Líbano: veja o que já se sabe sobre as explosões em Beirute
Curto-circuito causou incêndio e explosão em depósito de fogos de artifício e em outro onde estavam 2,7 mil toneladas de nitrato de amônia
Duas fortes explosões deixaram dezenas de mortos e milhares de feridos na região portuária de Beirute, capital do Líbano, nesta terça-feira, 4. A possibilidade de um ataque ou um atentado foi descartada por autoridades, mas o acidente levou pânico a uma cidade traumatizada por anos de violência e guerra civil.
Testemunhas relataram tremor e janelas quebradas em várias partes da capital do Líbano. As explosões foram sentidas em cidades vizinhas e até mesmo no Chipre, uma ilha mediterrânea situada a 240 km a noroeste de Beirute. Hospitais da cidade ficaram lotados e chegaram a recusar feridos por falta de capacidade para atendimento.
Confira a cobertura completa do caso:
O que aconteceu em Beirute?
Nesta terça-feira, as redes sociais foram inundadas por vídeos que mostravam uma 'nuvem cogumelo' no céu de Beirute. As informações iniciais falavam em uma explosão na região portuária da cidade. Na verdade, foram duas: a primeira, segundo a TV Al-Manar, veículo oficial do Hezbollah, foi causada por uma falha elétrica pouco antes das 18 horas (12 horas em Brasília). Ela teria provocado um incêndio em um depósito de fogos de artifício. Uma equipe de bombeiros foi enviada ao local para conter o fogo; alguns minutos depois, veio o segundo estouro.
De acordo com o governo, a segunda - e mais potente - explosão aconteceu quando o fogo causado pelo curto-circuito atingiu um estoque de 2,7 mil toneladas de nitrato de amônia, que havia sido confiscado de um navio e vinha sendo guardado no porto havia seis anos.
Para o físico Luiz Pinguelli Rosa, professor da Coppe/UFRJ, o tamanho da onda de choque gerada pela explosão foi surpreendente e indica que havia muito explosivo no local. "Em linhas gerais, tem-se uma explosão quando algo que tem um volume relativamente pequeno se expande e passa a ocupar um espaço maior. Essa onda de choque derruba paredes, prédios e pode esmigalhar uma pessoa", diz.
Onde aconteceu?
As explosões aconteceram no Porto de Beirute, mas atingiram diferentes pontos da capital, de Raouche, na orla do Mediterrâneo, a 6 quilômetros do porto, até o subúrbio de Rabieh, a 13 quilômetros de distância. O impacto também foi sentido em Nicósia, capital do Chipre, segundo relatos de testemunhas.
Quantas pessoas morreram?
Até o momento, autoridades locais confirmaram 100 mortes.
Quantas ficaram feridas?
Mais de 4 mil pessoas ficaram feridas no incidente. Só o hospital de Rizk, um dos mais próximos ao local das explosões, realizou mais de 400 atendimentos. A Cruz Vermelha do Líbano enviou para a capital ambulâncias do norte, do sul e do Vale do Bekaa. Rapidamente, quando os hospitais de Beirute ficaram lotados, os feridos começaram a ser transferidos para outros centros de atendimento na região metropolitana e no interior do país.
Como a comunidade internacional reagiu?
Israel se apressou em negar que tenha atacado alvos em Beirute - nos últimos dias, forças israelenses e milicianos do Hezbollah trocaram tiros na fronteira. "Não temos nada a ver com a explosão", afirmou um funcionário do governo israelense ao jornal The Jerusalem Post. Pouco antes, o ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz, havia oferecido ajuda e assistência humanitária.
A Casa Branca informou estar acompanhando com muita atenção o desenvolvimento dos fatos ligados à explosão em Beirute. O presidente Donald Trump foi informado e segue de perto os acontecimentos. Na noite desta terça-feira, Trump disse que as explosões pareciam um "ataque terrível".
Em nota, o governo brasileiro manifestou "solidariedade ao povo e ao governo do Líbano pelas vítimas fatais e pelos feridos atingidos pelas graves explosões que tiveram lugar no porto de Beirute".
Como ficaram os brasileiros no Líbano?
Segundo o Itamaraty, não havia notícia de cidadãos brasileiros mortos ou gravemente feridos. O Ministério das Relações Exteriores informou que acompanha os acontecimentos por meio da Embaixada do Brasil em Beirute e está pronto para prestar a assistência consular cabível.
A casa onde vive o executivo brasileiro Carlos Ghosn, ex-presidente da aliança Renault-Nissan, que se refugiou em Beirute depois de fugir da Justiça japonesa, em dezembro, foi destruída pela explosão que ocorreu nesta terça-feira, 4, na capital do Líbano. "Estamos todos bem, mas a casa está destruída", disse Carole Ghosn, esposa de Carlos, ao Estadão. "Beirute inteira está destruída."
A Marinha do Brasil informou, em nota, que os militares que compõem a Força Tarefa Marítima (FTM), em missão no Líbano, "estão bem e não há feridos".
O que deve acontecer agora?
O presidente do Líbano, Michel Aoun, presidiu uma reunião de emergência do Conselho de Defesa Supremo, que declarou Beirute uma "zona de desastre". O Conselho, que reúne o presidente, o primeiro-ministro e a ministra da Defesa, "recomenda" ao governo decretar estado de emergência, segundo a agência nacional de informações ANI. O presidente montou um comitê para investigar as causas do acidente, que ele classificou de "inaceitável".
Em um duro pronunciamento na TV, o premiê Hassan Diab disse que aqueles responsáveis pelas explosões "vão pagar o preço". "Eu prometo a vocês que essa catástrofe não ficará sem que seus responsáveis sejam punidos. Eles pagarão o preço".
Para o professor de Direito Internacional da FGV-Direito SP Salem Nasser, as explosões deixam o Líbano à beira do precipício. "A verdade só será sabida com algum tempo, mas algumas das versões têm o objetivo, ou o efeito, de aprofundar as divisões na sociedade e na política libanesas".