Jornalistas são detidos por 2 horas após entrevistar Maduro
Grupo de profissionais da emissora Univision ficou retido na sede do governo, no Palácio Presidencial de Miraflores, em Caracas
CARACAS - Uma equipe de seis jornalistas da emissora americana Univision foi liberada nesta segunda-feira, 25, após passar cerca de duas horas e meia retida no Palácio Presidencial de Miraflores, em Caracas, onde realizava uma entrevista com o presidente Nicolás Maduro. A informação foi confirmada pelo repórter, Jorge Ramos, que liderava o grupo.
"Estivemos detidos, não há outra palavra, por mais de duas horas no Palácio de Miraflores", disse Ramos. Após a liberação, os jornalistas da Univision - uma das principais empresas de notícias sobre a América Latina dos EUA - voltaram a hotel onde estão hospedados, em Caracas.
Além de Jorge Ramos, ficaram presos na sede do governo venezuelano os jornalistas María Martínez, Claudia Rendón, Juan Carlos Guzmán, Martín Guzmán e Francisco Urreiztieta.
O problema teria acontecido quando Ramos mostrou para Maduro um vídeo com jovens comendo lixo. O conteúdo teria irritado o presidente venezuelano, que "parou a entrevista e foi embora".
"Eu havia perguntado se ele era um presidente ou um ditador, porque milhões de venezuelanos não o consideram um presidente legítimo por conta das acusações de Juan Guaidó de que ele é um usurpador do poder", destacou Ramos.
O repórter relatou que, logo após a retirada de Maduro da entrevista, a qual durou cerca de 17 minutos, o ministro das Comunicações da Venezuela, Jorge Rodríguez, afirmou que a conversa não foi autorizada e confiscou todos os equipamentos da equipe.
"Não temos nada", lamentou Ramos, que já chegou a bater boca com o presidente americano Donald Trump durante uma entrevista coletiva no ano passado. "Esta é uma violação total da liberdade de expressão, uma violação aos direitos humanos. Eles acreditam que a entrevista é deles, não nossa", destacou.
O jornalista afirmou que ele e sua equipe devem retornar para Miami, nos EUA, nesta terça-feira, 26, por volta do meio-dia.
"Shows baratos"
Após o episódio, o ministro Jorge Rodriguez disse pelo Twitter que o governo da Venezuela não se presta a "shows baratos" e sugeriu que o governo americano tentou usar os jornalistas para "inventar um novo falso positivo".
"Por Miraflores passaram centenas de repórteres que receberam o tratamento decente que que damos habitualmente para quem vem cumprir com o trabalho jornalístico. Não nos prestamos a shows baratos", disse o ministro.
"Equivalente a sequestro"
O autoproclamado presidente interino Juan Guaidó usou as redes sociais para repudiar o episódio e declarou que o "desespero" de Maduro está "cada dia mais evidente".
"Condenamos os atos violentos do usurpador contra o jornalista Jorge Ramos e sua equipe da Univision. O desespero do usurpador está cada dia mais evidente, não pode mais responder perguntas", disse Guaidó.
Também pelo Twitter, o senador americano Marco Rubio também repudiou o fato e afirmou que o governo de Maduro "é um regime arrogante que se sente invulnerável e agora atua com total impunidade".
A chancelaria mexicana, por meio de comunicado, manifestou seu "protesto e preocupação" pelo ocorrido e pediu que os materiais retidos pelo governo venezuelano sejam devolvidos aos jornalistas.
Sobre o caso, a presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa, María Elvira Domínguez, classificou a ação contra Ramos como o "equivalente a um sequestro". \ EFE e AFP
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