Julgamento de Trump começa com polêmica sobre regras
Maioria republicana no Senado quer acelerar o processo
O Senado dos Estados Unidos inicia nesta terça-feira (21) o processo de impeachment contra o presidente Donald Trump, que é acusado de abuso de poder e obstrução do Congresso, em meio a polêmicas entre democratas e republicanos.
Uma resolução apresentada pelo líder da maioria no Senado, o republicano Mitch McConnell, prevê que a acusação e a defesa tenham apenas 24 horas cada uma, divididas em dois dias, para mostrar seus argumentos.
Para efeito de comparação, no julgamento de Bill Clinton, no fim da década de 1990, os dois lados tiveram quatro dias cada um. Em seguida, a moção prevê 16 horas de perguntas por parte dos senadores.
O objetivo do Partido Republicano e concluir o julgamento e absolver Trump antes do discurso do Estado da União, previsto para 4 de fevereiro, mas a oposição democrata acusa o governo de dificultar a convocação de testemunhas e o requerimento de documentos oficiais.
"É uma vergonha nacional", disse o líder da minoria no Senado, Chuck Schumer. Já os sete congressistas nomeados pela presidente da Câmara, Nancy Pelosi, para o papel de acusação afirmaram que os republicanos desejam um "processo fraudado".
As acusações
Trump é acusado de ter pressionado o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, a anunciar uma investigação contra Joe Biden, pré-candidato à Casa Branca e cujo filho, Hunter, foi conselheiro de uma empresa ucraniana de gás, a Burisma.
Para alcançar seu objetivo, o magnata teria congelado uma ajuda militar de quase US$ 400 milhões a Kiev. Em um telefonema em 25 de julho, Trump pediu para Zelensky investigar os Biden, mas não mencionou a ajuda militar, que estava bloqueada na época.
Trump também é acusado de obstrução do Congresso por ter instruído membros do governo a não colaborarem com o inquérito. As investigações foram conduzidas pelo Comitê de Inteligência da Câmara, e a denúncia foi escrita pelo Comitê de Justiça, ambos dominados pelo Partido Democrata, majoritário na Casa.
Precedentes
Até hoje, apenas dois presidentes foram submetidos a processos de impeachment nos EUA: Andrew Johnson (1868) e Bill Clinton (1998-1999), ambos absolvidos - Richard Nixon renunciou em 1974, evitando um afastamento iminente por causa do escândalo "Watergate".
A Constituição americana estabelece que um presidente pode ser removido do cargo por "traição, propina ou outros crimes e contravenções graves". Essa última tipologia é definida de forma vaga, mas o Congresso costuma levar em conta três tipos de conduta: uso do cargo para obter ganhos financeiros, abuso de poder ou agir de maneira incompatível com a função.
Por que a condenação é improvável - Para condenar Trump, serão necessários dois terços dos votos dos senadores, o que equivale a 67 de um total de 100. A oposição democrata conta hoje com 47 senadores, incluindo dois independentes. Ou seja, 20 dos 53 republicanos precisariam votar pelo impeachment, algo que, no cenário atual, só acontecerá se surgir algum fato novo.
Segundo uma média de pesquisas calculada pelo site Real Clear Politics, 46,7% dos americanos apoiam a deposição de Trump, e outros 47,5% são contra. Entre os eleitores republicanos, 88,7% não querem o impeachment, o que mostra que, embora impopular, o magnata conseguiu consolidar o apoio dentro de seu partido.