Mais um delator: o que há até agora contra Trump no pedido de impeachment
Um segundo informante diz ter conhecimento sobre o telefonema de Trump a presidente ucraniano; isso se soma à denúncia original e a documentos tornados públicos pelo Congresso americano.
Um segundo delator se pronunciou no processo de impeachment contra Donald Trump, alegando ter conhecimento em primeira mão sobre o pedido do presidente americano a seu par ucraniano para que investigasse seu rival político Joe Biden, dizem advogados que representam o informante.
Segundo esses advogados, que também representam o primeiro delator - o qual denunciou o telefonema feito por Trump ao ucraniano Volodymyr Zelensky em 25 de julho -, o novo informante também é um oficial americano de inteligência e também se reportou às autoridades americanas. Ainda não há detalhes públicos sobre o que o segundo delator denunciou.
Pelo Twitter, o advogado Andrew Bakaj afirmou que sua equipe representa judicialmente "múltiplos delatores em conexão com [a queixa] de 12 de agosto".
A queixa é um dos principais documentos que embasam o pedido de impeachment. Ela cita informações de diferentes oficiais de inteligência que alegavam preocupação com a possibilidade de Trump estar usando seu poder para solicitar interferência de um governo estrangeiro nas eleições de 2020, quando o americano tentará se reeleger. O documento também acusa Trump de usar US$ 400 milhões em ajuda militar para pressionar Zelensky a investigar Joe Biden, principal pré-candidato democrata para o pleito do ano que vem, e o filho dele, Hunter Biden, que trabalhou como conselheiro para uma empresa de gás ucraniana.
A Casa Branca não se pronunciou sobre o segundo delator, mas Trump tem dito repetidamente que está sendo alvo de uma "caça às bruxas" por parte da oposição democrata e negou ter pedido a interferência ucraniana na eleição, bem como ter retido a ajuda militar ao país em troca de favores.
A seguir, veja o que há até agora contra Trump no pedido de impeachment:
A denúncia
Em meados de setembro, jornais americanos publicaram reportagens apontando que um delator - cuja identidade ainda não é conhecida - relatava que Trump havia pedido, durante o telefonema com Zelensky, que a família Biden fosse investigada por supostos atos de corrupção na Ucrânia.
Isso motivou a presidente da Câmara dos Representantes, democrata Nancy Pelosi, a abrir, em 24 de setembro, um pedido de impeachment contra Trump, sob a alegação de que, ao supostamente pressionar Zelensky a agir contra um adversário político, o presidente extrapolou os limites de seu cargo para "solicitar a interferência de um país estrangeiro nas eleições de 2020" e obter ganhos eleitorais.
Pelosi afirmou em seu pronunciamento que Trump "violou seriamente a Constituição", traiu seu juramento presidencial, a segurança nacional americana e a integridade das eleições do ano que vem.
A queixa divulgada pela Casa Branca
Em 25 de setembro, a Casa Branca divulgou um memorando com anotações (não uma transcrição) sobre a conversa entre Trump e Zelensky, feitas por oficiais que a escutaram.
Segundo o documento, Trump diz a Zelensky:
-"Ouvi dizer que você tinha um procurador que era muito bom e foi demitido e isso é muito injusto. Muita gente está falando sobre isso. Houve muita discussão sobre o filho de Biden; que Biden impediu um processo de acusação [contra o filho] e muita gente quer descobrir mais sobre isso, então o que você conseguir fazer a respeito do procurador-geral, seria ótimo. Biden saiu se gabando de que impediu a investigação, então se você puder dar uma olhada nisso... [O caso] Soa terrível para mim."
Zelensky responde:
-"Vamos cuidar disso e trabalhar na investigação do caso. Além disso, peço gentilmente se você tem alguma informação adicional para nos oferecer; seria muito útil."
Trump alega que não pressionou Zelensky a agir, nem condicionou isso a nenhuma ajuda militar americana. Ele admitiu ter pessoalmente bloqueado quase US$ 400 milhões em auxílio militar a Kiev alguns dias antes de sua conversa com Zelensky, mas negou que isso fosse para pressioná-lo — e sim para forçar a "Europa e outros países a também contribuírem" com o governo ucraniano.
"Será que os democratas vão se desculpar depois de ver o que foi dito no telefonema com o presidente da Ucrânia? Deveriam, (foi) uma ligação perfeita — peguei eles de surpresa!", afirmou Trump pelo Twitter naquele dia.
O documento divulgado pelo Congresso
Dois dias depois, porém, em documento tornado público pelo Comitê de Inteligência da Câmara dos Representantes, o primeiro delator do caso afirma que, nos dias seguintes após o famigerado telefonema de 25 de julho entre Trump e Volodymyr Zelensky, "eu soube de múltiplas autoridades americanas que integrantes de alto escalão da Casa Branca haviam intervindo para um 'lock down' (ocultamento) de todos os registros do telefonema, especialmente da transcrição palavra por palavra que havia sido produzida, como de costume, pelo Situation Room (sala de conferências e gerenciamento de inteligência) da Casa Branca".
"Esse conjunto de ações me mostrou que autoridades da Casa Branca entenderam a gravidade do que havia ocorrido na ligação", prossegue a queixa do delator.
O delator, segundo o documento, afirma que a transcrição do telefonema não foi arquivada no sistema de informática usual da Casa Branca para ligações cotidianas — em vez disso, foi arquivado em um sistema separado, destinado a informações sigilosas.
O delator ressalta que "não foi testemunha direta dos eventos descritos", mas diz que achou "críveis os relatos por parte dos meus colegas, porque, em quase todos os casos, diversas autoridades relataram (informações) consistentes entre si".
Trump reagiu pelo Twitter no mesmo dia. "Um delator com informação de segunda mão? Mais uma notícia falsa! (Foi) um telefonema muito bom, sem pressão (contra o presidente ucraniano). Mais uma caça às bruxas", escreveu.
As mensagens divulgadas pelos comitês investigativos no Congresso
No dia 3 de outubro, já dentro do inquérito de impeachment que corre no Congresso americano, vieram a público mensagens de texto trocadas entre diplomatas de alto escalão ligados à Ucrânia.
Segundo a CNN, em uma dessas mensagens, Bill Taylor, diplomata sênior dos EUA na Ucrânia, afirma a Gordon Sondland, embaixador americano na União Europeia:
- "Estamos agora dizendo que assistência de segurança e reuniões com a WH [sigla de Casa Branca] estão condicionadas a investigações?"
Sondland apenas responde "me ligue".
Em outro trecho das mensagens, divulgado pelo New York Times, Bill Taylor diz a Sondland:
- "Como disse por telefone, acho uma loucura reter assistência de segurança [à Ucrânia] em troca de ajuda com uma campanha política."
Sondland responde:
- "Bill, acho que você está incorreto quanto às intenções do presidente Trump. O presidente foi claríssimo sobre a nenhuma troca de nenhum tipo. O presidente está tentando avaliar se a Ucrânia vai realmente adotar as reformas e a transparência que o presidente Zelensky prometeu durante sua campanha e sugiro que nós paremos essa ida e vinda de textos".
As mensagens de texto foram entregues ao Congresso por Kurt D. Volker, antigo enviado do Departamento de Estado americano à Ucrânia, que testemunhou perante a Casa legislativa na última quinta-feira.
Os seis comitês legislativos envolvidos nas investigações do processo de impeachment devem ouvir ainda depoimentos de diversos outros diplomatas, incluindo Gordon Sondland.
Além disso, o Departamento de Estado foi intimado a prover mais documentos relacionados ao telefonema de 25 de julho.
As conclusões desses seis comitês podem embasar ou não uma acusação formal contra Trump e uma eventual votação na Câmara por sua remoção.