Japão poderá liberar água radioativa tratada de Fukushima no oceano
Órgão disse que os planos do Japão eram consistentes com os padrões globais de segurança
O Japão obteve nesta terça-feira a aprovação da Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA), um órgão ligado à Organização das Nações Unidas (ONU), para seu plano de liberar no oceano a água radioativa tratada da usina de Fukushima, destruída pelo tsunami, apesar da forte resistência de Pequim e de alguns moradores locais.
Após uma análise de dois anos, a AIEA disse que os planos do Japão eram consistentes com os padrões globais de segurança e que teriam um "impacto radiológico insignificante para as pessoas e o meio ambiente".
"Esta é uma noite muito especial", disse o chefe da AIEA, Rafael Grossi, ao primeiro-ministro Fumio Kishida, antes de lhe entregar uma pasta azul grossa contendo o relatório final.
Mais tarde, Grossi disse aos repórteres no Clube Nacional de Imprensa do Japão, onde foi recebido por um pequeno grupo de manifestantes, que tentaria acalmar as preocupações persistentes e que colocaria funcionários da AIEA na usina de Fukushima para monitorar a liberação.
"Temos que reconhecer que tal coisa nunca aconteceu antes", disse ele, acrescentando que o Japão teria a palavra final sobre a liberação, que deve durar de 30 a 40 anos.
O governo do Japão afirma que o processo é seguro, pois tratou a água -- suficiente para encher 500 piscinas olímpicas -- usada para resfriar as barras de combustível da usina de Fukushima depois que ela foi danificada pelo terremoto e pelo tsunami resultante.
O Japão não especificou uma data para iniciar a liberação da água enquanto aguarda a aprovação oficial do órgão regulador nuclear nacional para a Tokyo Electric Power (Tepco), cuja palavra final sobre o plano revelado em 2021 pode vir já nesta semana.
Os sindicatos de pescadores japoneses há muito se opõem ao plano, dizendo que ele desfaria o trabalho de reparar a reputação depois que vários países proibiram alguns produtos alimentícios japoneses após o desastre de 2011.
Uma petição das regiões próximas à usina reuniu mais de 250.000 assinaturas desde que a proposta foi apresentada pela primeira vez.
Alguns países vizinhos também reclamaram ao longo dos anos sobre a ameaça ao meio ambiente marinho e à saúde pública, com a China emergindo como a maior crítica.
"O Japão continuará a fornecer explicações ao povo japonês e à comunidade internacional de maneira sincera, com base em evidências científicas e com alto nível de transparência", disse Kishida ao se reunir com Grossi.
Por meio de sua embaixada no Japão, Pequim disse que o relatório da AIEA não pode ser um "passe" para a liberação da água e pediu a suspensão do plano.
O Japão diz que a água foi filtrada para remover a maioria dos elementos radioativos, exceto o trítio, um isótopo de hidrogênio que é difícil de separar da água. A água tratada será diluída até ficar bem abaixo dos níveis de trítio aprovados internacionalmente antes de ser liberada no Pacífico.
Em uma apresentação feita a jornalistas estrangeiros na China no mês passado, as autoridades japonesas disseram que os níveis de trítio na água tratada são mais baixos do que os encontrados em águas residuais liberadas regularmente por usinas nucleares em todo o mundo, inclusive na China.
As autoridades disseram que fizeram várias e repetidas tentativas de explicar a Pequim a ciência por trás da postura de Tóquio, mas suas ofertas foram ignoradas.
Na terça-feira, a China disse que a comparação do Japão entre os níveis de trítio na água tratada e na água residual estava "confundindo completamente os conceitos e enganando a opinião pública".
"Se o lado japonês está empenhado em seguir seu próprio caminho, ele deve arcar com todas as consequências", disse o Ministério das Relações Exteriores da China em um comunicado, acrescentando que "lamenta" a "divulgação precipitada" do relatório da AIEA.