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O mundo está entrando em uma nova Guerra Fria?

As tensões entre os EUA e a China ficaram evidentes pelos discursos de Trump e Xi Jinping na Assembleia Geral da ONU em Nova York.

26 set 2020 - 15h32
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Tensão entre as duas potências coloca o mundo em alerta
Tensão entre as duas potências coloca o mundo em alerta
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O Organização das Nações Unidas (ONU) está comemorando seu 75º aniversário justo em um momento em que a ordem global pós-2ª Guerra Mundial que possibilitou sua criação está instável.

Como observou o ex-secretário-geral da ONU Ban Ki Moon, o multilateralismo está em sério perigo.

A política externa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez os Estados Unidos desprezarem desde as convenções multilaterais do Acordo de Paris até o acordo nuclear com o Irã.

Enquanto isso, a China se posiciona visivelmente como o novo apoiador das Nações Unidas. Mas a crescente influência chinesa tem um preço.

Se Pequim está dedicando mais dinheiro para financiar agências da ONU como a Organização Mundial de Saúde (OMS), vai querer mais voz como resultado.

As ansiedade sobre o que a rivalidade Estados Unidos-China significa para a estabilidade global foram abundantes na Assembleia Geral da ONU nesta semana.

Devido à pandemia, a abertura da Assembleia Geral da ONU foi diferente neste ano
Devido à pandemia, a abertura da Assembleia Geral da ONU foi diferente neste ano
Foto: EPA / BBC News Brasil

O presidente francês Emmanuel Macron não disfarçou a urgência em seu tom de voz ao dizer que o mundo de hoje não pode ficar refém da rivalidade entre a chineses e americanos.

Essa rivalidade, que tem feito os dois países se confrontarem em tudo — do comércio à tecnologia — está se tornando cada vez mais acirrada.

E o presidente Trump elevou ainda mais o tom de crítica de sua retórica, usando sua plataforma no cenário mundial para criticar o que chamou de "vírus da China".

Com menos de 40 dias para a eleição nos Estados Unidos, a crítica a Pequim é parte fundamental da campanha eleitoral de Trump.

Há um esforço de sua campanha para se desviar das críticas sobre a forma como o presidente lidou com a pandemia criticando a China por "exportar o vírus".

Um mundo bipolar no qual os Estados Unidos e a China disputam a supremacia levaria a um conflito militar?

'Estamos avançando em uma direção perigosa'

É evidente que o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, está preocupado com o que vem pela frente, ao alertar para a possibilidade de outra "Guerra Fria". "Estamos avançando em uma direção muito perigosa", disse.

"Nosso mundo não pode permitir um futuro em que as duas maiores economias dividam o globo — cada uma com suas próprias regras comerciais e financeiras e capacidades de internet e inteligência artificial", declarou.

"Uma divisão tecnológica e econômica corre o risco de se transformar inevitavelmente em uma divisão geoestratégica e militar. Devemos evitar isso a todo custo."

Essa discussão aberta sobre as consequências de uma "grande divisão" mostra como o mundo está mudando rapidamente e como os diplomatas estão lutando para acompanhá-lo.

O presidente da China, Xi Jinping, declarou no debate geral virtual que "a China não tem intenção de travar uma Guerra Fria com nenhum país". Essa declaração foi reveladora.

A presidência de Donald Trump intensificou as tensões com a China, a tal ponto que as especulações sobre aonde tudo isso leva são abundantes.

Um experiente diplomata disse à BBC na terça-feira que o debate na ONU sempre foi visto como um "caos criativo".

Quando os líderes mundiais se reuniam de boa vontade e se encontravam em reuniões privadas, a verdadeira diplomacia era feita.

Agora é apenas o caos, disse este veterano com tristeza, perguntando retoricamente quem está no comando e qual líder mundial defende algo além de seu interesse próprio.

Injustiças e solidariedade

Esta foi a primeira vez que o encontro foi virtual
Esta foi a primeira vez que o encontro foi virtual
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A pandemia evidenciou as injustiças do mundo, observou o secretário-geral da ONU.

As pessoas estão sofrendo e nosso planeta está queimando, disse ele, implorando aos líderes mundiais que vejam a covid-19 como um alerta e um ensaio geral para os desafios que virão no futuro.

Mesmo assim, uma hora depois de Guterres dizer que solidariedade é do interesse de todos para o futuro, Trump declarou que todos os líderes mundiais deveriam seguir seu exemplo e colocar seus países em primeiro lugar.

O resultado das eleições nos EUA, onde Biden rivaliza com Trump, vai afetar o equilíbrio mundial
O resultado das eleições nos EUA, onde Biden rivaliza com Trump, vai afetar o equilíbrio mundial
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Se ele for reeleito, seu unilateralismo se tornará mais pronunciado, e as Nações Unidas provavelmente serão ainda mais marginalizadas por Washington.

O compromisso americano com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) também se enfraqueceria?

Se Joe Biden for eleito presidente, a tensão entre Washington e Pequim poderia ser diminuída, mas a rivalidade fundamental permaneceria.

O mundo está se realinhando, e a questão agora é como a velha ordem multilateral vai se adaptar e quem vai liderá-la.

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