Jornalista da ANSA divulgou renúncia de Bento XVI ao mundo
Declaração inesperada foi feita no dia 11 de fevereiro de 2013
Por Manuela Tulli - O 11 de fevereiro de 2013 era um dia festivo no Vaticano. Como ocorre em todos os anos, a festa é por Nossa Senhora de Lourdes, o aniversário dos Tratados de Latrão, e o horário dos escritórios estava reduzido.
Na sala de imprensa da Santa Sé não haveria a coletiva de rotina não só por esse motivo, mas também porque o único compromisso formal do dia é um consistório de rotina para fixar qual serão as datas em que serão proclamados santos os mártires de Otranto.
Mas, aquela única reunião acabou mudando o rumo da história da Igreja, mas também da história em geral.
O papa Bento XVI falava aos cardeais em latim para dizer que eles não foram convocados só para falar de canonização.
"Conscientia mea iterum atque iterum coram Deo explorata ad cognitionem certam perveni vires meas ingravescente aetate non iam aptas esse ad munus Petrinum aeque administrandum", disse em determinado momento.
Em tradução livre, "depois de ter repetidamente examinado a minha consciência perante Deus, conclui com certeza que minhas forças, pela idade avançada, não estão mais aptas para exercitar de maneira adequada o ministério petrino".
Ele pronuncia também duas palavras-chave: "ingravescente aetate", que se referem à manifestação em provimento do papa Paulo VI, em 1970, que colocava um limite de idade para os bispos. E agora, Bento XVI, sentia que o limite também o chamava.
A divulgação ao mundo dessa decisão sem precedentes em 600 anos foi feita com um flash noticioso da ANSA, exatamente, às 11h46.
Na chamada "caixa", como é conhecida a área onde os jornalistas ficam na Santa Sé, está a jornalista Giovanna Chirri, que captou a gravidade do que aquelas duas palavras significavam e divulgou a notícia ao mundo.
Era uma decisão meditada há muito tempo, como se saberia logo depois, e Joseph Ratzinger indicou o dia 28 de fevereiro como o dia final de seu pontificado para que seja iniciado um conclave.
O líder católico tinha o rosto cansado, mas também muito sereno quando afirmou que queriq anunciar uma "decisão de grande importância para a vida da Igreja".
A primeira reação foi de um dos cardeais que estava no consistório, o decano Angelo Sodano, que classificou a situação como um "raio em um céu sereno".
Um comentário rápido chega do então premiê italiano, Mario Monti, que às 12h11, diz que está "muito comovido por essa notícia inesperada". Esse será o mesmo comentário repetido por centenas de vezes na cobertura jornalística porque ninguém, incluindo pessoas de dentro da Igreja Católica, esperava que poderia viver com uma notícia do tipo.
Em poucos minutos, a Praça São Pedro começou a se encher de fiéis incrédulos na situação. O então presidente italiano, Giorgio Napolitano, diz à mídia que a atitude "é de grande coragem e, de minha parte, vejo com grandíssimo respeito".
O porta-voz da Santa Sé à época, padre Federico Lombardi, abre a coletiva de imprensa formal dizendo que o "Papa nos pegou um pouco de surpresa". E o resto é história, com o mundo todo noticiando a decisão e tentando prever quais seriam os próximos passos da instituição que passaria a ter dois pontífices vivos ao mesmo tempo.
Chegam comentários de líderes políticos internacionais, de representantes de várias religiões e das pessoas comuns. O assunto também foi parar no mundo das artes e, em um momento que a Itália iria começar a edição de 2013 de seu concurso musical mais famoso, o Festival de Sanremo, a renúncia abriu a coletiva.
"Não sei se vocês viram, mas o Papa renunciou e eu proponho Fabio Fazio [humorista e apresentador daquele ano] como novo camerlengo", disse entre risadas a apresentadora e humorista Luciana Litizzetto. .