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O dia em que os britânicos, com apoio de Thatcher, decidiram permanecer na Europa

22 jun 2016 - 06h19
(atualizado às 08h22)
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Cartaz do referendo de 1975, durante o governo do primeiro-ministro Harold Wilson
Cartaz do referendo de 1975, durante o governo do primeiro-ministro Harold Wilson
Foto: Getty Images

As circunstâncias são parecidas com o momento atual na Grã-Bretanha: o primeiro-ministro promete renegociar os termos de adesão do país à Europa e, em seguida, deixa que os eleitores tomem a decisão de aderir ou não bloco.

O governo exorta o público a votar "sim" para ficar no bloco, mas vários membros do próprio gabinete se opõem a ele e fazem sua própria campanha pelo "não".

Só que tudo isso aconteceu 41 anos atrás; muita gente não sabe que o plebiscito de 23 de junho, em que os britânicos se preparam para decidir sobre sua permanência na União Europeia, não foi o primeiro do tipo no país.

Entre os temas em discussão no plebiscito atual estão as leis imigratórias
Entre os temas em discussão no plebiscito atual estão as leis imigratórias
Foto: Getty Images

Em 5 de junho de 1975, o governo do primeiro-ministro trabalhista Harold Wilson perguntou aos eleitores: "Você acha que o Reino Unido deve permanecer na Comunidade Econômica Europeia (CEE)?"

Afiliação

O Reino Unido aderiu à CEE em 1973, durante o governo conservador de Edward Heath.

Mas durante as campanhas eleitorais que se seguiram, em 1974, o Partido Trabalhista prometeu que as pessoas poderiam dizer "nas urnas" se queriam continuar pertencendo ao Mercado Comum.

Assim, quando os trabalhistas ganharam a eleição, eles mantiveram sua promessa.

Este foi o primeiro plebiscito sobre o assunto em todo Reino Unido. Antes, houve plebiscitos individuais na Escócia, País de Gales, Irlanda do Norte, Londres e seus entornos e outras cidades.

Margaret Thatcher usou argumentos apaixonados em sua campanha para o Reino Unido ficar na Europa
Margaret Thatcher usou argumentos apaixonados em sua campanha para o Reino Unido ficar na Europa
Foto: Getty Images

Hoje, as coisas parecem estar se repetindo.

Durante sua campanha para as eleições de 2015, o primeiro-ministro conservador David Cameron prometeu que, se fosse vencedor, realizaria um plebiscito sobre a adesão do país à UE.

Antes disso, tentaria renegociar os termos de adesão ao bloco.

Esta promessa foi em resposta aos pedidos de vários de seus próprios parlamentares conservadores e do direitista Partido da Independência do Reino Unido (Ukip, na sigla em inglês), que argumentavam que o país não tinha expressado uma opinião sobre a questão europeia desde 1975.

No referendo do dia 23, britânicos respoderam se querem ou não permenacer na Europa
No referendo do dia 23, britânicos respoderam se querem ou não permenacer na Europa
Foto: Getty Images

Estas vozes argumentaram que a UE tinha mudado muito e adquirido controle excessivo sobre as vidas diárias dos britânicos.

Cameron, em seguida, cedeu: "É o momento de o povo britânico expressar sua opinião. É o momento para resolver esta questão europeia na política britânica".

Hoje, a questão que os britânicos responderão em 23 de junho será:

"O Reino Unido deve continuar a ser um membro da União Europeia ou deve deixar a União Europeia?".

Divisões

Quando Harold Wilson anunciou que realizaria um plebiscito sobre a Europa, a então nova líder do Partido Conservador - de oposição -, Margaret Thatcher, criticou a decisão do governo trabalhista como uma "estratégia para superar as divisões dentro de seu próprio partido".

Em 2016, poderia se dizer o mesmo sobre o plebiscito do governo David Cameron.

Em 1975, os partidos Conservador e Trabalhista estavam profundamente divididos sobre a questão. Hoje, o quadro é parecido, os conservadores estão bem divididos, os trabalhistas, entretanto, menos.

E as campanhas que foram realizadas há quatro décadas têm mais do que uma ligeira semelhança com o que está sendo visto agora.

Em 1975, Margaret Thatcher era líder do Partido Conservador, de oposição, e fez campanha pelo "sim"
Em 1975, Margaret Thatcher era líder do Partido Conservador, de oposição, e fez campanha pelo "sim"
Foto: Getty Images

Em 1975, a líder da oposição, Margaret Thatcher, apoiou a permanência do país na Europa, juntando-se à causa do governo trabalhista.

"O primeiro-ministro tem que confiar mais em seus opositores políticos do que em seus supoestos amigos políticos para garantir a decisão sobre a Europa que considera certo para o Reino Unido", disse Thatcher no Parlamento, em 8 de abril de 1975.

"Tem sido sugerido em alguns lugares que o meu partido poderia achar tentador retirar seu apoio para constranger o primeiro-ministro, mas nós consistentemente temos votado a favor da Europa e não consideramos mudar de ideia sobre este assunto", acrescentou.

Muitos políticos conservadores que apoiam a saída da UE - como o ex-prefeito de Londres Boris Johnson - veem a União Europeia com outros olhos, e certamente não concordam com a visão de Thatcher na época.

Mas aqui é bom lembrar que o Mercado Comum era uma aglomeração bem menor de países (nove), um bloco que seguia regras comuns mais voltadas para o âmbito do comércio. A UE, hoje, tem 28 países, que seguem as mesmas regras para vários setores, de comércio a imigração.

Os partidos políticos estavam muito divididos sobre a questão da Europa em 1975
Os partidos políticos estavam muito divididos sobre a questão da Europa em 1975
Foto: Getty Images

"Todos devem apresentar-se nesse plebiscito e votar sim, para que o assunto seja resolvido de uma vez por todas, para estejamos realmente na Europa e prontos para seguir em frente", disse Thatcher em uma entrevista para a televisão em 1975.

Hoje, o líder da oposição trabalhista Jeremy Corbin, juntou-se à causa do governo conservador de David Cameron apoiando a permanência na UE, mas deixou claro repetidas vezes que "não está do mesmo lado do argumento" Cameron.

"Imagine o que os Tories (conservadores) fariam com os direitos dos trabalhadores no Reino Unido se votarmos para sair da UE, em junho", escreveu Corbin no site do Partido Trabalhista.

O primeiro-ministro trabalhista Harold Wilson apoiou a campanha para ficar na Europa em 1975
O primeiro-ministro trabalhista Harold Wilson apoiou a campanha para ficar na Europa em 1975
Foto: Getty Images

"Abandonariam, com a maior velocidade possível, os direitos à igualdade de remuneração, horas de trabalho, direito a férias e pagamentos de maternidade. Seria uma fogueira dos direitos garantidos pelos governos trabalhistas no âmbito da UE" .

Isto, diz o líder trabalhista, "é um forte argumento socialista para permanecer na União Europeia. Como há um poderoso argumento socialista para reformar e fazer mudanças progressivas na Europa."

Os principais temas

De acordo com relatos da época, as principais questões sobre as quais os eleitores se basearam para votar no plebiscito foram a economia, a defesa, o papel do Reino Unido em assuntos internacionais, a segura e a paz futuras.

Em 1975, muitos tinham memórias relativamente recentes da Segunda Guerra Mundial e uma cooperação mais estreita com a Europa era vista como crucial para evitar conflitos futuros.

Hoje, os tópicos mais quentes são a imigração e o controlo das fronteiras britânicas, a economia e a soberania nacional.

O ex-prefeito de Londres, Boris Johnson, apoia a saída de Reino Unido da UE
O ex-prefeito de Londres, Boris Johnson, apoia a saída de Reino Unido da UE
Foto: Getty Images

Em 5 de junho de 1975, o público britânico disse 'sim' à permanência na Comunidade Europeia. Os resultados do plebiscito mostraram que 67,5% dos eleitores - 17,378,581 pessoas - votou para ficar.

Roy Jenkins, um dos deputados trabalhistas que apoiaram a campanha para o "sim", pensou que estes resultados resolveriam, de uma vez por todas "a questão da Europa".

"Isso deixa a incerteza no passado. Ele compromete o Reino Unido com a Europa", disse na época.

Jenkins certamente não imaginava que a história se repetiria e que a incerteza sobre a Europa seguiria presente 41 anos mais tarde.

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