O desaparecimento de uma garota que intriga a Inglaterra há meio século
April Fabb, de 13 anos, desapareceu enquanto pedalava rumo à casa da irmã em abril de 1969. Mesmo após tanto tempo ter se passado, o caso segue presente na mente dos ingleses e de quem participou de sua investigação.
É um medo que todo pai tem: o desaparecimento de um filho. E o meio século que se passou desde que April Fabb sumiu, aos 13 anos, não acabou com a dor sentida pelas pessoas com quem ela convivia - nem o terrível fascínio em encontrar uma resposta para o caso que, 50 anos depois, ainda segue pendente.
O Sol estava brilhando quando April subiu em sua bicicleta em 8 de abril de 1969. Era o feriado de Páscoa, e a menina planejava percorrer os 2 km de seu pacato vilarejo de Metton, no condado de Norfolk, no leste da Inglaterra, até a casa de sua irmã. Estava empolgada para entregar um presente de aniversário ao cunhado, um pacote com dez cigarros. Mas ela nunca chegou ao seu destino.
"Para ser bem honesto", diz o relações públicas Michael Cole, que era repórter da BBC à época, "ela sumiu do mapa."
A polícia realizou a maior operação de busca que a região já viu.
Desde seu desaparecimento, policiais visitaram 400 casas, fizeram centenas de entrevistas, coletaram quase 2 mil declarações e passaram diversas horas debruçados sobre o caso, mas nunca chegaram perto de solucioná-lo.
O primeiro sinal de que algo estava errado
Para pessoas de mais idade, o rosto de April é familiar. Ela era a mais jovem das três filhas de Ernest e Olive Fabb e morava com os pais em Metton - suas irmãs Pamela e Diane já haviam se mudado.
Tímida, ela era adorava animais, especialmente o cão da família, o terrier Trudy. Seus interesses eram típicos de uma adolescente da época: gostava de colecionar selos, bordar...
Nas paredes de seu quarto, havia pôsteres de sua banda favorita, Amen Corner. Eles permaneceriam ali por anos após seu desaparecimento, intocados por seus pais, na esperança de que um dia ela voltasse.
O primeiro sinal de que algo estava errado veio quando a noite caiu na terça-feira, dia 8 de abril, e a adolescente ainda não havia voltado para casa. Às 22h, depois de saber que April não tinha sido vista o dia todo, os pais dela se alarmaram.
Eles ainda não sabiam, mas sua bicicleta havia sido encontrada em um descampado por um motorista que passava por perto e levada para uma delegacia de polícia de Cromer, a cidade vizinha. Essa descoberta acentuou o temor inicial de que April não havia simplesmente fugido.
A maior operação de buscas já realizada em Norfolk
Na madrugada de 9 de abril, o detetive mais experiente de Norfolk, Reginaldo Lester, foi chamado. Ele imediatamente compreendeu a situação e suspeitou que April deveria ter sido sequestrada. O caso o assombraria até sua morte, 48 anos depois.
A busca liderada por ele foi a maior da história da força policial de Norfolk. No primeiro dia, envolveu 40 policiais e todos os cães farejadores do condado. Moradores do vilarejo ajudaram, um helicóptero sobrevoou a região, parentes distantes foram contatados. Descrições de April, que tinha 1,62 m de altura, cabelos castanhos claros e olhos azuis, foram distribuídas.
Sua família se agarrava à esperança de que sua ausência tivesse uma simples explicação. "Ela é o tipo de garota que se ela visse algumas flores bonitas, ela provavelmente iria colhê-las", disse seu pai.
As primeiras pistas
Na quinta-feira, no segundo dia de buscas, ainda mais pessoas estavam ajudando, desesperadas para encontrar uma garota que a maioria delas conhecia.
Foi um dia em que surgiram algumas pistas, publicou o jornal local Eastern Daily Press na sexta-feira. Um lenço ensanguentado bordado com a letra "A" foi achado. Chegaram relatos de que uma van foi vista andando em alta velocidade por Metton na tarde de terça-feira. Os passageiros de um trem para Norwich se lembraram de ter visto uma adolescente a bordo.
As buscas se intensificaram: lagos foram vasculhados por mergulhadores, cartazes de April foram colocados em estações ferroviárias, e cafés e hotéis foram visitados em busca de alguém que a tivesse visto.
Na sexta-feira, três dias depois de ela sumir, seus pais lhe pediram diretamente pela imprensa para voltar para casa. Eles deixaram a porta de casa destrancada à noite e a luz acesa na varanda.
Com mais informações e relatos de testemunhas, a polícia montou uma linha do tempo.
Os minutos perdidos
Quando April deixou Metton para ir à casa de sua irmã Pamela, ela viu dois amigos brincando com um burro no campo de um fazendeiro. Ela parou para acariciá-lo e, então, retomou sua jornada.
A última vez que a garota de 13 anos foi vista foi por um motorista que ia na direção oposta quando ela saía do vilarejo, às 14h06.
Nove minutos depois, a bicicleta de April foi achada em um campo por três trabalhadores da Ordnance Survey, a agência nacional britânica de mapeamento, que estavam passando ao longe. A bicicleta estava jogada em um barranco ao lado da pista em que April pedalava. O que aconteceu nestes poucos minutos é a chave para o destino da adolescente.
Com o passar do tempo, as pistas esfriaram. O lenço ensanguentado havia sido usado por uma mulher para cuidar do joelho machucado de seu filho. Os motoristas apresentaram seus álibis, e a teoria de que ela havia fugido foi descartada. Mesmo assim, como relatou o Eastern Daily Press, alguns ainda suspeitavam de uma fuga e que ela estava com medo de voltar.
Orações foram feitas para a família de April no domingo de manhã, e empresas locais contribuíram com ofertas de recompensas para qualquer pista.
Mas as boas intenções não conseguiam mascarar a falta de progresso nas buscas. Um mês depois de seu desaparecimento, a manchete do jornal local dizia: "Ainda não há notícias de estudante desaparecida".
Depois de 50 anos, o mistério continua
Ficou claro desde o início que April havia sido sequestrada, diz Michael Cole. "Foi um crime horrível, porque, nos 50 anos desde então, não houve nenhuma evidência crível sobre seu paradeiro ou de seus restos mortais. Continua sendo um mistério. E isso é angustiante para sua família e para as pessoas que a conheciam."
Sem progressos e com poucas pistas, a atenção nacional sobre o caso logo diminuiu. Cole mudou de profissão e viajou o mundo, mas diz que a história permaneceu em sua mente. "A comunidade ficou abalada, sem saber o que fazer quanto a isso", disse ele.
"Mas são os pequenos detalhes que partem o coração. Em seu alforje na bicicleta, ainda estavam os dez cigarros para seu cunhado, cinco centavos de libra e um lenço."
Estes objetos permanecem com a polícia de Norfolk - a bicicleta de April foi descartada a pedido de sua mãe anos atrás. Eles estão sob a responsabilidade do detetive aposentado Chê Andy Guy, que cuida dos casos antigos e diz já ter revirado o arquivo sobre April desde 2005.
Ele acredita que April foi sequestrada por um predador que passava por Metton ou por um morador da cidade que, ele admite, "não esteve sob a nossa mira".
Solução do caso pode estar na comunidade local?
Ele ainda espera que a solução do caso possa estar na comunidade local. Existe alguém que age estranhamente em torno do aniversário de April ou na área em que ela foi raptada?
"Eu acho que há algo aí", diz ele. "Não acho que esgotamos totalmente essas investigações em 1969. Quando você olha para o caso hoje, há coisas ainda não esclarecidas."
A polícia hoje pode recorrer a coisas como o reconhecimento automático de placas de carro, imagens de câmeras de segurança e registros de uso de celulares.
"É muito diferente daquela época, quando tudo o que tinham eram as testemunhas", diz ele. "Havia muito poucas linhas de investigação disponíveis."
A crença de que alguém ainda possa apresentar pistas cruciais foi alimentada por novas evidências na última década. Em 2010, a polícia escavou um poço perto de Metton depois o proprietário da terra dizer ter visto ali camadas de polietileno preto na época do desaparecimento de April.
No ano seguinte, chegaram notícias de que um homem havia sido visto cavando um túmulo nas proximidades, no fim de semana da Páscoa, em 1969.
Isso mostra o persistente interesse público no caso: mesmo sendo um dos 59 casos mais antigos de Norfolk, ele ainda gera informações. As teorias são compartilhadas entre as famílias, e os pedidos de ajuda feitos pela policia despertam novas discussões na internet.
Supostas pistas do caso ainda continuam a aparecer
Guy acredita que as características do caso de April fazem com que ele permaneça na mente das pessoas. "Ela era uma menina de uma boa família, que vivia em um local rural idílico. É algo próximo de muita gente", diz ele.
Maurice Morson, agora aposentado há mais de 30 anos, ainda recebe pistas. "Sempre que chega o aniversário do caso, recebo bilhetes por debaixo da porta com informações", diz ele.
"As pessoas desenham mapas, dizem onde ela está, porque alguém teve um sonho sobre isso, conhecem alguém que conhece alguém ou tem uma teoria que acha que não investigamos."
Um homem apresentado como possível suspeito foi Robert Black, o notório assassino em série escocês que morreu na prisão em 2016 enquanto cumpria pena pelo assassinato de quatro garotas entre 1981 e 1986.
Apesar de uma característica marcante do desaparecimento de April se encaixar com a forma como ele atuava - ele sequestrava suas vítimas na estrada -, a polícia nunca encontrou nenhuma evidência que o ligasse a Norfolk em 1969.
Muitos moradores ainda acreditam que as obras de construção de instalações de gás podem ser o local onde o corpo de April foi deixado, mas a polícia diz ter vasculhado os encanamentos completamente, sem sucesso.
Na porta da igreja que April costumava frequentar, fica um memorial para a adolescente. A lápide fica cercada por narcisos na época do seu aniversário, toda primavera.
O pai de April morreu em 1998 e sua mãe, em 2013. Suas irmãs, que ainda moram na área, são informadas de quaisquer novos desdobramentos pela polícia. Morson também permanece em contato com a família.
"April faria 64 anos neste mês. Ela provavelmente seria avó", diz ele. "Descobrir o que aconteceu agora provavelmente causaria uma nova angústia para a família, ao pensar que a mãe e o pai nunca puderam saber disso. Mas o objetivo é chegar à verdade. Será que isso vai acontecer? Não sei."