Israel e Hamas chegam a acordo para acabar guerra em Gaza, libertar reféns e prisioneiros, diz autoridade
Negociadores chegaram a um acordo em fases nesta quarta-feira para acabar com a guerra em Gaza entre Israel e o Hamas, disse uma autoridade informada sobre as negociações, após 15 meses de conflito que matou dezenas de milhares de palestinos e inflamou o Oriente Médio.
O acordo, que ainda não foi anunciado formalmente, prevê uma fase inicial de cessar-fogo de seis semanas e inclui a retirada gradual de forças israelenses de Gaza e a libertação de reféns mantidos pelo Hamas em troca de prisioneiros palestinos detidos por Israel, disse a autoridade à Reuters.
A primeira fase implica a libertação de 33 reféns israelenses, incluindo todas as mulheres, crianças e homens com mais de 50 anos.
As negociações sobre a implementação da segunda fase começarão no 16º dia da primeira fase e espera-se que incluam a libertação de todos os reféns restantes, um cessar-fogo permanente e a retirada completa das forças israelenses de Gaza.
Espera-se que a terceira fase trate do retorno de todos os cadáveres restantes e do início da reconstrução de Gaza, supervisionada pelo Egito, pelo Catar e pela Organização das Nações Unidas.
O acordo é resultado de meses de negociações intermitentes mediadas por Egito e Catar, com o apoio dos Estados Unidos, e chega logo antes da posse do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, em 20 de janeiro.
O Hamas, o grupo militante palestino dominante em Gaza, disse à Reuters que sua delegação entregou aos mediadores a sua aprovação para o acordo de cessar-fogo e retorno dos reféns.
Uma autoridade palestina, que pediu para não ser identificada, havia dito à Reuters que o Hamas havia aprovado verbalmente o cessar-fogo e a proposta de retorno dos reféns que estava sendo negociada no Catar e aguardava mais informações para dar a aprovação final por escrito.
Se for bem-sucedido, o cessar-fogo planejado em fases poderá interromper os combates que deixaram grande parte da Faixa de Gaza em ruínas, deslocaram a maior parte da população do enclave, que antes da guerra era de 2,3 milhões de pessoas, e mataram dezenas de milhares de pessoas. O número de mortos continua aumentando diariamente.
Isso, por sua vez, poderia aliviar as tensões em todo o Oriente Médio, onde a guerra alimentou o conflito na Cisjordânia ocupada por Israel, no Líbano, na Síria, no Iêmen e no Iraque, e aumentou os temores de uma guerra total entre Israel e o Irã, arquiinimigos regionais.
Mesmo que os lados em conflito implementem o acordo atual, ainda serão necessárias mais negociações para que haja um cessar-fogo duradouro e a libertação de todos os reféns.
TAREFA GIGANTESCA DE RECONSTRUÇÃO
Se tudo correr bem, os palestinos, os Estados árabes e Israel ainda precisam chegar a um acordo sobre uma visão para a Gaza pós-guerra, um desafio formidável que envolve garantias de segurança para Israel e bilhões de dólares em investimentos para a reconstrução.
Uma pergunta sem resposta é quem administrará Gaza após a guerra.
Israel rejeitou qualquer envolvimento do Hamas, que governa Gaza desde 2007, mas tem se oposto quase da mesma forma ao governo da Autoridade Palestina, o órgão criado pelos acordos de paz provisórios de Oslo há três décadas, que tem poder de governo limitado na Cisjordânia.
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, disse que interromperia uma visita à Europa e voltaria a Israel durante a noite para participar de votações do gabinete de segurança e do governo sobre o acordo -- o que significa que elas provavelmente serão realizadas até quinta-feira ou na própria quinta-feira.
Tropas israelenses invadiram Gaza após homens armados liderados pelo Hamas romperem as barreiras de segurança e invadirem comunidades israelenses em 7 de outubro de 2023, matando 1.200 soldados e civis e sequestrando mais de 250 reféns estrangeiros e israelenses.
A campanha de Israel em Gaza já matou mais de 46.000 pessoas, de acordo com dados do Ministério da Saúde de Gaza, e deixou o enclave costeiro um deserto de escombros, com centenas de milhares de pessoas sobrevivendo ao frio do inverno em tendas e abrigos improvisados.
Com a sua posse se aproximando, Trump repetiu sua exigência de que um acordo fosse feito rapidamente, alertando várias vezes que haveria "um inferno" se os reféns não fossem libertados. Seu enviado para o Oriente Médio, Steve Witkoff, trabalhou com a equipe do presidente norte-americano, Joe Biden, para fazer com que o acordo fosse concretizado.
Em Israel, o retorno dos reféns pode aliviar parte da raiva popular contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e seu governo de direita pela falha de segurança de 7 de outubro que levou ao dia mais mortal da história do país.
O conflito se espalhou pelo Oriente Médio, com aliados do Irã no Líbano, Iraque e Iêmen atacando Israel em solidariedade aos palestinos. O acordo foi firmado após Israel matar os principais líderes do Hamas e do Hezbollah do Líbano, assassinatos que lhe deram a vantagem na guerra.