O encontro entre Lula e Zelensky que não aconteceu - e mais 3 destaques da cúpula do G7
Presidente brasileiro condenou em discurso 'violação da integridade territorial da Ucrânia', país que acabou centralizando as atenções do encontro no Japão.
A Ucrânia e seu presidente, Volodymyr Zelensky, dominaram as atenções na cúpula do G7, realizada neste fim de semana em Hiroshima, no Japão.
O G7, grupo de sete das economias mais avançadas do mundo, reúne EUA, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália e Japão - Brasil e outros sete países participaram como convidados do evento.
Zelensky, por sua vez, fez uma viagem surpresa à cúpula, um dia antes do esperado. Era previsto um encontro entre ele e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, que não ocorreu.
Veja, a seguir, esse e outros três pontos de destaque da cúpula:
1 - O encontro que não ocorreu
Lula, que nos últimos meses foi alvo de críticas de EUA e União Europeia por suas declarações sobre a Ucrânia - incluindo a fala de que "a decisão da guerra foi tomada por dois países" -, tem defendido uma posição de neutralidade na guerra. Mas é pressionado por países ocidentais a adotar uma postura mais crítica à Rússia.
Durante uma das sessões da cúpula do G7, o presidente brasileiro chegou a se pronunciar a respeito, diante de Zelensky, dizendo:
"Condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia. Ao mesmo tempo, a cada dia em que os combates prosseguem, aumentam o sofrimento humano, a perda de vidas e a destruição de lares. Tenho repetido à exaustão que é preciso falar de paz".
Havia a expectativa de que Lula e Zelensky se reunissem em um encontro bilateral durante a cúpula, o que acabou não acontecendo.
Questionado em entrevista coletiva se ficou decepcionado com a ausência do encontro, Zelensky afirmou que o desapontamento seria, na verdade, de Lula.
"Eu me encontrei com quase todos os líderes. Mas todo mundo tem seu próprio calendário, motivo pelo qual acho que não pudemos nos encontrar com o presidente brasileiro", declarou.
2 - Defesa do multilateralismo e reforma de Conselho de Segurança
Lula, por sua vez, centrou suas falas durante o G7 sobretudo na defesa do multilateralismo - em oposição ao que chamou de "blocos antagônicos" - e de mudanças no Conselho de Segurança da ONU.
"Não faz sentido conclamar os países emergentes a contribuir para resolver as 'crises múltiplas' que o mundo enfrenta sem que suas legítimas preocupações sejam atendidas, e sem que estejam adequadamente representados nos principais órgãos de governança global. (...) Sem reforma de seu Conselho de Segurança, com a inclusão de novos membros permanentes, a ONU não vai recuperar a eficácia, autoridade política e moral para lidar com os conflitos e dilemas do século 21", declarou em uma das sessões.
Esse Conselho, cuja missão principal é "manter a paz e a segurança internacional", tem cinco membros permanentes (China, França. Rússia, Reino Unido e EUA) e dez não permanentes, eleitos para mandatos de dois anos (o Brasil participa do órgão atualmente). Mas apenas os membros permanentes têm poder de veto em resoluções.
"O Conselho encontra-se mais paralisado do que nunca. Membros permanentes continuam a longa tradição de travar guerras não autorizadas pelo órgão, seja em busca de expansão territorial, seja em busca de mudança de regime", disse Lula em outro momento.
3 - Dinheiro e caças à Ucrânia
Mas o centro das atenções da cúpula era a Ucrânia.
Durante o evento, os EUA anunciaram o aval para que países aliados cedam caças americanos F-16 à Ucrânia - algo que até então era restrito.
Embora nenhuma oferta de caças tenha se confirmado até agora, é algo visto como avanço significativo na frota aérea de Kiev, que conta com aviões militares da era soviética.
Ao mesmo tempo, existe o temor de que isso possa escalonar ainda mais a guerra - a Rússia já afirmou que países incorrerão em "riscos colossais" se decidirem ceder caças F-16 à Ucrânia.
O presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou também o 38° pacote militar americano à Ucrânia, com mais US$ 375 milhões.
Biden afirmou que o G7 compartilha um "resoluto compromisso de apoiar o corajoso povo da Ucrânia".
Em resposta, a Rússia afirmou que a cúpula foi um evento "politizado" que prejudica a estabilidade global.
4 - Tensões com a China
Outro foco do G7 foram as crescentes tensões do Ocidente com Pequim.
No comunicado final do encontro, os líderes do G7 se comprometeram em "reduzir dependências excessivas (da China) em nossas cadeias de suprimento essenciais" e também "fortalecer a resistência contra a coerção econômica" - em alusão ao fato de que o G7 está intrinsecamente ligado à China pelo comércio.
Pequim respondeu expressando "forte insatisfação" com o comunicado.
"O G7 insiste em manipular questões relacionadas à China, caluniando e atacando a China", disse um porta-voz da Chancelaria chinesa.
Durante o encontro, Joe Biden também tratou de Taiwan - ilha que a China considera uma província rebelde.
O presidente americano afirmou que os EUA continuarão a colocar Taiwan "em uma posição em que eles consigam se defender" do que enxergam como ameaças chinesas.
Biden afirmou que há um "claro entendimento" entre EUA e aliados de que "haverá uma resposta" a eventuais ações militares chinesas em Taiwan.