Missa da Paixão do Papa critica 'ilusão de onipotência'
Pregador disse que epidemia de coronavírus despertou humanidade
O papa Francisco celebrou nesta sexta-feira (10) a missa da Paixão do Senhor em uma Basílica de São Pedro vazia por causa da pandemia do novo coronavírus, que já contaminou mais de 1,6 milhão de pessoas em todo o mundo e deixou um rastro de cerca de 100 mil mortes.
Logo após a procissão de entrada, o líder católico se deitou no chão e rezou prostrado em frente ao crucifixo da igreja durante alguns minutos. Como de costume, o pregador oficial da Casa Pontifícia, padre Raniero Cantalamessa, celebrou a homilia e disse que a pandemia despertou a humanidade para seu maior perigo: a "ilusão da onipotência".
"Bastou o menor e mais disforme dos eventos da natureza para nos lembrar que somos mortais, que a potência militar e a tecnologia não bastam para nos salvar", disse Cantalamessa, acrescentando que o vírus "não conhece fronteiras".
"Em um instante, derrubou todas as barreiras e distinções: de raça, de religião, de riqueza, de poder. Não devemos voltar atrás. Como exortou o Santo Padre, não devemos desperdiçar essa ocasião. Não deixemos que tanta dor, tantos mortos e tanto empenho heroico dos operadores sanitários sejam em vão", afirmou. Em sua pregação, Cantalamessa também disse que a pandemia de coronavírus "não é um castigo de Deus", já que os pobres costumam sofrer as maiores consequências. "Deus desorganiza nossos projetos e nossa calma para salvar-nos do abismo que não vemos, mas Deus é nosso aliado, não do vírus", salientou.
Segundo a homilia, a natureza tem "uma espécie de liberdade para evoluir de acordo com suas leis", e o mundo não é um "relógio programado antecipadamente em cada mínimo movimento". "Outro fruto positivo da atual crise sanitária é o sentimento de solidariedade. Quando, pelo que podemos lembrar, os seres humanos de todas as nações se sentiram tão unidos, tão iguais, tão pouco dispostos a brigar, como neste momento de dor?", questionou.
Cantalamessa ainda pediu que os recursos destinados às armas sejam revertidos para a saúde, a higiene, a alimentação, a luta contra a pobreza e a proteção da natureza. "Nós também, após esses dias que esperamos que sejam breves, ressurgiremos e sairemos dos sepulcros de nossas casas, não para voltar à vida de antes, mas para uma vida nova, como Jesus. Uma vida mais fraterna e humana, mais cristã", concluiu.
Ligação ao vivo - Cerca de uma hora e meia antes da missa, o Papa entrou ao vivo em um telefonema na Rai, a emissora pública italiana, e comparou operadores sanitários e outros que estão na linha de frente contra a pandemia à Virgem Maria.
"Neste momento, penso no Senhor crucificado e em outras tantas histórias de crucificações na história e de hoje, desta pandemia: médicos, enfermeiros, enfermeiras, freiras ,padres, mortos na frente de batalha como soldados que deram a vida por amor, resistentes como Maria sob as cruzes de suas comunidades, nos hospitais, tratando dos doentes", disse Francisco.
O Pontífice ainda expressou solidariedade às vítimas da pandemia e afirmou que a esperança "não apaga a dor, mas não decepciona".