Itamaraty convoca chefe da embaixada dos EUA para reunião após tratamento degradante a deportados
Brasil cobra explicações dos EUA após relatos de maus-tratos a brasileiros deportados, que enfrentaram 50 horas algemados
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil convocou, nesta segunda-feira, 27, o encarregado de negócios da embaixada norte-americana em Brasília, Gabriel Escobar, para prestar esclarecimentos sobre denúncias de maus-tratos a brasileiros deportados dos Estados Unidos.
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Os relatos incluem o uso indiscriminado de algemas e correntes, além de agressões e condições degradantes durante o voo de repatriação. Escobar participou de uma reunião no Itamaraty com a embaixadora Márcia Loureiro, responsável pela área de Assuntos Consulares.
Embora a embaixada norte-americana tenha descrito o encontro como uma "reunião técnica", o ato de convocação é um recurso diplomático utilizado para demonstrar descontentamento e cobrar explicações de outro país.
O governo brasileiro argumenta que o tratamento dado aos deportados viola os termos do acordo firmado em 2018 com os EUA, que estabelece a necessidade de condições dignas e humanas durante a repatriação. Em nota, o Itamaraty classificou o descumprimento do pacto como "inaceitável".
Entre os problemas relatados, estão 50 horas de viagem com os passageiros algemados nos pés e nas mãos, ausência de ar-condicionado na aeronave e denúncias de agressões verbais e físicas. Diante dessas condições, o governo brasileiro impediu a continuidade do voo fretado para Belo Horizonte na última sexta-feira, 24, após a parada no Aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus.
Os 88 brasileiros deportados desembarcaram em Belo Horizonte no sábado, 25, onde relataram o tratamento recebido pelos agentes americanos. Segundo os deportados, a situação gerou revolta a bordo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reuniu-se nesta segunda-feira com o chanceler Mauro Vieira para discutir o caso e as ações diplomáticas necessárias. Um novo encontro, previsto para esta terça-feira, 28, contará com a participação do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, para tratar da questão.
O governo afirma estar coletando mais informações para reforçar as denúncias contra o Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas dos EUA (ICE) e busca garantir que episódios semelhantes não se repitam.