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'Moralmente incapacitado' e outras 4 coisas que ex-diretor do FBI diz sobre Trump

Em 1ª entrevista desde que deixou cargo, James Comey, que lança livro de memórias em que compara presidente americano a 'chefão', diz que povo americano tem 'dever' de removê-lo do cargo pelo voto.

16 abr 2018 - 11h58
(atualizado às 13h15)
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James Comey (à esq.) compara Trump a um mafioso em seu livro de memórias
James Comey (à esq.) compara Trump a um mafioso em seu livro de memórias
Foto: AFP / BBC News Brasil

Demitido no ano passado por Donald Trump, James Comey, ex-diretor do FBI, a polícia federal americana, afirmou em sua primeira entrevista desde que deixou o cargo que o presidente dos Estados Unidos é "moralmente incapacitado para ser presidente" e que trata mulheres como se fossem um "pedaço de carne".

As declarações de Comey, demitido por Trump no ano passado, foram dadas na noite de domingo (15) ao programa de TV 20/20 do canal americano ABC.

O ex-diretor do FBI lança nesta terça (17) nos Estados Unidos o livro A Higher Loyalty: Truth, Lies and Leadership (Uma Lealdade Superior: Verdade, Mentiras e Liderança, em tradução literal). Na obra, a qual parte da imprensa americana já teve acesso, ele compara Trump a um mafioso acima da moral e da verdade e diz que o mandatário é antiético, mentiroso e despido de emoção, entre outras coisas.

Na entrevista à rede ABC, Comey também disse que o presidente pode ter cometido obstrução de justiça quando pediu que o ex-diretor do FBI abandonasse a investigação sobre seu ex-assessor de Segurança Nacional Michael Flynn no caso das suspeitas de uma possível interferência da Rússia nas eleições americanas de 2016.

No domingo de manhã, antes da entrevista ir ao ar, Trump usou sua conta no Twitter para dizer que Comey deveria ser preso por revelar informações confidenciais. "Ele é um asqueroso fraco e mentiroso que foi, como o tempo tem provado, um diretor do FBI terrível. Seu tratamento do caso da desonesta Hillary Clinton, e os eventos que o cercam, vão sucumbir como um dos piores trabalhos da história. Foi uma grande honra demitir James Comey!".

Comey foi demitido em maio de 2017 por Trump após três anos e meio à frente do FBI, num mandato que poderia durar dez anos. A Casa Branca alegou que ele não teria tratado de maneira correta a investigação sobre o uso do e-mail pessoal de Hillary Clinton para assuntos de governo quando era secretária de Estado no governo de Barack Obama.

Dois meses antes, em março, quando suspeitas de ligações entre a campanha de Trump e a Rússia estavam sendo investigadas pelo FBI, Trump supostamente pressionou Comey a declarar publicamente que o presidente não estava sendo investigado pessoalmente - algo que o então diretor da polícia federal americana diz ter se recusado a fazer.

Veja abaixo alguns trechos de opiniões de Comey sobre Trump mencionadas no livro e em sua primeira entrevista após ser demitido.

1. Moralmente incapacitado

Quando o jornalista George Stephanopoulos, do programa 20/20, perguntou a James Comey se ele considerava Trump apto para conduzir o país, o ex-chefe do FBI disse não acreditar "na ideia dele ser mentalmente incompetente ou estar em estágio inicial de demência".

"Nosso presidente precisa personificar respeito e aderir aos valores que estão no cerne deste país. O mais importante sendo a verdade. Este presidente não é capaz de fazer isso."

"Uma pessoa que vê equivalência moral em Charlottesville, que fala e trata as mulheres como se fossem pedaços de carne, que mente constantemente sobre assuntos grandes e pequenos e insiste que o povo americano acredite nisso, essa pessoa não está apta para ser presidente dos Estados Unidos", respondeu.

Ao citar a "equivalência moral em Charlottesville", Comey estava se referindo ao argumento do presidente Trump de que "os dois lados" eram culpados pelos episódios de violência supremacista branca em Charlottesville, no estado da Virgínia, no ano passado.

2. Obstrução de justiça

Michael Flynn manteve contatos extraoficiais com embaixador da Rússia nos Estados Unidos antes de assumir o posto e teria mentido às autoridades quando confrontado sobre episódio
Michael Flynn manteve contatos extraoficiais com embaixador da Rússia nos Estados Unidos antes de assumir o posto e teria mentido às autoridades quando confrontado sobre episódio
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Parte da entrevista tratou do caso do ex-assessor de Segurança Nacional Michael Flynn, que se demitiu em fevereiro de 2017 após acusações de que teria mentido sobre contatos com o embaixador russo.

Comey disse que Trump tentou pressioná-lo a desistir da investigação sobre Flynn.

"Tomei isso como uma direção", disse Comey na entrevista. "As palavras dele foram 'espero que você possa deixar que isso vá embora'".

Comey diz que deixou passar o comentário, mas admite que deveria ter dito ao presidente que isso equivaleria a obstrução da justiça.

"Certamente há alguma evidência de obstrução de justiça", declarou Comey. "Dependeria - e eu sou apenas uma testemunha neste caso, não o investigador ou o promotor -, isso dependeria de outras coisas que refletissem sobre sua intenção."

Trump nega veemente essa versão de Comey.

3. Impeachment

Na entrevista, Comey afirmou que não acha que Trump deveria sofrer impeachment.

"Acho que o impeachment e a remoção de Donald Trump do cargo livraria o povo americano da responsabilidade de tê-lo eleito."

Em vez disso, diz o ex-diretor do FBI, povo americano tem o "dever" de removê-lo do cargo "diretamente" através do voto.

Em seu livro, Comey compara Trump a um chefão de organização criminosa.

Ele escreve que as interações com o presidente fizeram com que ele tivesse "flashbacks do período em que era um promotor enfrentando a máfia".

No passado, Comey foi promotor e ajudou a desmantelar a notória família mafiosa Gambino.

"O chefão exercendo controle completo, os juramentos de lealdade, a visão de mundo do 'nós contra eles'."

E também o hábito de "mentir sobre todas as coisas, grandes e pequenas, a serviço de algum código de lealdade que coloca a organização acima da moralidade e da verdade".

Comey ao lado do ex-presidente Barack Obama durante sua posse como diretor do FBI em 2013
Comey ao lado do ex-presidente Barack Obama durante sua posse como diretor do FBI em 2013
Foto: Reuters / BBC News Brasil

4. Prostitutas em Moscou

O ex-chefe do FBI escreve no livro que falou com Trump em pelo menos quatro ocasiões sobre as alegações não verificadas de que o magnata teria feito orgias com prostitutas russas durante uma viagem a Moscou em 2013.

As alegações vieram à tona em um dossiê de inteligência elaborado por um ex-espião britânico que havia sido contratado por inimigos políticos de Trump para descobrir podres do mandatário.

Comey diz que Trump irritadamente negou as alegações e pediu a ele que o FBI as refutasse porque elas eram "terríveis" para sua mulher, Melania Trump.

Ele relata ter abordado o assunto pela primeira vez em uma reunião na Trump Tower em janeiro de 2017, pouco antes da posse do presidente.

Comey disse na entrevista: "Ele me interrompeu muito defensivamente e disse 'Eu pareço um cara que precisa de prostitutas?' Assumi que a pergunta era retórica, e não respondi. Apenas segui em frente e expliquei: 'não estou dizendo que nós acreditamos nisso. Nós apenas pensamos que é muito importante que você saiba."

Comey acrescentou: "Honestamente, nunca pensei que essas palavras fossem sair da minha boca, mas não sei se o atual presidente dos Estados Unidos estava com prostitutas fazendo xixi umas nas outras em Moscou em 2013. É possível, mas eu não sei".

Comey diz no livro que o cabelo de Trump parece ser de verdade
Comey diz no livro que o cabelo de Trump parece ser de verdade
Foto: Reuters / BBC News Brasil

5. Cabelo e mãos de Trump

Comey, que tem 2,03 m de altura, disse que quando conheceu Trump (de 1,9 m) pessoalmente, ele parecia mais baixo do que na TV.

"Seu rosto parecia levemente laranja", escreve o ex-chefe do FBI no livro, "com meias-luas brancas brilhantes sob os olhos, onde imaginei que ele colocava pequenos óculos de bronzeamento, e cabelo louro brilhante, que após cuidadosa inspeção pareciam ser dele."

E continua: "Quando estendeu a mão, fiz uma anotação mental para verificar seu tamanho. Era menor que a minha, mas não parecia tão incomum".

Desde a eleição de Trump, tem voltado à tona uma antiga rixa com um jornalista americano que certa vez o chamara de "homem vulgar de dedos curtos" - ajudando a disseminar pelas redes sociais e pelo folclore político a história de que o presidente da maior potência do mundo teria mãos pequenas.

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