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Mundo

Kamala ou Trump? O que chineses pensam da eleição nos EUA

Moradores de Pequim contam à jornalista Laura Bicker, da BBC, o que esperam e receiam em relação ao vencedor da corrida pela Casa Branca.

27 out 2024 - 13h16
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Na China, Meng espera que Trump vença
Na China, Meng espera que Trump vença
Foto: BBC News Brasil

Na China, as pessoas estão acompanhando a campanha eleitoral nos EUA com grande interesse e certa ansiedade. Elas temem o que pode acontecer no país e no exterior, seja quem for o vencedor da corrida pela Casa Branca.

"Nenhum de nós quer ver uma guerra", diz Xiang, enquanto um dançarino próximo gira elegantemente sua dupla, ao ritmo da música que toca no parque.

Ele veio ao Ritan Park, em Pequim, para aprender a dançar com outros idosos.

Eles se reúnem aqui regularmente, a apenas algumas centenas de metros da casa do embaixador americano na China.

Além dos novos passos de dança, a iminente eleição nos EUA também está na cabeça deles.

As eleições acontecem em um momento crucial entre as duas superpotências, em que as tensões relacionadas a Taiwan, ao comércio e às relações internacionais estão em alta.

"Estou preocupado com o fato de as relações sino-americanas estarem ficando tensas", diz Xiang, que está na faixa dos 60 anos. "O que queremos é a paz", ele acrescenta.

Uma multidão se reuniu para ouvir esta conversa. A maioria reluta em fornecer seus nomes completos num país onde é permitido falar sobre o presidente dos EUA, mas criticar seu próprio líder pode colocar alguém em apuros.

Eles dizem que estão preocupados com a guerra — não apenas com um conflito entre Washington e Pequim, mas com uma escalada das atuais guerras no Oriente Médio e na Ucrânia.

É por isso que Meng, na casa dos 70 anos, diz que espera que Donald Trump ganhe as eleições.

"Embora ele imponha sanções econômicas à China, ele não deseja iniciar ou travar uma guerra. Biden inicia mais guerras para que mais pessoas comuns não gostem dele. É Biden quem apoia a guerra da Ucrânia, e tanto a Rússia quanto a Ucrânia sofrem grandes perdas com a guerra", ele avalia.

Um grupo de irmãs que está gravando uma coreografia para sua página de rede social acrescenta. "Donald Trump disse no debate que vai acabar com a guerra na Ucrânia 24 horas depois de assumir o cargo", afirma uma delas.

"Em relação à Kamala Harris, sei pouco sobre ela, mas achamos que ela segue o mesmo caminho do presidente Joe Biden, que apoia a guerra."

As opiniões deles ecoam uma mensagem chave que está sendo propagada pelos meios de comunicação estatais chineses.

Dançarinos no Ritan Park, em frente a um templo tradicional chinês
Dançarinos no Ritan Park, em frente a um templo tradicional chinês
Foto: BBC News Brasil

A China fez um apelo à comunidade internacional para negociar um cessar-fogo em Gaza e, ao mesmo tempo, se alinhou com o que descreve como seus "irmãos árabes" no Oriente Médio, e não hesitou em culpar os EUA por seu apoio inabalável a Israel.

Em relação à Ucrânia, o ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, disse à Organização das Nações Unidas (ONU) que a China estava desempenhando um "papel construtivo", enquanto acusou Washington de "explorar a situação para obter ganhos egoístas".

Embora a maioria dos analistas acredite que Pequim não tenha um favorito nessa disputa pela Casa Branca, muitos concordam que Kamala Harris é uma incógnita para o povo chinês e para os líderes do país.

Mas alguns acreditam que ela vai ser mais estável do que Trump quando se trata de um dos principais pontos de tensão entre os EUA e a China — Taiwan.

"Não gosto de Trump. Não acredito que haja um bom futuro entre os EUA e a China — há muitos problemas, a economia global e também a questão de Taiwan", diz o pai de um menino de quatro anos que passeia no parque com a família.

Ele teme que suas diferenças em relação a Taiwan possam acabar levando a um conflito.

"Não quero isso. Não quero que meu filho vá para o Exército", diz ele, enquanto o menino implora para voltar ao escorrega.

A China reivindica a ilha autônoma de Taiwan como parte do seu território, e o presidente Xi Jinping disse que "a reunificação é inevitável", prometendo retomá-la com o uso da força, se necessário.

Os EUA mantêm laços oficiais com Pequim, e o reconhecem como o único governo chinês de acordo com sua "política de uma só China", mas também continuam sendo o mais importante apoiador internacional de Taiwan.

Washington é obrigado por lei a fornecer armas defensivas a Taiwan, e Joe Biden disse que os EUA defenderiam Taiwan militarmente, rompendo com uma postura conhecida como ambiguidade estratégica.

Harris não foi tão longe. Em vez disso, quando questionada em uma entrevista recente, ela declarou um "compromisso com a segurança e a prosperidade de todas as nações".

Donald Trump, por sua vez, está focado em um acordo — e não na diplomacia. Ele pediu a Taiwan que pague por sua proteção.

"Taiwan tirou de nós nosso negócio de chips. Quero dizer, quão estúpidos somos? Eles são imensamente ricos", ele afirmou em uma entrevista recente.

"Taiwan deveria nos pagar pela defesa."

Uma de suas maiores preocupações em relação ao ex-presidente dos EUA é que ele também deixou claro que planeja impor tarifas de 60% sobre os produtos chineses.

Esta é a última coisa que muitas empresas na China desejam neste momento, uma vez que o país está tentando fabricar bens suficientes para sair de uma recessão econômica.

Os ministros na China reagiram com desdém às tarifas comerciais praticadas pelos EUA, que foram impostas pela primeira vez por Donald Trump.

O presidente Biden também impôs tarifas, visando veículos elétricos e painéis solares chineses. Pequim acredita que essas medidas são uma tentativa de conter sua ascensão como potência econômica global.

Trump se encontrou com Xi em Pequim em 2017
Trump se encontrou com Xi em Pequim em 2017
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

"Não acho que a imposição de tarifas à China seja benéfica para os EUA", afirma Xiang, ecoando os sentimentos de muitas pessoas com quem conversamos. As tarifas vão atingir o povo dos EUA, ele acrescenta, e aumentar os custos para as pessoas comuns.

Muitos integrantes da geração mais jovem, embora patriotas, também olham para os EUA em busca de tendências e cultura — e isso, talvez mais do que qualquer missão diplomática, também tem poder.

No parque, Lily e Anna, de 20 e 22 anos, acessam as notícias pelo TikTok, e repetem algumas das mensagens nacionais de orgulho divulgadas pela mídia estatal chinesa no que diz respeito a esta relação competitiva.

"Nosso país é um país muito próspero e poderoso", elas afirmam, vestidas com trajes típicos. Elas amam a China, disseram, embora também adorem Os Vingadores e, principalmente, o Capitão América.

Taylor Swift também está em suas playlists.

'Nosso país é um país muito próspero e poderoso', dizem Lily e Anna
'Nosso país é um país muito próspero e poderoso', dizem Lily e Anna
Foto: BBC News Brasil

Outros, como Lucy, de 17 anos, esperam um dia estudar nos EUA.

Enquanto pedala em uma bicicleta ergométrica, recém-instalada no parque, ela sonha um dia em visitar a Universal Studios — após sua formatura.

Lucy diz que está animada por ver que há uma candidata mulher. "A candidatura de Harris representa um importante passo à frente para a igualdade de gênero, e é animador vê-la como candidata à presidência."

A República Popular da China nunca teve uma líder mulher e, atualmente, nenhuma mulher faz parte da equipe de 24 membros conhecida como Politburo, que reúne os membros da cúpula do Partido Comunista Chinês.

Lucy também está preocupada com a intensa concorrência entre os dois países, e acredita que a melhor maneira de a China e os EUA melhorarem seu relacionamento é realizar mais intercâmbios entre as pessoas.

Ambos os lados prometeram trabalhar neste sentido, mas o número de estudantes americanos que estudam na China caiu de cerca de 15 mil, em 2011, para 800.

Trabalhadora em uma barraca de comida no Ritan Park, em Pequim
Trabalhadora em uma barraca de comida no Ritan Park, em Pequim
Foto: BBC News Brasil

Xi espera abrir as portas para que 50 mil estudantes americanos venham para a China nos próximos cinco anos. Mas em uma entrevista recente à BBC, o embaixador dos EUA na China, Nicholas Burns, acusou partes do governo chinês de não levar a sério este compromisso.

Ele afirmou que, em dezenas de ocasiões, as forças de segurança ou um ministério do governo impediram que cidadãos chineses participassem da diplomacia pública conduzida pelos EUA.

Por outro lado, estudantes e acadêmicos chineses denunciaram terem sido injustamente alvo de autoridades de fronteira dos EUA.

Lucy, no entanto, continua otimista de que vai poder viajar um dia para os EUA, para promover a cultura chinesa. E, enquanto a música toca ao fundo, ela incentiva os americanos a visitarem e conhecerem a China.

"Às vezes, podemos ser um pouco reservados, e não tão saidinhos ou extrovertidos como os americanos, mas somos acolhedores", diz ela, enquanto se dirige à sua família.

As fotografias da BBC são de autoria de Xiqing Wang.

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