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O que está por trás da pior onda de violência na capital da Índia em décadas

Desde o fim de semana, pelo menos 23 pessoas morreram na capital indiana, Déli, enquanto o número de feridos é superior a 200. Os protestos contra uma nova e controversa lei de cidadania se tornaram violentos, com relatos de casas e lojas muçulmanas sendo alvo de ataques.

26 fev 2020 - 17h57
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Veículos foram incendiados durante confrontos na capital da Índia
Veículos foram incendiados durante confrontos na capital da Índia
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Uma onda de violência que se espalhou pela Índia nos últimos dias tem sido descrita como a mais grave em décadas no país. Pelo menos 23 pessoas foram mortas até agora apenas na capital, Nova Déli.

Os confrontos começaram no domingo (23/02) entre manifestantes a favor e contra uma nova e controversa lei de cidadania.

A chamada Lei de Emenda à Cidadania permite que pessoas de Bangladesh, Paquistão e Afeganistão que entraram na Índia ilegalmente se tornem cidadãs do país — mas apenas aquelas que não forem muçulmanas.

O governo, liderado pelo nacionalista hindu Partido do Povo Indiano, afirma que a nova regra dará refúgio às pessoas que fogem da perseguição religiosa.

Já os críticos dizem que o projeto faz parte da agenda do partido para marginalizar muçulmanos.

A lei provocou protestos em massa desde que foi aprovada, no ano passado — algumas das manifestações já haviam terminado em confronto.

Mas as manifestações em Nova Déli vinham sendo pacíficas, até que a violência explodiu no domingo.

Polícia e manifestantes travaram batalhas campais nas ruas de Nova Déli
Polícia e manifestantes travaram batalhas campais nas ruas de Nova Déli
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Quando os protestos começaram?

A violência começou em três áreas de maioria muçulmana no nordeste de Nova Déli, a cerca de 18 km do centro da capital.

Um grupo que apoiava a lei começou a trocar pedradas com manifestantes contrários a ela.

Esse primeiro grupo tem sido vinculado a Kapil Mishra, um dos líderes do Partido do Povo Indiano, que havia ameaçado um grupo de pessoas que protestaram contra a lei, no fim de semana. O político disse que os manifestantes "seriam despejados" à força quando o presidente americano, Donald Trump, encerrasse sua visita à Índia.

O presidente dos Estados Unidos fez sua primeira visita oficial ao país entre os dias 24 e 26 de fevereiro.

O que está acontecendo agora?

Embora novos confrontos não tenham sido relatados na capital nesta quarta-feira, a cidade continua tensa após a terceira noite consecutiva de tumultos.

E a violência não ocorre apenas por causa da nova lei de cidadania. Ela ganhou outra dimensão e se espalhou para alguns bairros distantes do centro, com relatos de pessoas sendo atacadas por causa de sua religião.

Pelo menos duas mesquitas foram vandalizadas nos confrontos
Pelo menos duas mesquitas foram vandalizadas nos confrontos
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Há relatos de incêndios criminosos e de grupos de homens armados com paus, barras de ferro e pedras vagando pelas ruas — também há casos de confrontos entre hindus e muçulmanos.

As principais avenidas desses bairros estão em ruínas, segundo repórteres da BBC que estão no local. "As ruas estão cheias de pedras e vidro, veículos quebrados e queimados estão espalhados, e o cheiro de fumaça de prédios em chamas toma o ar", afirma Faisal Mohammed, jornalista da BBC News Hindi.

Mesquitas vandalizadas

Também houve relatos de vandalismo contra casas e lojas pertencentes a muçulmanos.

O repórter Faisal Mohammed relatou ter visto uma mesquita parcialmente queimada, com páginas do Alcorão espalhadas pelo chão.

Outra mesquita foi vandalizada na tarde de terça-feira. Imagens amplamente compartilhadas mostraram homens tentando arrancar o topo de um minarete (torre de uma mesquita).

A julgar pelos nomes das vítimas divulgadas até agora, elas incluem hindus e muçulmanos. Quase 200 pessoas ficaram feridas.

Repórteres da BBC visitaram hospitais e dizem ter visto pessoas com todos os tipos de lesões, incluindo ferimentos a bala. Segundo os jornalistas, um dos hospitais parecia "sobrecarregado", e muitos dos feridos estavam "com muito medo de voltar para casa".

Nos confrontos, manifestantes se dividiram entre linhas religiosas
Nos confrontos, manifestantes se dividiram entre linhas religiosas
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O que as autoridades estão fazendo?

O porta-voz da polícia de Nova Déli disse na terça-feira que a situação estava "sob controle" e que havia "número suficiente de policiais" atuando nas ruas. Forças paramilitares também foram destacadas para conter os confrontos.

Mas a polícia foi acusada de estar mal preparada e em menor número. Mais de 50 policiais também foram feridos e pelo menos um foi morto — um agente chamado Ratan Lal.

A força policial da capital se reporta diretamente ao governo do Partido do Povo Indiano, e não à administração regional.

Escolas foram fechadas e há restrições à reunião pública em várias áreas.

"É importante que haja calma e que a normalidade seja restaurada o mais cedo possível", tuitou o primeiro-ministro, Narendra Modi, na quarta-feira.

Desde que Modi chegou ao poder, em 2014, o nacionalismo hindu de direita ganhou força na Índia. O primeiro-ministro fez do discurso nacionalista a pedra angular de sua campanha à reeleição em 2019.

O momento atual de agitação está sendo visto como um momento de vergonha para ele, pois o país estava recebendo Trump pela primeira vez quando os conflitos começaram.

A violência acabou ofuscando a visita do presidente americano.

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