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Legião de sem-teto cresce nos EUA, mas cai na capital

Califórnia e Nova York são os Estados com o maior número de desabrigados; drogas e alto preço de aluguéis estão entre as causas

23 dez 2018 - 11h15
(atualizado às 11h15)
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Depois de sete anos em queda, a população de sem-teto nos EUA cresceu em 2018 pelo segundo ano seguido. A variação foi pequena, 0,3%, mas o fato de haver uma tendência mobiliza as autoridades e coloca o foco sobre medidas de lugares como a capital, Washington, onde o número caiu 16% em dois anos.

Morador de rua se protege do frio próximo à saída de ar de bueiros, na Avenida Pensilvânia, a 1 quilômetro do Capitólio, em Washington
Morador de rua se protege do frio próximo à saída de ar de bueiros, na Avenida Pensilvânia, a 1 quilômetro do Capitólio, em Washington
Foto: Beatriz Bulla / Estadão Conteúdo

Dados deste ano apontam que menos 553 mil pessoas não têm onde morar nos EUA. Os dois Estados com maior número de moradores desabrigados são a Califórnia (24% do total do país) e Nova York (17%). Olhando apenas para os moradores que estão nas ruas ou em prédios abandonados, os dados da Califórnia são mais alarmantes. Quase metade de toda a população do país que não está nos abrigos provisórios fica nas ruas de cidades californianas, como Los Angeles e São Francisco.

Uma das causas está visível em Los Angeles, na região conhecida como Skid Row. O local, uma cracolândia americana com 4 mil sem-teto, registrou crescimento nos últimos anos, em meio a uma epidemia causada pelo uso de opioides.

Não só as drogas e a rejeição às regras de abrigos fazem a população de rua crescer. Um estudo publicado em dezembro relaciona o fenômeno aos altos custos de aluguel. O levantamento de pesquisadores das Universidades de New Hampshire, Boston e da Pensilvânia, com suporte do Zillow Research, indica que o número cresce mais rápido em locais onde se gasta 32% ou mais da renda para pagar aluguel.

Caitlin Cocilova, advogada da organização Washington Legal Clinic for Homeless trabalha para garantir o acesso de famílias a abrigos e moradias conhecidas como "residências acessíveis". "Temos o segundo aluguel mais caro do país, e é preciso ganhar um bom dinheiro para viver aqui. As pessoas perderam a capacidade de pagar por suas casas e têm buscado soluções transitórias", afirma.

O Distrito de Columbia, onde fica a capital dos EUA, viu a população de rua crescer 29% desde 2007 — uma das maiores elevadas, liderada pelo Estado de Nova York (alta de 46%). Há quase 7 mil moradores de rua na região, mas a capital conseguiu, nos últimos dois anos, diminuir a quantidade de famílias nas ruas. Na comparação com 2016, o número caiu 16%, segundo o governo local.

A prefeita de Washington, Muriel Bower, foi eleita há quatro anos com uma plataforma que incluía a atenção às famílias desabrigadas. No caso da capital, a queda é puxada pelo menor número de famílias desabrigadas e pela adoção de medidas voltadas à prevenção — com identificação das famílias que estão prestes a perder a moradia e a mudança delas para um abrigo temporário.

Em Washington, um dos novos abrigos inaugurados em 2018 para receber famílias desabrigadas, após fechamento do hospital conhecido como D.C. General, alvo de problemas
Em Washington, um dos novos abrigos inaugurados em 2018 para receber famílias desabrigadas, após fechamento do hospital conhecido como D.C. General, alvo de problemas
Foto: Beatriz Bulla / Estadão Conteúdo

Uma decisão com grande influência na melhora dos índices foi o fechamento do DC General, um antigo hospital que se tornou um abrigo improvisado em 2001 e, pelo tamanho e falta de infraestrutura, passou a oferecer riscos. Foi criada uma série de abrigos menores, mais fáceis de gerenciar e capazes de atrair famílias que evitavam locais precários.

O fechamento do abrigo maior teve efeito positivo, mas a ausência de políticas mais robustas para lidar com os moradores de rua ainda preocupa associações. A prefeita também enfrenta críticas por ter fechado o local antes de inaugurar todos os abrigos previstos e pela ausência de políticas para baratear o valor da moradia.

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Estadão
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