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Morte de Raisi deixa disputa pela sucessão de Khamenei em aberto, mas não muda políticas do Irã

Segundo analistas, Raisi era considerado um dos favoritos para suceder o líder supremo Ali Khamenei, que tem 85 anos, e é o verdadeiro responsável por decidir os rumos do país; a morte do presidente iraniano não deve mudar a política iraniana

20 mai 2024 - 07h18
(atualizado às 07h21)
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Presidente do Irã, Ebrahim Raisi
Presidente do Irã, Ebrahim Raisi
Foto: Presidência do Irã/WANA/Reuters

A morte do presidente do Irã, Ebrahim Raisi, em um acidente de helicóptero deixa a disputa pela sucessão do líder supremo do Irã, Ali Khamenei, mais aberta, mas não deve mudar a política do regime do país persa, segundo analistas entrevistados pelo Estadão.

Raisi era considerado um dos favoritos para suceder Khamenei, que tem 85 anos, e é o verdadeiro responsável por decidir os rumos do país. O líder supremo do Irã também tem o poder de escolher quem pode concorrer a cargos políticos.

O presidente estava no cargo desde junho de 2021.

Em 2017, Raisi perdeu as eleições para o moderado Hassan Rohani, que não concorreu em 2021 por já ter cumprido dois mandatos no cargo. "Quando Raisi concorreu e perdeu para Rohani, já dava para ver que ele não era nada carismático e nem popular", aponta o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador da Universidade de Harvard, Vitélio Brustolin.

"Uma das razões de Khamenei ter permitido que Raisi concorresse as eleições em 2021 foi porque ele não considerava Raisi uma ameaça ao seu poder", afirma Brustolin.

Nas eleições de 2021, Raisi entrou no pleito como o favorito do regime e foi eleito com 72,35% dos votos. O pleito, no entanto, aconteceu com o menor comparecimento da história da República Islâmica — dos 59 milhões de cidadãos aptos a votar, pouco mais de 28 milhões foram às urnas. O sentimento era de que a eleição serviria apenas para coroar um candidato com vitória já esperada, o que gerou apatia generalizada entre os eleitores iranianos.

Khamenei não permitiu a candidatura do ex-presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad no pleito. Ahmadinejad defendeu um boicote às eleições de 2021 e não reconheceu os resultados.

Já o professor de relações internacionais da Universidade de Londres e especialista em Irã, Karabekir Akkoyunlu, aponta que o sucessor de Raisi também deve ter um perfil linha-dura, sem representar uma mudança nas políticas iranianas.

"Todas as principais instituições da República Islâmica estão sob o controle do setor mais tradicionalista, o novo presidente seria deste grupo", explica Akkoyunlu.

Política de confronto com Israel

Mesmo que as evidências indiquem que Israel não tem nenhuma culpa no acidente que vitimou Raisi, é difícil prever os próximos passos de Teerã em relação a Tel-Aviv após a morte do presidente iraniano.

"Normalmente eu diria que o impacto geopolítico seria mínimo, mas como se trata de um momento excepcionalmente volátil e perigoso em toda a região, é difícil fazer esta afirmação com absoluta confiança. Certamente acrescenta mais uma camada de complexidade a um quadro regional já complicado", aponta o professor da Universidade de Londres.

No dia 13 de abril, o Irã realizou o maior ataque de sua história contra Israel, que contou com 170 drones, 30 mísseis de cruzeiro e 120 mísseis balísticos, sinalizando que Teerã conseguiu obter um grande poderio militar, mesmo com as múltiplas sanções econômicas e embargos contra o país.

O ataque contra Israel ocorreu em retaliação a um bombardeio aéreo atribuído a Tel-Aviv que matou sete pessoas, incluindo dois oficiais da Guarda Revolucionária do Irã, no dia 1 abril na embaixada do país em Damasco.

O Irã também apoia diversos grupos armados no Oriente Médio. Este apoio faz parte de um instrumento de política externa do país persa, por razões militares e também religiosas. A República Islâmica é xiita, assim como os Houthis no Iêmen e o Hezbollah no Líbano. Já o grupo terrorista Hamas é sunita, mas se aproximou do país persa nos anos 90, por representar a maior oposição a Israel, após os Acordos de Oslo, em 1993.

Estadão
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