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"Não queremos começar uma guerra", diz Trump sobre o Irã

Presidente americano defende ataque realizado no Iraque e afirma que não busca mudança de regime no Irã

3 jan 2020 - 18h05
(atualizado às 21h30)
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta sexta-feira que ordenou o ataque que matou o comandante da poderosa Força Quds da Guarda Revolucionária do Irã, Qassim Soleimani, para "parar uma guerra, não para começar uma". O mais alto comandante do setor de inteligência e das forças de segurança iranianas foi morto no aeroporto de Bagdá, no Iraque.

"Agimos para parar uma guerra, não para iniciar uma", afirmou Trump num pronunciamento feito em sua residência na Flórida. "Não buscamos uma mudança no regime [do Irã]. No entanto, as agressões do regime iraniano na região, incluindo o uso de combatentes para desestabilizar seus vizinhos, devem acabar e devem acabar agora", acrescentou.

Em pronunciamento, Trump disse que fez o que deveria ter sido feito há muito tempo
Em pronunciamento, Trump disse que fez o que deveria ter sido feito há muito tempo
Foto: DW / Deutsche Welle

Apesar de tentar acalmar os ânimos depois do ataque que provocou promessas de vingança por parte do Irã, Trump disse estar preparado para responder qualquer represália militar por parte de Teerã.

"Os EUA têm de longe o melhor exército do mundo, temos a melhor inteligência do mundo. Se os americanos em qualquer lugar do mundo são ameaçados, já temos os objetivos identificados. Estou pronto e preparado para tomar qualquer ação que seja necessária e isso se refere em particular ao Irã", alertou.

Sem apresentar qualquer tipo de prova, Trump afirmou que Soleimani estava planejando "ataques iminentes" contra militares e diplomatas americanos.

"Soleimani fez da morte de pessoas inocentes uma paixão doentia, contribuindo para complôs terroristas tão distantes como em Nova Délhi e Londres. Ele realizou atos de terror para desestabilizar o Oriente Médio nos últimos 20 anos", acusou o presidente americano. "Fizemos o que deveria ter sido feito há muito tempo, muitas vidas teriam sido salvas", completou.

Ao mandar matar Soleimani, Trump tomou uma decisão que os presidentes George W. Bush e Barack Obama haviam rejeitado, temendo que isso levasse a uma guerra entre os Estados Unidos e o Irã.

O Pentágono anunciou na quinta-feira que Trump havia ordenado o ataque a Soleimani, que estava em um veículo perto do aeroporto da capital iraquiana. Em nota, a Casa Branca disse que o general iraniano estava planejando ataques contra funcionários americanos na região. Após o ataque, o Irã prometeu retaliação.

Diante do agravamento das tensões, os EUA anunciaram que vão enviar mais 3 mil militares para o Oriente Médio. O Pentágono também colocou em alerta uma brigada na Itália que poderá se deslocar para o Líbano para proteger a embaixada americana no país.

Apesar de Trump anunciar o fim do "reino de terror" com a morte de Soleimani, o envio de reforço militar para região reflete a preocupação com uma possível retaliação. Os Estados Unidos também recomendaram a cidadãos americanos que deixassem o Iraque imediatamente.

Alerta da comunidade internacional

O ataque suscitou reações da comunidade internacional. Quatro dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas - Rússia, França, Reino Unido e China - alertaram para o inevitável aumento das tensões na região e pedem as partes envolvidas que reduzam a violência.

"Essa ação pode agravar seriamente a situação na região", disse o presidente da Rússia, Vladimir Putin, após conversar com seu homólogo francês, Emmanuel Macron, sobre a questão.

A China defendeu o respeito à soberania do Iraque e a independência e integridade territorial da região, além de se opor ao uso da força nas relações internacionais. "Pedimos que os lados envolvidos, especialmente os Estados Unidos, mantenham a calma e pratiquem restrições para evitar a escalada das tensões", disse um porta-voz do Ministério do Exterior chinês.

Manifestantes protestam em Teerã contra morte do general iraniano Qassim Soleimani
Manifestantes protestam em Teerã contra morte do general iraniano Qassim Soleimani
Foto: DW / Deutsche Welle

A União Europeia, França e Reino Unido pediram responsabilidade dos envolvidos e o fim do ciclo de violência na região. Já o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, apoiou o ataque conduzido pelos EUA.

O presidente Jair Bolsonaro não quis comentar o ataque. "Não tenho o poderio bélico que o americano tem para opinar neste momento. Se tivesse, eu opinaria", afirmou.

Posteriormente, em nota, o Itamaraty afirmou que o Brasil apoia "à luta contra o flagelo do terrorismo e disse que está acompanhando os desdobramentos do ataque americano. "O Brasil apela uma vez mais para a unidade de todas as nações contra o terrorismo em todas as suas formas", acrescenta o texto. A nota condena ainda a invasão da embaixada americana em Bagdá.

Herói nacional no Irã

Para o Irã, a morte de Soleimani representa a perda de um ícone cultural, que simbolizava o orgulho nacional e a resiliência enquanto o país enfrentava os EUA e suas sanções.

Embora tenha tido o cuidado de evitar envolver-se publicamente na política, a figura de Soleimani ganhou importância perante as forças americanas e israelenses, que atribuem a ele os vários ataques por procuração iranianos no Oriente Médio.

Soleimani, que sobreviveu a várias tentativas de assassinato nas últimas décadas arquitetados por americanos, israelenses e potências árabes, ganhou status de herói em seu país ao longo dos anos.

As forças armadas convencionais do Irã sofrem há 40 anos com sanções americanas, mas a força de elite de Soleimani conseguiu com sucesso construir um programa de míssil balístico. A Força Qods pode, além disso, atacar na região através de forças como o Hisbolá do Líbano e os rebeldes Houthi do Iêmen.

Como chefe da Quds, Soleimani liderou todas as ações secretas no exterior das últimas décadas e frequentemente se deslocava entre Iraque, Líbano e Síria. Os membros da Força Quds foram, por exemplo, destacados para a longa guerra da Síria para apoiar o presidente Bashar al-Assad, bem como para o Iraque na sequência da invasão americana de 2003 que derrubou o ditador Saddam Hussein, um inimigo de longa data de Teerã.

Muitos consideram que Soleimani era a segunda pessoa mais poderosa do Irã, atrás apenas de Khamenei, e, provavelmente, à frente do presidente Hassan Rohani. Através de uma mistura de operações secretas e coerção diplomática, ele foi mais responsável do que ninguém no país por projetar a influência do Irã na região.

A escalada de tensão ocorre no momento em que o Iraque já estava à beira de uma guerra por procuração de potências da região, e pouco depois de um cerco de dois dias à embaixada dos EUA em Badgá por uma multidão de militantes iraquianos. O Pentágono acusou Soleimani de ter coordenado o ataque.

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