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O povoado que foi evacuado por engano e se tornou cidade-fantasma na Espanha

Na década de 1960, governo espanhol ordenou evacuação de cidade histórica por temor de inundação prevista devido a novo reservatório. Mas isso nunca aconteceu.

22 ago 2022 - 07h18
(atualizado às 15h25)
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Granadilla é uma cidade fantasma
Granadilla é uma cidade fantasma
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A cidade medieval de Granadilla é uma cidade-fantasma.

Turistas podem podem visitar as casas vazias, caminhar pelas ruas muradas e ver a cidade do alto do castelo. Mas ninguém mora lá — desde que todos os moradores foram removidos na década de 1960.

Fundada por muçulmanos no século 9, Granadilla, localizada na província de Cáceres, no oeste de Espanha e na fronteira com Portugal, ocupava uma localização estratégica e permitia aos seus ocupantes vigiar a Ruta de la Plata, uma antiga rota de comércio e viagens que atravessava, de norte a sul, parte do que são hoje as regiões de Andaluzia, Extremadura, Castilla y León e Astúrias.

Ao longo dos anos, o domínio da cidade mudou de mãos, e hoje é uma das poucas cidades-fortaleza espanholas onde as antigas muralhas ainda estão intactas. Mas a comunidade que lá viveu até bem depois da metade do século 20 não existe mais.

A derrocada de Granadilla começou na década de 1950, durante a ditadura do general Francisco Franco (1936-1975), quando a Espanha embarcou em um grande projeto de construção de barragens como forma de impulsionar a economia durante o período de isolamento internacional.

Um desses esforços foi o reservatório Gabriel y Galán, no rio Alagón. Em 1955, as autoridades decretaram que Granadilla estava na planície que ia ser inundada pela obra e, portanto, teve de ser evacuada.

Mudança forçada

Ao longo de 10 anos, de 1959 a 1969, os mil moradores foram despejados à força, muitos deles realocados para assentamentos de colonização próximos à cidade.

Embora as águas do reservatório Gabriel y Galán nunca tenham coberto a cidade, as autoridades espanholas não permitiram o retorno de seus antigos ocupantes
Embora as águas do reservatório Gabriel y Galán nunca tenham coberto a cidade, as autoridades espanholas não permitiram o retorno de seus antigos ocupantes
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Quando a água começou a subir em 1963, cobriu todas as vias de acesso à cidade, exceto uma, transformando-a em uma península. Mas a cidade em si nunca foi inundada. No entanto, os moradores não foram autorizados a retornar.

A experiência foi traumática para eles, muitos dos quais ainda se sentem frustrados. "Foi uma piada", diz Eugenio Jiménez, presidente da Associação Filhos de Granadilla.

"Eles nos expulsaram alegando que a barragem ia inundar a cidade, o que era impossível, porque a cidade é mais alta que a barragem. Mas era época de ditadura e não tínhamos direitos. Mas o que realmente me frustra é que, em tempos democráticos, tenho lutado pela recuperação de Granadilla com a antiga associação e nenhum governo nos ouviu", lamentou.

Purificación Jiménez, ex-residente, também relembrou a dificuldade daqueles anos. "Lembro que toda vez que uma família saía da cidade, todos saíam de casa para se despedir e chorar", disse ele.

Ainda hoje, os antigos moradores da cidade não podem recuperar suas casas, porque o governo mantém o decreto de inundação assinado por Franco. No entanto, o local pode ser visitado.

A cidade foi designada Sítio Histórico-Artístico em 1980 e agora funciona como um museu gratuito ao ar livre.

Quanto aos habitantes, eles e seus descendentes se reúnem duas vezes por ano em Granadilla, no Dia de Todos os Santos (1º de novembro) e no dia da Assunção de Maria (15 de agosto).

- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62627833

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