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O centenário grupo pró-migrantes que ajudou fundador do Google e virou alvo de ataque antissemita

HIAS, entidade que foi criada em 1881 para ajudar no reassentamento de judeus alvo de perseguição no mundo, foi citada por extremista que matou 11 pessoas em sinagoga americana.

28 out 2018 - 14h31
(atualizado às 15h42)
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Pessoas prestam homenagem diante de sinagoga alvo de ataque no sábado, em Pittsburgh; atirador tinha histórico de declarações antissemitas
Pessoas prestam homenagem diante de sinagoga alvo de ataque no sábado, em Pittsburgh; atirador tinha histórico de declarações antissemitas
Foto: AFP / BBC News Brasil

Uma organização de amparo a imigrantes que já ajudou até um dos fundadores do Google entrou nos holofotes mundiais depois de ser citada por um extremista americano.

Poucas horas antes de entrar armado em uma sinagoga de Pittsburgh (EUA) e matar 11 pessoas durante a cerimônia religiosa de shabbat, no sábado, o atirador Robert Bowers postou em uma rede social que "a HIAS gosta de trazer invasores que matam nosso povo. Não posso ficar assistindo enquanto meu povo é massacrado. Dane-se a sua ótica, vou agir".

HIAS é a sigla, em inglês, de Sociedade de Ajuda ao Imigrante Hebraico, entidade que há 137 anos dá apoio a perseguidos de origem judaica e a refugiados a migrar, sobretudo para os EUA.

Um deles é Sergey Brin, cofundador do Google, cuja família, junto a milhares de outras, emigrou para os Estados Unidos há cerca de 40 anos, para fugir do antissemitismo na antiga União Soviética. Brin tinha seis anos na época.

Segundo o jornal americano The New York Times, Brin retribuiu doando US$ 1 milhão à HIAS em 2009.

Sergey Brin, cofundador do Google, doou US$ 1 mi à entidade em 2009, diz o New York Times
Sergey Brin, cofundador do Google, doou US$ 1 mi à entidade em 2009, diz o New York Times
Foto: Google / BBC News Brasil

"Eu nunca teria tido na União Soviética ou na Rússia atual as oportunidades que tive aqui (nos EUA)", disse Brin ao jornal na ocasião. "Quero que qualquer pessoa possa alcançar seus sonhos, e é isso que (a HIAS) faz."

Segundo a própria organização, a HIAS foi fundada em 1881 por judeus americanos para amparar outros judeus que fossem alvo de ataques na Rússia e no Leste Europeu, antes mesmo de o conceito de refugiado existir no léxico global de direitos humanos.

A organização ampliou sua atuação durante as duas guerras mundiais, quando aumentou de modo exponencial o fluxo de migrantes aos EUA - segundo o site da HIAS, a entidade ajudou 150 mil pessoas que estavam em campos de concentração na Segunda Guerra a encontrar abrigo em 330 comunidades nos EUA, na Canadá, na Austrália e na América do Sul.

Em 1923, por exemplo, a entidade sediou, em Nova York, um ato com centenas de judeus que protestavam contra a retenção de 3 mil judeus em Ellis Island (porta de entrada para migrantes que buscavam refúgio na cidade).

Os migrantes eram alvo de uma medida do governo do então presidente Calvin Coolidge, que havia determinado restrição à entrada de estrangeiros nos EUA, em uma época em que críticos da imigração se opunham à vinda de pessoas do sul e leste europeus, por considerar que eles sugavam recursos e traziam ideias "controversas" aos EUA.

Migrantes em Ellis Island, Nova York, no início do século passado; alguns eram alvo de preconceito ao chegar aos EUA
Migrantes em Ellis Island, Nova York, no início do século passado; alguns eram alvo de preconceito ao chegar aos EUA
Foto: AFP / BBC News Brasil

Em 2000, a HIAS passou a ajudar refugiados de outras origens que não a judaica, como afegãos, etíopes e haitianos, por exemplo. A agência é uma entre nove que trabalham com o governo americano no reassentamento de refugiados no país.

"Entendemos melhor do que ninguém que o ódio, o preconceito e a xenofobia devem ser expressamente proibidos pelas leis americanas e internacionais e que o direito de pessoas perseguidas a buscar o status de refugiado deve ser preservado", diz o site a entidade.

Em postagens prévias nas redes sociais, o atirador Robert Bowers havia dito que a HIAS ajuda a "trazer invasores hostis para morar entre nós (americanos)".

Em comunicado no sábado, pouco depois do massacre em Pittsburgh, a entidade emitiu nota dizendo estar "sem palavras para expressar o quão devastados estamos pelo ocorrido. Essa perda é nossa perda também. (...) Rezamos para que a comunidade judaica e os EUA possam se curar".

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