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O que é cloropicrina, arma química da 1ª Guerra que Rússia é acusada de usar na Ucrânia

Se as denúncias forem confirmadas, a Rússia estaria violando leis internacionais.

3 mai 2024 - 10h15
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A cloropicrina causa irritação nos pulmões, nos olhos e na pele — e pode provocar vômito, náusea e diarreia
A cloropicrina causa irritação nos pulmões, nos olhos e na pele — e pode provocar vômito, náusea e diarreia
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Os Estados Unidos acusaram a Rússia de usar armas químicas como "método de guerra" na Ucrânia, violando as leis internacionais que proíbem sua utilização.

Autoridades do Departamento de Estado americano disseram que a Rússia usou o agente asfixiante cloropicrina para obter "vitórias no campo de batalha" sobre a Ucrânia.

A alegação, que as autoridades americanas afirmam não ser um incidente "isolado", violaria a Convenção sobre Armas Químicas (CWC, na sigla em inglês), que a Rússia assinou.

O Kremlin rejeitou as acusações, chamando-as de "infundadas".

Seu porta-voz, Dmitry Peskov, disse a jornalistas em Moscou que a Rússia cumpre seus compromissos com base na CWC, que proíbe os Estados de desenvolver ou adquirir novas armas.

Cerca de 193 países assinaram a convenção.

O que é a cloropicrina

A Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ), um órgão de fiscalização global que supervisiona a implementação da CWC, afirma que uma arma química é uma substância usada para causar morte ou dano intencional por meio de suas propriedades tóxicas.

Os EUA dizem que a Rússia utilizou a cloropicrina para "expulsar as forças ucranianas de posições fortificadas".

Esta substância oleosa foi amplamente utilizada durante a Primeira Guerra Mundial.

Ela causa irritação nos pulmões, nos olhos e na pele, e pode provocar vômito, náusea e diarreia, de acordo com os Centros de Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos EUA.

O uso desta substância química na guerra é expressamente proibido pela CWC — ela é classificada como um agente asfixiante pela OPAQ.

O presidente americano, Joe Biden, já havia advertido a Rússia contra o uso de armas químicas na Ucrânia.

Em março de 2022, semanas depois de Moscou lançar sua invasão, Biden prometeu que o presidente russo, Vladimir Putin, pagaria um "preço alto" se autorizasse o uso de armas químicas.

"Nós responderíamos se ele usasse. A natureza da resposta dependeria da natureza do uso", declarou Biden, na ocasião.

Mas há relatos consistentes de que Moscou ignorou este aviso.

A secretária adjunta para Controle de Armas dos EUA, Mallory Stewart, disse anteriormente que a Rússia estava usando agentes de controle de distúrbios (gás lacrimogênio) no conflito.

E a Ucrânia afirma que suas tropas têm enfrentado cada vez mais ataques químicos nos últimos meses.

A agência de notícias Reuters informou no início deste ano que as forças russas haviam usado granadas carregadas com gases lacrimogêneos CS e CN.

A reportagem acrescentava que pelo menos 500 soldados ucranianos haviam sido atendidos por exposição a gases tóxicos — e que um morreu após ser asfixiado com gás lacrimogêneo.

Três organismos russos ligados ao programa de armas biológicas e químicas do país foram sancionados pelo Departamento de Estado por seus vínculos com a produção de agentes químicos.

Outras empresas que contribuíram com as entidades governamentais também foram sancionadas.

A Rússia também é acusada de usar gás lacrimogêneo no campo de batalha
A Rússia também é acusada de usar gás lacrimogêneo no campo de batalha
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Em 2017, a OPAQ disse que a Rússia havia destruído o que restava do seu arsenal de armas da era da Guerra Fria, conforme exigido pela CWC.

Mas, desde então, Moscou tem sido acusada de dar declarações incompletas sobre seu estoque, de acordo com a Biblioteca da Câmara dos Comuns (a câmara baixa do Parlamento) do Reino Unido.

Desde 2017, a Rússia foi acusada de pelo menos dois ataques químicos: o ataque em 2018 a um ex-espião soviético na cidade britânica de Salisbury; e o envenenamento em 2020 do falecido líder da oposição russa Alexei Navalny.

As acusações fazem parte de um pacote mais amplo de sanções dos EUA que têm como alvo 30 indivíduos, incluindo três pessoas que as autoridades dizem estar envolvidas na morte de Navalny. São todos funcionários da colônia penal siberiana onde o ativista da oposição morreu no início deste ano.

A Rússia nega envolvimento na morte de Navalny. A viúva do ativista acusou o presidente Putin de ser responsável por sua morte.

Enquanto isso, as forças russas continuam avançando no leste da Ucrânia, antes das celebrações do Dia da Vitória, em 9 de maio, quando é comemorada a vitória soviética na Segunda Guerra Mundial.

Acredita-se que Moscou queira tomar a cidade ucraniana de Chasiv Yar antes da comemoração do Dia da Vitória, em 9 de maio
Acredita-se que Moscou queira tomar a cidade ucraniana de Chasiv Yar antes da comemoração do Dia da Vitória, em 9 de maio
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Grande parte dos combates tem acontecido em torno de Chasiv Yar, reduto controlado por Kiev que a Rússia tem tentado alcançar, depois de tomar a cidade de Avdiivka.

Acredita-se que Moscou queira tomar a cidade antes das celebrações da próxima semana.

Tudo isso acontece no momento em que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, demitiu o chefe do departamento de segurança cibernética do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU, na sigla em inglês), Illya Vityuk, em meio a denúncias de que ele tentou usar seu cargo para punir um jornalista ucraniano que havia publicado acusações de corrupção contra ele.

Na sequência, o jornalista foi convocado para um centro de recrutamento militar, o que levou o chefe do Exército, Oleksandr Syrskyi, a abrir uma investigação.

Ao mesmo tempo, a ONG Human Rights Watch solicitou uma investigação sobre crimes de guerra após descobrir evidências de que as forças russas executaram mais de uma dúzia de soldados ucranianos que se renderam.

Os incidentes ocorreram supostamente entre dezembro de 2023 e fevereiro de 2024, informou o órgão em comunicado.

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