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Massacre que matou 95 no Mali joga luz sobre conflito desconhecido na África

Muitos dos corpos no povoado do grupo étnico Dogon foram queimados, dizem as autoridades.

10 jun 2019 - 16h19
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As comunidades do grupo étnico Dogon geralmente seguem um estilo de vida tradicional
As comunidades do grupo étnico Dogon geralmente seguem um estilo de vida tradicional
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Quase 100 pessoas foram mortas em um ataque a um povoado habitado pelo grupo étnico Dogon, na região central do Mali, segundo autoridades locais.

O massacre aconteceu em Sobame Da, perto da cidade de Sanga, na região de Mopti.

A busca por corpos está em andamento, mas as autoridades dizem que 95 pessoas foram encontradas mortas, e muitos dos corpos haviam sido queimados.

Houve inúmeros ataques no Mali nos últimos meses, alguns ligados a conflitos étnicos, outros realizados por grupos jihadistas.

Os confrontos entre os caçadores Dogon e os pastores semi-nômades Fulani são frequentes.

O governo do Mali disse que "supostos terroristas" atacaram a comunidade e que ao menos 19 pessoas ainda estavam desaparecidas.

Mas Moulaye Guindo, prefeito de um vilarejo próximo, Bankass, disse à agência de notícias Reuters que Fulanis daquele distrito atacaram Sobane após o anoitecer.

"Cerca de 50 homens fortemente armados chegaram em motocicletas e caminhonetes", disse um sobrevivente à agência AFP. "Eles primeiro cercaram o povoado e depois atacaram - qualquer um que tentasse escapar era morto."

"Ninguém foi poupado - mulheres, crianças, idosos", acrescentou.

Nenhum grupo oficialmente assumiu responsabilidade pelo ataque.

"Neste momento, temos 95 civis mortos. Os corpos estão queimados, continuamos a procurar outros", disse uma autoridade local à AFP.

Do que se trata o conflito Dogon-Fulani?

O povo Dogon viveu no centro do Mali durante séculos, num modo de vida tradicional, como agricultores assentados.

Muitos Fulani, por outro lado, são pastores semi-nômades que percorrem grandes distâncias na África Ocidental.

O atrito entre os fazendeiros e os pastores itinerantes sobre recursos naturais é de longa data - mas os confrontos entre eles aumentaram desde a revolta dos militantes islâmicos no norte do Mali em 2012.

Ambos os lados acusam o outro de realizar ataques em meio à agitação.

Os Fulani, um grupo étnico majoritariamente muçulmano, foram acusados de ter ligações com a revolta islâmica. Mas, por sua vez, os Fulani acusam uma associação de autodefesa de Dogon, Dan Na Ambassagou, de promover ataques contra eles.

Análise: Uma crise que piora

Louise Dewast, Correspondente da BBC no Oeste da África

Há uma visão crescente no Mali de que a resposta (principalmente militar) à crise multifacetada no país é ineficaz e até contraproducente. Apesar de uma grande missão de paz da ONU e das forças francesas mobilizadas desde 2013, a insegurança piorou em algumas partes do território.

De acordo com a ONG International Crisis Group, houve quatro vezes mais ataques em maio de 2019 em comparação com maio de 2016. Em seu último relatório sobre o país, o grupo insta o governo a dialogar com militantes para negociar um cessar-fogo e facilitar o acesso humanitário a civis.

Depois de outro massacre de Fulanis em março, funcionários foram demitidos, pessoas tomaram as ruas - e todo o governo renunciou em abril.

O ataque é pouco comum?

O ataque a Sobame matou cerca de um terço de seus habitantes.

Na mesma região, em março, mais de 130 moradores Fulani foram mortos por homens armados vestindo roupas tradicionais de caçadores Dogon.

Após o ataque, o Dogon Dan Na Ambassagou foi banido pelo governo do Mali.

Mas a organização, que insiste que é um grupo de autodefesa e não tem nada a ver com os assassinatos, recusou os pedidos de entregar suas armas.

A missão das Nações Unidas no Mali, em um relatório datado de 31 de maio, disse que a situação de segurança no centro do Mali "continuou a se deteriorar".

Ele dizia que os confrontos entre os Dogon e os Fulani foram "exacerbados pela presença de grupos extremistas" e que a região central registrou o maior número de ataques contra civis.

Qual foi o impacto da insurreição islâmica?

Há vários grupos islâmicos baseados no norte do Mali. Em 2013, eles passaram a controlar metade do país e estavam avançando em direção à capital, Bamako.

A França, a antiga potência colonial no Mali, e alguns países africanos vizinhos, intervieram - e empurraram os grupos islâmicos de volta para suas fortalezas no deserto do Saara.

Antes do conflito, os desentendimentos entre os Fulani e Dogon eram frequentemente resolvidos por meio de negociações.

Mas a revolta - que se espalhou para o centro do Mali em 2015 - diminuiu o controle do governo e aumentou a disponibilidade de armas.

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