O brutal assassinato após tortura de menina de 7 anos que chocou o México
Caso gerou indignação por atuação de autoridades em um país onde há oficialmente mais de 60 mil pessoas desaparecidas.
Fátima Cecilia Aldrighett Anton desapareceu em 11 de fevereiro, quando esperava a família ao deixar a escola. Uma mulher desconhecida a levou.
Dias depois, no fim de semana passado, seu corpo apareceu com sinais de tortura dentro de um saco plástico.
Ela tinha sete anos.
O porta-voz da Procuradoria Geral da Cidade do México (FGJCM), Ulises Lara, confirmou a identidade da criança após um exame de DNA.
E na quarta-feira (19 de fevereiro), as autoridades identificaram duas pessoas, Gladis Giovana Cruz Hernández e Mario Alberto Reyes Nájera, como suspeitos de terem cometido o "sequestro ilegal" de Fátima.
Horas após a identificação, a prefeita da Cidade do México, Claudia Sheinbaum, confirmou no Twitter a prisão do casal.
O corpo foi abandonado perto da escola onde Fátima estudava, a algumas ruas de sua casa, no bairro de Tulyehualco, no sul da Cidade do México.
O crime causou indignação no país. Desde a semana passada, uma intensa campanha se espalhou nas redes sociais, ainda na esperança de localizar a criança.
As hashtags #Fátima e #JusticiaparaFatima viralizaram no Twitter, principalmente após o aparecimento do corpo da menina.
Centenas de usuários aproveitaram para criticar a atuação do poder público no caso.
Frustração com o atraso
Parentes de Fátima criticaram que as autoridades se recusaram, em princípio, a receber a denúncia sobre o desaparecimento, porque, de acordo com o protocolo, é necessário aguardar 24 horas para iniciar a busca.
Segundo a família, esse tempo foi decisivo. "Se eles realmente tivessem nos dado mais apoio, minha filha ainda estaria viva", disse a mãe de Fátima, Magdalena Anton.
Em entrevista a jornalistas, Anton afirmou que "no mesmo dia em que minha filha sumiu, não conseguimos registrar o boletim de ocorrência, só fizemos isso no dia seguinte".
O caso também gerou repercussão política. A prefeita Claudia Sheinbaum disse que será instaurada uma investigação interna sobre a atuação da Procuradoria.
"É necessário que haja uma investigação, tornar público tudo o que aconteceu e fazer as mudanças que devem ser feitas", disse Sheinbaum. "Ela poderia ter sido encontrado viva."
Até agora, o que se sabe é que a menina esperava a chegada de um responsável fora da escola em 11 de fevereiro, quando uma mulher se aproximou, pegou sua mão e saiu andando com ela.
O momento foi registrado em uma câmara de segurança da Secretaria de Segurança Cidadã.
As imagens, divulgadas na segunda-feira, mostram a mulher e a menina andando lentamente por várias ruas.
O trajeto completo não foi registrado, pois várias câmeras na área não estavam em operação.
A polícia encontrou uma casa onde a mulher e a garota aparentemente entraram. Os ocupantes do imóvel foram interrogados.
São as últimas pistas da menina. A partir desse momento, não se teve notícia dela, até a tarde de sábado, 15 de fevereiro, quando moradores do bairro de Los Reyes, no município de Tláhuac, encontraram seu corpo.
Além disso, sabe-se que o diretor da escola onde a menina estudava foi suspenso. Autoridades também estão analisando por que a instituição não seguiu o protocolo para entregar a criança ao seu responsável. A regra é que, se os alunos não forem buscados por familiares autorizados, devem ser encaminhados ao Ministério Público.
Os parentes de Fátima dizem que o crime poderia ter sido evitado.
"Não é possível que todos esses dias tenham passado, que a família tenha dado todas as pistas e feito o trabalho para encontrá-la", disse Sonia López, tia da menina.
"Não é possível que tenham perdido horas fundamentais para encontrá-la. Ela poderia ter sido encontrada viva e ninguém prestou atenção em nós."
O FGJCM havia oferecido uma recompensa de 2 milhões de pesos mexicanos (R$ 470 mil) por informações que levassem à sequestradora.
Onda de indignação contra os feminicídios
O assassinato de Fátima ocorre em meio a uma onda de indignação pelo assassinato de outra mulher, Ingrid Escamilla, na semana passada.
O crime desencadeou protestos contra os feminicídios — homicídio praticado contra a mulher em decorrência do fato de ela ser mulher.
Na capital mexicana, 68 feminicídios foram registrados em 2019, de acordo com a Secretaria Executiva do Sistema Nacional de Segurança Pública.
O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, culpou o "neoliberalismo" por esse tipo de crime.
"Os homicídios viram estatísticas, mas o grau de decomposição social produzido pelo modelo neoliberal não é mensurado", disse o presidente em uma entrevista a jornalistas quando questionado sobre o assassinato de Fátima.
O número de desaparecidos no México também é alto: são 60,6 mil pessoas, segundo o balanço mais recente do governo. A maioria delas desaparece em conexão com a violência do crime organizado.