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Luigi Mangione: a surpreendente declaração de inocência do acusado de matar CEO nos EUA

Luigi Mangione, de 26 anos, compareceu ao tribunal nesta segunda-feira (23/12) para ser indiciado por 11 acusações criminais estaduais, incluindo assassinato em decorrência de crime de terrorismo.

23 dez 2024 - 13h51
(atualizado às 13h56)
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Luigi Mangione sentado ao lado de policiais durante depoimento no tribunal
Luigi Mangione sentado ao lado de policiais durante depoimento no tribunal
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Luigi Mangione, acusado de matar o CEO da UnitedHealthCare, Brian Thompson, se declarou inocente diante das acusações de assassinato e terrorismo do Estado americano de Nova York.

Mangione, de 26 anos, compareceu ao tribunal nesta segunda-feira (23/12) para ser indiciado por 11 acusações criminais estaduais, incluindo assassinato em decorrência de crime de terrorismo.

Ele também enfrenta acusações federais de perseguição e assassinato que podem levar a uma condenação à pena de morte.

Os promotores alegam que o Mangione atirou contra Thompson no centro de Manhattan e fugiu. Mais tarde, as autoridades o prenderam em um McDonald's no Estado da Pensilvânia.

Nascido em Baltimore, Maryland, ele foi encontrado em posse de uma ghost gun ("arma fantasma"), tipo de arma construída em casa e não rastreável, e um documento manuscrito de três páginas que indicava sua "motivação e mentalidade", segundo as autoridades.

Além de uma longa fila de jornalistas esperando o suspeito, muitas pessoas — a maioria mulheres jovens — estavam no tribunal. Algumas disseram à CBS, parceira da BBC nos EUA, que estavam lá para manifestar apoio.

Acusações conflituosas

Pessoas foram para a porta do tribunal demonstrar apoio a Mangione
Pessoas foram para a porta do tribunal demonstrar apoio a Mangione
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

No tribunal na semana passada, a advogada de Mangione — Karen Friedman Agnifilo — disse que ambos os conjuntos de acusações parecem conflitar, com as acusações estaduais acusando-o de tentar "intimidar ou coagir uma população civil", enquanto as federais se concentram em crimes contra um indivíduo.

Agnifilo disse que os casos sobrepostos eram "confusos" e "extremamente incomuns".

"Nunca vi nada parecido com o que está acontecendo aqui", em 30 anos de experiência jurídica, diz a advogada.

No tribunal na segunda-feira, ela disse ainda ao juiz que acreditava que declarações de autoridades governamentais — incluindo o prefeito de Nova York, Eric Adams — a deixavam "muito preocupada com o direito do meu cliente a um julgamento justo".

"Ele é um jovem", disse ela. "Ele está sendo tratado como uma bola de pingue-pongue humana entre jurisdições em guerra aqui."

O juiz, Gregory Carro, disse que não consegue controlar o que acontece fora do tribunal, mas prometeu que o Mangione receberá um julgamento justo.

O suspeito está atualmente sob custódia federal no Metropolitan Detention Center (MDC), no Brooklyn, após ser devolvido a Nova York em meio a um forte esquema de segurança na última semana.

As autoridades acreditam que Mangione executou o assassinato de Thompson de maneira planejada, apontando evidências de que ele estava com raiva do setor de saúde dos Estados Unidos.

O inquérito federal aponta que um caderno encontrado com Mangione expressou "hostilidade em relação ao setor de seguros de saúde e executivos ricos em particular."

Pessoas nas redes sociais elogiaram os supostos crimes cometidos por Mangione, muitas vezes compartilhando sua própria raiva do sistema de saúde privado dos EUA.

Em entrevista à CBS, parceira da BBC nos EUA, no domingo (22/12), o secretário de segurança interna Alejandro Mayorkas disse que a retórica online tem sido "extraordinariamente alarmante".

"Isso fala sobre o que realmente está borbulhando aqui neste país", disse ele. "E infelizmente vemos isso manifestado na violência, o extremismo violento doméstico que existe."

Quem é Luigi Mangione

Luigi Mangione foi preso na Pensilvânia após morte de CEO nos EUA
Luigi Mangione foi preso na Pensilvânia após morte de CEO nos EUA
Foto: Instagram/Reprodução / BBC News Brasil

Mangione nasceu e foi criado em Maryland e tem ligações com San Francisco, na Califórnia, de acordo com Joseph Kenny, chefe dos detetives de Nova York.

Ele não possui antecedentes criminais em Nova York, e seu último endereço registrado foi em Honolulu, capital do Havaí, segundo a polícia.

Vindo de uma família influente, Mangione frequentou a Gilman School, uma escola particular exclusivamente masculina em Baltimore, conforme informaram representantes da instituição.

Mangione foi nomeado orador da turma, título geralmente concedido ao estudante com o melhor desempenho da classe.

Em comunicado, a escola descreveu a situação como "profundamente angustiante".

Um ex-colega de classe, Freddie Leatherbury, disse à agência de notícias Associated Press que Mangione vinha de uma família rica, mesmo para os padrões dessa escola privada.

"Sinceramente, ele tinha tudo a seu favor", afirmou Leatherbury.

Falando à CBS News, parceira da BBC nos EUA, outro colega de classe, que pediu para permanecer anônimo, descreveu-se como um amigo próximo de Mangione, dizendo que o suspeito "não tinha inimigos" e era "orador da turma por uma razão".

Mangione formou-se na Universidade da Pensilvânia, onde obteve bacharelado e mestrado em ciência da computação, de acordo com a instituição. Durante seus estudos, fundou um clube de desenvolvimento de videogames.

Um amigo que frequentou a mesma universidade, pertencente à Ivy League (grupo das universidades de mais prestígio dos EUA), descreveu Mangione como uma pessoa "supernormal" e "inteligente".

Mangione trabalhou como engenheiro de dados na TrueCar, um site de venda de carros novos e usados, conforme seus perfis nas redes sociais. Um porta-voz da empresa informou à BBC que ele não estava mais empregado lá desde 2023.

De acordo com um perfil com seu nome e foto no LinkedIn, Mangione também trabalhou anteriormente como estagiário de programação na Firaxis, uma desenvolvedora de videogames.

Além disso, passou um período em uma comunidade voltada para o surfe no Havaí, chamada Surfbreak.

Sarah Nehemiah, que o conheceu nesse período, contou à CBS que Mangione deixou o local devido a uma lesão nas costas, agravada pelo surfe e por caminhadas em trilhas.

O que o levou à prisão

Perfis nas redes sociais indicam que Mangione havia se distanciado de familiares e amigos nos últimos meses
Perfis nas redes sociais indicam que Mangione havia se distanciado de familiares e amigos nos últimos meses
Foto: Reprodução/LinkedIn / BBC News Brasil

O documento manuscrito de três páginas encontrado com Mangione sugeriu um motivo para o suposto crime cometido por ele, de acordo com os investigadores.

As páginas expressavam "ressentimento" em relação à United Healthcare, disseram as autoridades.

Um investigador disse ao jornal The New York Times que o documento afirmava: "Esses parasitas mereciam isso" e "Peço desculpas por qualquer sofrimento e trauma, mas era algo que tinha que ser feito".

Os investigadores também encontraram as palavras em inglês para "negar", "defender" e "destituir" nas cápsulas de munição encontradas no local do assassinato de Thompson, em Nova York.

Críticos das seguradoras de saúde chamam essas palavras de "os três Ds do seguro" — táticas usadas pelas empresas para rejeitar pedidos de pagamento de pacientes.

Amigos disseram à imprensa dos EUA que Mangione passou por uma cirurgia nas costas.

A imagem de fundo de uma conta na rede social X, que se acredita ser de Mangione, mostra um raio-X de uma coluna com implantes.

No entanto, não está claro quanto a experiência pessoal de Mangione com o sistema de saúde influenciou suas opiniões.

Uma pessoa com o nome e a foto dele tinha uma conta no Goodreads, um site de resenhas de livros geradas por usuários, onde leu dois livros sobre dor nas costas em 2022, sendo um deles chamado Crooked: Outwitting the Back Pain Industry ("Tortos: Superando a indústria da dor nas costas", em tradução livre).

Ele também deu quatro estrelas para um texto chamado Industrial Society and Its Future ("Sociedade Industrial e Seu Futuro"), de Theodore Kaczynski — também conhecido como O Manifesto do Unabomber.

O documento critica a vida moderna e afirma que a tecnologia estava levando os americanos a sofrer de uma sensação de alienação e impotência.

A partir de 1978, Kaczynski iniciou uma série de atentados que matou três pessoas e feriu dezenas, até ser preso em 1996.

Em sua resenha, Mangione reconheceu que Kaczynski era um indivíduo violento que matou pessoas inocentes, mas argumentou que o livro não deveria ser descartado como o manifesto de um lunático, mas sim como o trabalho de um revolucionário político extremo.

Perfis nas redes sociais que parecem dele também sugerem que Mangione havia se distanciado de familiares e amigos nos últimos meses.

Em um post no X, de outubro, alguém marcou uma conta que se acredita ser de Mangione e escreveu: "Ei, você está bem? Ninguém tem notícias de você há meses, e aparentemente sua família está procurando por você."

O que se sabe sobre a família Mangione

A família de Mangione é conhecida em Baltimore por negócios que incluem clubes de campo, lares de idosos e uma estação de rádio, de acordo com a mídia local.

Os avós paternos do suspeito, Nicholas e Mary Mangione, eram investidores imobiliários e compraram os clubes Turf Valley Country Club em 1978 e o Hayfields Country Club, em Hunt Valley, em 1986.

Pouco depois de o suspeito ser acusado, o parlamentar estadual republicano Nino Mangione emitiu uma declaração dizendo que a família estava "chocada e devastada". Acredita-se que ele seja primo de Luigi.

"Oferecemos nossas orações à família de Brian Thompson e pedimos que as pessoas orem por todos os envolvidos", dizia a declaração, assinada como "A Família Mangione".

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