreo israelense atingisse os habitantes de Gaza em suas casas sem aviso prévio.
As autoridades de Gaza relataram que pelo menos 830 palestinos foram mortos e pelo menos 3.726 ficaram feridos. Bairros inteiros da cidade palestina foram arrasados. As Forças de Israel afirmam ter encontrado os corpos de 1.500 combatentes do Hamas em território israelense desde o início da guerra.
O Ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, declarou que Gaza enfrentará a suspensão total de eletricidade, alimentos, água e combustível. Este território costeiro já estava sob um bloqueio de 16 anos imposto por Israel e pelo Egito.
As Nações Unidas disseram que 180.000 habitantes de Gaza ficaram desabrigados, muitos deles amontoados nas ruas ou em escolas. A fumaça e as chamas subiram ao céu da manhã, enquanto o bombardeio nas estradas muitas vezes impossibilitava que as equipes de emergência chegassem ao local dos ataques.
No necrotério do hospital Khan Younis, em Gaza, os corpos foram colocados no chão em macas com os nomes escritos em suas barrigas. Os médicos pediram aos parentes que pegassem os corpos rapidamente, pois não havia mais espaço para os mortos.
Houve muitas vítimas em um antigo prédio municipal atingido enquanto era usado como abrigo de emergência para famílias desabrigadas.
"Há um número extraordinário de mártires, as pessoas ainda estão sob os escombros, alguns amigos são mártires ou estão feridos", disse Ala Abu Tair, de 35 anos, que buscou abrigo ali com sua família depois de fugir de Abassan Al-Kabira, perto da fronteira. "Nenhum lugar é seguro em Gaza, como você vê, eles atingem todos os lugares."
Hospitais de Gaza estão sobrecarregados
Em declarações à Al Jazeera, um alto funcionário do Ministério da Saúde em Gaza disse que as instalações médicas na Faixa sitiada estão à beira do colapso. Segundo ele, faltam medicamentos, suprimentos médicos e reagentes necessários para operar os laboratórios dos hospitais.
"Recebemos milhares de feridos. Isto está a pressionar o Ministério da Saúde e as instalações de saúde" disse Medhat Abbas, diretor-geral do Ministério da Saúde de Gaza. "Nossa capacidade nos hospitais é de apenas 2 mil leitos. Estamos prestes a entrar em colapso. A escassez de medicamentos é [porque] estamos consumindo em um dia o que consumimos em um mês", acrescentou.
Ainda conforme relatou, cinco ambulâncias foram atacadas, e cinco funcionários do ministério morreram. "Não existe rota segura para os profissionais de saúde decolarem", resumiu.
Nenhum lugar para se esconder
Três jornalistas de Gaza foram mortos quando um míssil israelense atingiu um prédio enquanto eles estavam do lado de fora fazendo uma reportagem. Isso elevou o número de jornalistas mortos em Gaza para seis desde sábado.
Militares israelenses aconselharam os civis de Gaza a fugir para o Egito, mas logo depois emitiram um esclarecimento rápido confirmando que a passagem estava fechada e que não havia saída.
Quanto aos agentes do Hamas, eles não tinham "nenhum lugar para se esconder em Gaza", disse o porta-voz militar contra-almirante Daniel Hagari. "Nós os alcançaremos em qualquer lugar."
Em Israel, ainda não havia uma contagem oficial completa dos mortos e desaparecidos nos ataques de sábado. Na cidade de Be'eri, no sul do país, onde mais de 100 corpos foram resgatados, voluntários com coletes amarelos e máscaras carregaram solenemente os mortos para fora das casas em macas.
Ofensiva terrestre?
O próximo passo de Israel pode ser uma ofensiva terrestre na Faixa de Gaza, território que abandonou em 2005 e que mantém sob bloqueio desde que o Hamas assumiu o poder em 2007. O cerco total anunciado na segunda-feira impedirá que até mesmo alimentos e combustível cheguem à faixa.
Israel foi pego tão completamente desprevenido pelo ataque de sábado que levou mais de dois dias para finalmente selar a barreira de alta tecnologia de vários bilhões de dólares, que deveria ser impenetrável.
O porta-voz militar Hagari disse no início da terça-feira que não houve novas infiltrações de Gaza desde o dia anterior.
Os líderes israelenses agora terão que decidir se restringirão sua retaliação para proteger os reféns. O porta-voz do Hamas, Abu Ubaida, ameaçou na segunda-feira matar um prisioneiro israelense para cada bombardeio israelense a uma casa civil - e transmitir a morte.
Os ataques de sábado e a retaliação israelense desestruturaram os planos dos diplomatas no Oriente Médio em um momento crucial, quando Israel estava prestes a chegar a um acordo para normalizar as relações com a mais rica potência árabe, a Arábia Saudita.
Os países ocidentais apoiaram fortemente Israel. As cidades árabes viram manifestações de rua em apoio aos palestinos. O Irã, patrono do Hamas, comemorou os ataques, mas negou ter desempenhado um papel direto neles.
*Com informações da Reuters.