O mundo está entrando em uma nova Guerra Fria?
As tensões entre os EUA e a China ficaram evidentes pelos discursos de Trump e Xi Jinping na Assembleia Geral da ONU em Nova York.
O Organização das Nações Unidas (ONU) está comemorando seu 75º aniversário justo em um momento em que a ordem global pós-2ª Guerra Mundial que possibilitou sua criação está instável.
Como observou o ex-secretário-geral da ONU Ban Ki Moon, o multilateralismo está em sério perigo.
A política externa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez os Estados Unidos desprezarem desde as convenções multilaterais do Acordo de Paris até o acordo nuclear com o Irã.
Enquanto isso, a China se posiciona visivelmente como o novo apoiador das Nações Unidas. Mas a crescente influência chinesa tem um preço.
Se Pequim está dedicando mais dinheiro para financiar agências da ONU como a Organização Mundial de Saúde (OMS), vai querer mais voz como resultado.
As ansiedade sobre o que a rivalidade Estados Unidos-China significa para a estabilidade global foram abundantes na Assembleia Geral da ONU nesta semana.
O presidente francês Emmanuel Macron não disfarçou a urgência em seu tom de voz ao dizer que o mundo de hoje não pode ficar refém da rivalidade entre a chineses e americanos.
Essa rivalidade, que tem feito os dois países se confrontarem em tudo — do comércio à tecnologia — está se tornando cada vez mais acirrada.
E o presidente Trump elevou ainda mais o tom de crítica de sua retórica, usando sua plataforma no cenário mundial para criticar o que chamou de "vírus da China".
Com menos de 40 dias para a eleição nos Estados Unidos, a crítica a Pequim é parte fundamental da campanha eleitoral de Trump.
Há um esforço de sua campanha para se desviar das críticas sobre a forma como o presidente lidou com a pandemia criticando a China por "exportar o vírus".
Um mundo bipolar no qual os Estados Unidos e a China disputam a supremacia levaria a um conflito militar?
'Estamos avançando em uma direção perigosa'
É evidente que o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, está preocupado com o que vem pela frente, ao alertar para a possibilidade de outra "Guerra Fria". "Estamos avançando em uma direção muito perigosa", disse.
"Nosso mundo não pode permitir um futuro em que as duas maiores economias dividam o globo — cada uma com suas próprias regras comerciais e financeiras e capacidades de internet e inteligência artificial", declarou.
"Uma divisão tecnológica e econômica corre o risco de se transformar inevitavelmente em uma divisão geoestratégica e militar. Devemos evitar isso a todo custo."
Essa discussão aberta sobre as consequências de uma "grande divisão" mostra como o mundo está mudando rapidamente e como os diplomatas estão lutando para acompanhá-lo.
O presidente da China, Xi Jinping, declarou no debate geral virtual que "a China não tem intenção de travar uma Guerra Fria com nenhum país". Essa declaração foi reveladora.
A presidência de Donald Trump intensificou as tensões com a China, a tal ponto que as especulações sobre aonde tudo isso leva são abundantes.
Um experiente diplomata disse à BBC na terça-feira que o debate na ONU sempre foi visto como um "caos criativo".
Quando os líderes mundiais se reuniam de boa vontade e se encontravam em reuniões privadas, a verdadeira diplomacia era feita.
Agora é apenas o caos, disse este veterano com tristeza, perguntando retoricamente quem está no comando e qual líder mundial defende algo além de seu interesse próprio.
Injustiças e solidariedade
A pandemia evidenciou as injustiças do mundo, observou o secretário-geral da ONU.
As pessoas estão sofrendo e nosso planeta está queimando, disse ele, implorando aos líderes mundiais que vejam a covid-19 como um alerta e um ensaio geral para os desafios que virão no futuro.
Mesmo assim, uma hora depois de Guterres dizer que solidariedade é do interesse de todos para o futuro, Trump declarou que todos os líderes mundiais deveriam seguir seu exemplo e colocar seus países em primeiro lugar.
Se ele for reeleito, seu unilateralismo se tornará mais pronunciado, e as Nações Unidas provavelmente serão ainda mais marginalizadas por Washington.
O compromisso americano com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) também se enfraqueceria?
Se Joe Biden for eleito presidente, a tensão entre Washington e Pequim poderia ser diminuída, mas a rivalidade fundamental permaneceria.
O mundo está se realinhando, e a questão agora é como a velha ordem multilateral vai se adaptar e quem vai liderá-la.