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O que Donald Trump pode fazer após deixar a Casa Branca

Entre as várias opções que tem pela frente, estão a de faturar no circuito de palestras, relançar a carreira na mídia, resgatar seu império empresarial, se aposentar em um de seus resorts de golfe ou mesmo preparar sua candidatura para 2024.

11 nov 2020 - 07h41
(atualizado às 07h46)
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Donald Trump permanecerá no cargo até 20 de janeiro de 2021, quando deverá passar a Presidência para seu sucessor, Joe Biden, e entra para o exclusivo clube de ex-presidentes americanos. O que acontecerá dali em diante com o político e megaempresário?

Há sempre o lucrativo circuito de palestras, a chance de escrever um livro de memórias ou de planejar uma biblioteca presidencial.

Jimmy Carter se envolveu em causas humanitárias; George W. Bush passou a pintar. Mas Trump nunca foi um político tradicional.

"Donald Trump quebrou diversas normas como presidente", afirma Tim Calkins, professor de marketing da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos.

"Não há razão para pensar que Donald Trump agirá como qualquer outro ex-presidente que tenhamos visto."

Eis aqui algumas possibilidades.

Ele pode concorrer de novo

A derrota para Biden em 2020 pode não ser o fim da linha para as ambições políticas de Trump — ele pode dar uma de Groover Cleveland e concorrer a um segundo mandato presidencial.

Cleveland é o único presidente a deixar a Casa Branca e retornar quatro anos depois; ele assumiu o cargo em 1885 e novamente em 1893.

A Constituição americana diz que "nenhuma pessoa será eleita para o cargo de presidente mais de duas vezes", mas não há nada sobre os mandatos precisarem ser consecutivos.

Ex-assessores indicam que Trump pode tentar fazer exatamente isso.

"Eu certamente o colocaria na lista de candidatos que provavelmente concorrerão em 2024", disse recentemente o ex-chefe de gabinete, Mick Mulvaney.

Trump adora comícios de campanha e recebeu 71,5 milhões de votos na eleição, um montante recorde para um candidato derrotado que demonstra claramente que ele tem uma base significativa de apoio na sociedade americana.

"Ele deixará a Presidência com uma marca, em alguns aspectos, tão poderosa quanto era quando assumiu a Presidência", diz Calkins.

Há também especulações de que o filho mais velho do presidente, Donald Trump Jr., está interessado em concorrer ao cargo de presidente, e o pai não fez nenhum movimento para conter as conjecturas. O mesmo se fala sobre a filha Ivanka.

Resgatar seu império empresarial

Antes de ser político, Trump era um magnata do mercado imobiliário, um astro de reality shows e embaixador de sua própria marca, usando seu nome para lucrativos contratos de licenciamento.

Ele pode estar ansioso para retomar no ponto em que parou há quatro anos e voltar ao mundo dos negócios.

Em reportagem, o jornal americano The New York Times afirmou que Trump tem mais de US$ 400 milhões (cerca de R$ 2,2 bilhões) em empréstimos com vencimento nos próximos anos — embora ele tenha dito que isso representa "uma pequena parcela" de seu patrimônio líquido.

A Organização Trump possui vários hotéis e campos de golfe.

Um dos diversos empreendimentos que leva o sobrenome da família Trump
Um dos diversos empreendimentos que leva o sobrenome da família Trump
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Há propriedades da marca Trump em Mumbai, Istambul e nas Filipinas — e, claro, Washington, DC — e campos de golfe nos EUA, no Reino Unido, em Dubai e na Indonésia.

Mas se esse for o caminho que o presidente escolher em janeiro, ele terá muito trabalho pela frente.

Muitos de seus empreendimentos estão na indústria de viagens e lazer, que foi gravemente afetada pela pandemia do coronavírus.

Segundo a revista americana Forbes, sua fortuna pode ter sofrido um abalo de até US $ 1 bilhão devido às restrições com a covid-19.

Com base em duas décadas de declarações fiscais, o New York Times também relatou "perdas crônicas e anos de evasão fiscal", dizendo que não ele pagou imposto de renda algum em 10 dos últimos 15 anos, "principalmente porque relatou ter perdido muito mais dinheiro do que ganhou".

Tanto a Organização Trump quanto o presidente classificaram a reportagem como imprecisa.

Para Calkins, da Universidade Northwestern, o presidente provou repetidamente que tem uma capacidade incrível de manter sua marca "em voga" e ela permanece forte — mas não inalterada — pela Presidência.

"Ele se tornou muito mais polarizador e bastante diferente do que era, o que de certa forma torna menos atraente como marca comercial", diz Calkins.

"Agora, se você vai se casar em um hotel Trump, isso é realmente uma declaração (política), e não era o caso antes da Presidência."

A marca da primeira filha, Ivanka Trump, enfrentou boicotes e foi abandonada por alguns grandes varejistas quando ela assumiu seu cargo de assessora sênior na Casa Branca.

Outros dois filhos, Eric e Donald Jr., ficaram à frente da Organização Trump, a empresa guarda-chuva das centenas de investimentos de Trump em imóveis, marcas e outros negócios, durante a Presidência, mas também estão profundamente envolvidos na carreira política do pai.

"Uma das coisas em que todos estão pensando é: 'Qual é o melhor caminho a seguir [para a família]?'", diz Calkins.

Tornar-se um magnata da mídia

O presidente Trump era uma figura bem-sucedida da mídia antes de se tornar presidente, com o sucesso do reality show O Aprendiz.

Então há bastante especulação, desde sua vitória na eleição em 2016, de que as ambições de Trump envolvem atuar na mídia jornalística, tanto lançando sua própria emissora quanto se associando a uma rede conservadora já estabelecida.

"Com certeza ele tem um grande potencial de audiência", afirma Henry Schafer, vice-presidente executivo da Q Scores Company.

Para ele, Trump foi bem sucedido ao construir sua marca pessoal como uma personalidade "ame-o ou odeie-o", como as Kardashians ou o radialista Howard Stern.

Schafer estima que Trump se volte "para o que funciona melhor para ele: a polêmica. "Ele prospera na controvérsia, ele usa a controvérsia a seu favor, este é seu modus operandi."

Possíveis parcerias apontam para redes de televisão a cabo como a One American News Network (Oann) ou a Newsmax.

A Oann é a favorita do presidente e vice-versa, e Trump já foi descrito como "parte líder, parte musa" do canal em reportagem da revista americana The Atlantic.

Christopher Ruddy, CEO da Newsmax, um canal de TV conservador, já foi apelidado de "confidente de Trump" pelo jornal americano Washington Post.

A movimentação no mercado de mídia ou entretenimento pode envolver outras frentes.

Presidentes costumam assinar contratos milionários de livros, com Barack e Michelle Obama fechando um acordo conjunto recorde de US$ 65 milhões, embora esse patamar seja raro. Estima-se que George W. Bush tenha recebido um adiantamento de US$ 10 milhões por suas memórias.

O casal Obama também assinou um contrato multimilionário de produção com a Netflix, e ambos os Clinton têm contratos para podcasts.

Aposentadoria pós-presidencial

Após deixar o cargo, Trump contará ainda com uma aposentadoria presidencial, e muitos outros benefícios.

A Lei dos Ex-Presidentes, promulgada em 1958 para "manter a dignidade" do cargo, oferece benefícios incluindo uma aposentadoria anual que chegou a US$ 208 mil em 2017 (cerca de R$ 1,1 milhão).

Ex-presidentes americanos também têm direito à proteção vitalícia do Serviço Secreto, benefícios de saúde e despesas com viagens e funcionários.

Trump, agora com 74 anos, poderia também decidir se aposentar em silêncio.

Poderia passar seus dias envolvido em atividades filantrópicas, aumentar seu saldo bancário no circuito de palestras e planejar sua biblioteca presidencial, com documentos e peças de um presidente e sua administração, geralmente em seu Estado natal.

Além disso, poderia preencher qualquer tempo livre relaxando e jogando golfe na Flórida, em Mar-a-Lago, seu retiro em Palm Beach.

Mas Calkins, da Universidade Northwestern, não vê a vida tranquila como algo possível para um homem que passou tanto tempo sob os holofotes.

"Donald Trump, como personalidade, provavelmente não irá desaparecer e acho que continuaremos a ver a marca Trump no mundo."

Em outubro, Trump chegou a especular que, se perdesse a eleição, se sentiria tão mal que "talvez eu tenha que deixar o país, não sei".

A ver.

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